Professor Seedorf puxa a orelha de menores infratores durante palestra

No Dia do Mestre, craque vai ao Degase para falar de assuntos sérios, mas também comanda pelada: “Podemos influenciar positivamente a vida deles”

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No Dia do Mestre, Seedorf exercitou seu lado didático em uma palestra para aproximadamente 200 adolescentes internos no Degase - Departamento Geral de Ações Sócio Educativas do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Apelidado de Professor quando atuava pelo Milan, o holandês atuou como tal, passando lições de vida, dando aula sobre a crise econômica que assola o mundo - com ênfase na Europa -, e ainda chamou atenção dos garotos quando incomodado pela conversa paralela de alguns.

- Silêncio, por favor. Assim a gente não vai conseguir se entender bem - interveio, no início da palestra.

Outro puxão de orelhas que levou o auditório da Escola João Luiz Alves - uma das unidades do Degase - ao delírio se deu quando Seedorf interrompeu o menino João Vítor.

- Gente, por favor, não vim falar para dois ou três. Ei, você (João Vítor), tá ligado? Tem que ficar ligado. O professor está falando, e você olhando para lá. Tem jogadores que durante a palestra do treinador ficam olhando para outro lado e na hora de irem para o jogo erram tudo. Se não ficar ligado, o trem passa - brincou, rindo e provocando gargalhadas.

Perguntado por Igor, de 17 anos, se já nasceu rico, Seedorf respondeu: "Era muito pobre". E fez uma explanação sobre os problemas econômicos que assolam o mundo.

- Para vocês terem uma noção, quando cheguei ao Ajax, eu usava uma chuteira quatro casas (números) maior que a minha. Havia época em que não se podia comprar nada, nem roupas. Hoje em dia ganho um bom dinheiro, mas não se pode pensar só em dinheiro. É preciso ter motivação por se fazer uma coisa boa, dinheiro não é tudo. Conheço pessoas que moram na Europa, onde tudo é lindo e maravilhoso, e que eram ricas. Hoje elas não têm nada. Lá na Europa está uma crise danada. Conheço gente que tinha muito dinheiro na América e hoje entra em fila para comer (de graça) em Nova Iorque. Por isso, é preciso guardar o dinheiro. Se você virar jogador, guarda o dinheiro, não vá gastá-lo em coisas erradas - recomendou.

No início da palestra, Seedorf ficou surpreso quando perguntou quem queria virar jogador de futebol. Apenas quatro responderam.

- Só vocês três levantaram a mão? (em seguida outro levantou). Não é possível, no Brasil. Que surpresa!

Hoje em dia ganho um bom dinheiro, mas não se pode pensar só em dinheiro. É preciso ter motivação por se fazer uma coisa boa, dinheiro não é tudo."

Seedorf, aos menores infratores

O tempo foi passando, e os jovens se soltaram. Já eram 20, 30, 50 potenciais jogadores e o professor, que já havia dado aulas de Economia e Geografia, passou a lecionar Educação Física.

- Vamos armar um jogo aqui? Quem quer jogar? - convocou.

O meia organizou um campeonato de golzinho - formado com dois assentos - em cima do palco do auditória. A regra era no estilo "rei da mesa". Quem vencesse permanecia em campo. Um gol determinava o vencedor. Várias duplas subiram ao palco. Ao fim do torneio, mais uma lição a um "aluno" firuleiro.

- Você podia ter matado o jogo ali no final. Por que não matou? Porque relaxou, não é? Quero que vocês entendam: quando tiverem uma oportunidade, a agarrem com as duas mãos, pois ela pode não voltar. Você tem talento, mas da próxima vez vê se mata o jogo, valeu? - orientou.

Valeu, aliás, foi um termo que Seedorf usou o tempo inteiro. Um professor legal, boa praça, que abraçou todos os alunos, mas não hesitou quando precisou dar uma bronca. Um belo exemplo no Dia do Mestre.

Terminada a palestra e passado o rebuliço provocado pela presença de um craque internacional, o sub-diretor geral do Degase, Roberto Bassan, anunciou que Seedorf deve se tornar parceiro do órgão, responsável por executar medidas aplicadas a adolescentes em conflitos com a lei. O Degase, aliás, já tem parceria com Zico e o ex-corredor Robson Caetano.

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