Os três gols na atuação de gala de Lucas Moura na vitória do Tottenham sobre o Ajax que classificou a equipe inglesa para a final da Liga dos Campeões não foram suficientes para garantir uma vaga na seleção brasileira para a Copa América. Além da pouca rodagem do atacante na era Tite - apenas 46 minutos sem grande destaque em um amistoso - pesou também a forma como ele era utilizado pelo treinador Mauricio Pochettino, que não encontra eco no sistema do comandante do Brasil.
A ascensão que culminou na atuação de gala diante do Ajax passou por uma mudança fundamental: durante a temporada, Lucas passou a ser utilizado de forma mais central, como um segundo atacante, dialogando com Harry Kane ou Llorente em uma dupla ofensiva. Em algumas partidas, chegou a ser o homem mais avançado na formação de Mauricio Pochettino. A nova função foi preponderante na revitalização da carreira, mas não existe no Brasil de Tite.
O retorno de 15 gols - dez no campeonato inglês, cinco na Liga dos Campeões - mostra a evolução do lado goleador de Lucas atacante. Foram arrancadas pelo meio e o aproveitamento do pivô de Fernando Llorente que o colocaram em condição de levar o Tottenham à classificação histórica, e não jogadas em velocidade pelo lado direito do campo. "Na última temporada ele teve dificuldades de adaptação. Toda a sua carreira ele atuou na direita, é um ponta, mas nesta temporada tentamos adaptá-lo em uma posição que pode trazer performance e ajudar o time. É uma nova posição, ao lado do Harry (Kane), como um segundo atacante" disse Pochettino no início da temporada. "Esperamos que ele possa, por que não, contribuir com muitos gols".
É difícil argumentar contra o sucesso da adaptação promovida pelo técnico argentino. Ela compromete, entretanto, as chances do brasileiro na seleção. Tite não utiliza uma dupla de ataque, logo, não tem um segundo atacante. O comandante da seleção deixou claro que pretende utilizar Firmino centralizado, com dois atacantes de chegada na área abertos. "(Quero jogadores abertos) que sejam incisivos, não sejam da penúltima bola, que sejam da conclusão, da finalização. Criar para esses jogadores. O Everton é esse vertical, o Richarlison é vertical o tempo todo. O meio-campista já olha para o Richarlison, e ele quer a bola na frente, fica de costas para o meio-campistas. O Gabriel é vertical, diferentemente do Firmino, que abre espaço".
O bom desempenho de Lucas não foi suficiente para que Tite convocasse para a Copa América um ponta direita que não atuou como ponta direita ao longo de toda a temporada. Apesar do retorno de gols acima da média da carreira, o brasileiro tampouco tem experiência atuando como único homem centralizado no ataque. Nesse contexto, o técnico optou pelo que já testou e aprovou, com Richarlison, Neres, Neymar e Everton. Coutinho e Gabriel Jesus também podem atuar abertos. Sem Lucas, Brasil estreia na Copa América no dia 14 de junho, diante da Bolívia, no Morumbi. Antes disso, disputará dois amistosos, nos dias 5 e 9, diante de Qatar e Honduras.