Quando foi a Londres disputar as Olimpíadas, a pequena Sarah Menezes viajou com um sonho imenso na bagagem. Provando que tamanho não é documento, a judoca conquistou o primeiro ouro olímpico da história do judô feminino do Brasil e resolveu agradecer a vitória da mesma forma como ela alcançou: com o esporte. O Centro de Treinamento Sarah Menezes encabeça o projeto Superação, uma atividade sem fins lucrativos que procura estimular crianças através da prática do judô.
?Sentimos a necessidade de retribuir todo o apoio que tivemos ao longo destes anos e encontramos nas crianças a força de vontade para alcançarmos os nossos objetivos. Elas têm garra, comprometimento e uma estrada cheia de realizações pela frente. O próximo medalhista olímpico pode estar entre essas crianças?, brinca a judoca Sarah.
O Superação atende cerca de 50 crianças com idade entre 7 e 12 anos de várias regiões da cidade que estudam na rede pública de ensino, vivem em situação de risco e tiram boas notas na escola. Após a seleção é feito um trabalho de análise e melhoramento dos alunos. Curiosamente, os mais complicados têm preferência no projeto.
O treinador Expedito Falcão explica o porquê. ?A prática do judô é baseada em disciplina. O esporte constrói o caráter e trás uma série de benefícios de âmbito pessoal e profissional na vida de quem pratica. Além de divulgar a importância da prática desportiva, nossa intenção é que o projeto sirva para mudar a vida deles. As crianças são o futuro da nação e não podemos deixar que elas se percam na criminalidade?.
Expedito frisa que a iniciativa também visa transformar o judô no esporte número um do Piauí e as portas do centro estão abertas para todas as crianças carentes que queiram praticar o esporte. ?Mas o judô ainda é um esporte caro, você precisa de uniforme especial e um ambiente para treinar. Por isso trabalhamos com um sistema onde empresas e pessoas que apoiam o esporte adotem um judoquinha e se comprometam a financiar o futuro deles?, diz.
Apesar dos contratempos, o técnico sente que o projeto é um sucesso. O Superação começou com poucos judocas e com a vitória olímpica de Sarah, o número multiplicou. Exemplo de determinação, Sarah pede que eles nunca desistam de seus sonhos. ?Acreditem sempre no potencial de vocês. Sonhos são importantes, eles nos dão algo pelo que lutar. Vocês são capazes e podem alcançar grandes conquistas?, enchendo de esperança o coração de seus pupilos.
Pequenos sonham em seguir os passos de Sarah
A conquista olímpica de Sarah resgata a esperança das crianças carentes que até então não possuíam perspectivas de um futuro brilhante. A vitória através do esporte estimula os pequenos a seguirem os passos da atleta. Eles treinam com afinco para quem sabe um dia alcançarem o sucesso de Sarah.
No alto de seus 12 anos, o garoto Fellype Denilson está decidido a disputar torneios e conquistar muitas medalhas em sua carreira esportiva. Para ele é um sonho poder treinar no mesmo ambiente que Sarah, a grande ídola dele.
?Estou gostando demais de estar aqui. Os treinadores exigem muita disciplina e o treino é pesado, mas darei tudo de mim para virar um medalhista?, confirma.
Para Silvana Mariana, de apenas 10 anos, a melhor parte do treino é poder derrubar a pessoas no tatame. ?A gente treina duas vezes por semana e eu acho pouco. Quero ser igual a Sarah, viajar muito pelo mundo e ganhar várias medalhas?, fala a pequena, que também teve a vida transformada após frequentar as aulas de judô.
Famílias apoiam em peso as atividades do centro
A prática de esporte não é apenas um desejo dos pequenos, que sonham em conquistar medalhas olímpicas. A família das crianças comprou a ideia desde o primeiro momento e não poderia estar mais feliz com os resultados conquistados pelos mini atletas. É o caso da mãe Adriana Cilene Ferreira, que enxerga no projeto Superação uma oportunidade muito boa para a valorização do esporte.
Residente do Bairro Angelim, Adriana viu o desempenho escolar da filha de 11 anos melhorar. Ela conta que a garota está mais disciplinada e as notas melhoraram sensivelmente. "Depois do ouro de Sarah as pessoas reconquistaram a esperança de que força de vontade e muita dedicação são determinantes para alcançar um sonho.
Com as crianças não é diferente, elas querem ser como a Sarah e lutam duro para se destacar no judô. Sou muito grata ao projeto", revela a mãe.
A avó Antônia Bastos da Silva compartilha da mesma opinião. O neto Cauã Farias, de apenas 9 anos, era tímido e sentia dificuldades para fazer novos amigos. Após frequentar as aulas, o garoto perdeu a timidez e está cada vez mais solto. "O esporte ajudou meu neto a construir uma autoconfiança que nem eu sabia que ele tinha. O projeto Superação é muito gratificante, me sinto orgulhosa de fazer parte disso", afirma.
Prática do esporte faz bem para corpo e espírito
Qualquer atividade física é benéfica para o corpo, principalmente das crianças. O judô desenvolve uma série de características positivas para o corpo humano, como melhoramento da circulação sanguínea, da resistência física e rapidez nos reflexos.
A possibilidade de aprender novos movimentos melhora o domínio corporal e tem uma influência direta no aprendizado escolar. De acordo com a instrutora Jéssika Santos, as crianças melhoram a autoestima, a autoconfiança e consequentemente o desempenho escolar.
A judoca, que precisou se afastar das competições por causa de lesões, diz que jamais abandonará o judô e encontrou no projeto uma forma de continuar desenvolvendo sua maior paixão. De acordo com ela, só em saber que está ajudando crianças a ganharem medalhas é uma realização profissional para elas.
?É perceptível a melhora das crianças dentro e fora do tatame. Em menos de dois meses elas já estão lutando e mostram gostar do esporte. A empolgação delas é vista na escola, elas melhoram as notas e vão mais felizes para as aulas. Os pais nos agradecem, mas nós que agradecemos a eles pela oportunidade de ensiná-los?, lembra Jéssika.
Campanha ?Adote um judoquinha? é sucesso
Com exatos três meses de vida, o projeto Superação atende 50 crianças carentes, um número que pode até satisfazer algumas entidades, mas que deixa os executores do projeto sedentos por mais. A meta do grupo é conquistar 100 alunos somente este ano e se tudo der certo, atender 200 crianças até 2013.
Para isso o Centro trabalha com o sistema ?Adote um judoquinha?. Incentivadores individuais e grandes empresas podem patrocinar os custos de cada criança pagando uma mensalidade de R$ 50,00. Expedito lembra que é preciso se comprometer com o desenvolvimento dos miniatletas e por isso fecha parcerias de no mínimo dois anos. Para o treinador, a campanha é um sucesso. Os números de patrocinadores têm crescido e grandes empresas procuram o centro. ?Fechamos recentemente um contrato com o governo do estado e isso é apenas o começo?, fala com empolgação.
?Um comprometimento a longo prazo é o melhor a ser feito, pois toda a parte técnica e psicológica dos nossos miniatletas pode ser desenvolvida com propriedade. De nada adianta investir em uma criança se o benefício para de vir. É preciso levar a ajuda a sério, assim como levamos a prática do esporte?, esclarece.
Enquanto a prática de futebol é incentivada pelo governo, o objetivo de Sarah e Expedito é transformar o judô no esporte mais praticado do estado. Para isso eles construíram uma estrutura com as próprias mãos e desejam massificar o esporte para que os mais jovens também sonhem em seguir os passos da única medalhista olímpica da história do Piauí.