Psicólogo defende Jô: “prazer do gol leva a outro estado”

O atacante Jô, do Corinthians, marcou um gol com o braço

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Embora tenha atuação de décadas no futebol como gestor, Paulo Angioni é psicólogo formado pela Universidade Gama Filho, no Rio, e tem em seu currículo serviços prestados ao Corinthians, Vasco, Flamengo, Fluminense, Bahia e Seleção Brasileira. Ao longo de sua trajetória, agiu muitas vezes como conselheiro de jogadores. Seu perfil de conciliador ajudou na tarefa. Entrevistado, para abordar os motivos e desdobramento do lance polêmico que envolveu o atacante Jô no último fim de semana, em jogo entre Corinthians e Vasco, Angioni saiu em defesa do atleta, com quem já trabalhou.

“Convivi com o em 2004, quando ele foi lançado ao profissional do Corinthians. É dono de um caráter excepcional, um menino do bem, muito bem educado.”

A ressalva de Angioni para tratar do tema, em sua avaliação, exclui um eventual deslize moral do jogador quando, em campo, explicava firmemente para os adversários que não havia tocado o braço na bola – o único gol daquela partida, na Arena Corinthians, pelo Brasileiro, foi assinalado assim, de forma irregular.

Para Angioni, há duas hipóteses mais prováveis para justificar a reação do atacante. Uma delas é a de que realmente não se tenha dado conta, naquela fração de segundo, que usou o braço para o arremate final. “Pode não ter sentido o toque e, além disso, o prazer do gol inebria de uma tal forma que foge à compreensão, deixa o jogador num estado diferente.”

O psicólogo argumenta ainda que o “sistema futebol” impõe condições e situações restritivas, com as quais é muito difícil uma ruptura.

“Jogador não pode falar, não pode chorar, tem que se omitir sobre determinado assunto. É cheio de proibições e ele tem de vez em quando de lidar com um momento de obscuridade, no qual vive uma realidade que não pode ser dita. Nesse sentido, o futebol é opressor. Rejeita a verdade. A verdade não pode ser tão verdadeira.”

Outro caso recente que teve como protagonistas o próprio Jô e o zagueiro Rodrigo Caio, do São Paulo, é algo “ilógico”, segundo Angioni. No clássico paulista, disputado em 16 de abril, o árbitro se enganou e só não expulsou o atacante de campo por que Rodrigo se disse responsável por um choque com o goleiro de seu time. A atitude do são-paulino rendeu elogios até do técnico Tite, da Seleção.

“Claro que foi uma atitude digna de aplausos. Mas, de fato, o que aconteceu? Vários o elogiaram e outros tantos o criticaram. Infelizmente, o futebol ainda não é ambiente para isso, para a autopunição. Os jogadores, a grande maioria deles, sofrem com um sentimento doloroso de não poder dizer a verdade. E não podemos culpá-los por isso.”

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