Quem vê Jaqueline jogando em alto nível, como nas sonoras vitórias sobre os fortes Estados Unidos e Rússia no fim de semana, não imagina ou às vezes até esquece que a ponteira ficou um ano sem jogar uma partida de vôlei. O consistente desempenho da atleta de 30 anos de idade que se afastou das quadras para realizar o sonho de ser mãe surpreendeu até o técnico da seleção brasileira, José Roberto Guimarães, que convocou a bicampeã olímpica mesmo sabendo que ela estava sem clube e, portanto, realizando apenas trabalhos em uma academia de ginástica para estar em boa forma física. A
progenitora do menino Arthur, além de estar se destacando bastante no passe e na defesa, já soma 62 pontos marcados em seis partidas nesta edição do Grand Prix, só ficando atrás da oposta Fernanda Garay (70) e da central Thaisa (66) na seleção brasileira. - A Jaque me surpreendeu, foi uma grata surpresa, uma aposta acertada. Está todo mundo muito surpreso, porque ela atingiu uma performance muito boa em pouco tempo, mesmo voltando de uma gravidez e com pouco tempo de treinamento. Mas ela é uma jogadora que sempre se cuidou. Ela não bebe, não fuma e tem uma vida muito regrada, é magra. A volta dela ao alto nível foi muito mais rápida do que imaginávamos - disse Zé Roberto.
Uma das jogadoras mais vibrantes na etapa brasileira do Grand Prix, que acabou no domingo, no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, Jaqueline não esconder o brilho no seu olhar ao falar da boa fase que vive nesta sua retomada da carreira. - Não foi nada fácil voltar a jogar depois de tanto tempo parada, depois de uma gravidez. E esses jogos em São Paulo foram muito importantes para mim. Eu adoro jogar no Brasil. O povo brasileiro tem um carinho muito grande por mim e posso sentir isso sempre. No primeiro dia, eu entrei sozinha na quadra e as pessoas vibraram muito, isso me fez muito bem e me ajudou a tentar fazer o meu melhor aqui.
Estou muito feliz de saber que eu estou ajudando na defesa, no passe e no ataque - afirmou Jaque.Concentrada com a seleção brasileira há dois meses, Jaqueline se dedica aos treinamentos e jogos, mas sempre precisa parar para pensar no seu futuro. A busca por um clube para defender na próxima temporada segue complicada. Como acabou de virar mãe e Murilo tem mais um ano de contrato com o Sesi-SP, Jaque não quer jogar fora do Brasil. Acertar com algum time brasileiro é difícil, pois esbarra na polêmica questão do ranqueamento da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV).
Apesar de ter ficado um ano sem jogar, a ponteira continuou com pontuação máxima no ranking criado há alguns anos para equilibrar os times na Superliga. O problema é que as agremiações que já não contam com o limite de duas jogadoras com pontuação máxima (sete pontos), não tem como bancar o salário que recebe uma atleta do quilate de Jaque.- A minha situação continua muito complicada. Eu tento não ficar pensando muito nisso, mas sempre me perguntam a respeito e isso envolve o meu futuro. Eu espero que tudo acabe dando certo.
Vamos ver o que vai acontecer até depois do Mundial. Enquanto isso, eu fico tentando fazer o meu melhor pela seleção - comentou ela. Indagado sobre o assunto, José Roberto Guimarães disse estar preocupado com o futuro de uma das suas comandadas preferidas: - A CBV está tentando. Eu sei que tem gente se mobilizando para ver se ela tem a possibilidade de jogar por algum clube. Eu sou contra o ranqueamento que foi feito pelos clubes. Eu acho que ele se deturpou ao longo do anos e chegou nisso. Quem está pagando o preço é a Jaqueline. Mas ainda vamos tentar ajudar.