Fernandinho jogou só 90 minutos sob o comando de Luiz Felipe Scolari. O amistoso contra a África do Sul foi o suficiente para garanti-lo na Copa do Mundo. O que ninguém sabe é que sua caminhada para realizar o sonho de estar na seleção brasileira durou nove meses. Uma ?gravidez? que teve início quando o volante assinou contrato com a empresária Daisy Brandino, em junho de 2012, e deu a ela uma missão: tirá-lo do Shakhtar Donetsk.
O jogador, campeão inglês pelo Manchester City, sabia que a pouca visibilidade na Ucrânia praticamente tirava suas chances de se firmar na Seleção. Com Mano Menezes, ele disputou cinco partidas entre o fim de 2011 e o início de 2012, mas não voltou a ser chamado. Fernandinho tinha certeza que vestir a camisa do Shakhtar, clube que defendeu entre 2005 e 2013, atrapalhava nesse sentido.
- Meu sonho, guerreira, é ir para a Seleção, mas aqui não vou ser chamado - disse ele à agente.
O volante foi apresentado a Daisy por um amigo. Ela, que havia atuado como intérprete de empresários em negociações logo que se mudou para a Suíça, só tinha um ano na nova carreira e saiu em busca de um novo clube para seu cliente. Abriu a agenda e entrou em contato com todos os conhecidos possíveis.
Uma análise de mercado identificou que a Inglaterra seria o país ideal para Fernandinho poder sonhar com a Copa do Mundo. A Itália estava decadente e a Espanha tinha apenas dois clubes interessantes, Barcelona e Real Madrid, onde seria muito difícil arrumar espaço para o volante.
- Fui bater de porta em porta. Não é que havia clubes atrás, eu que fui procurar. Quando vi que o City estava trocando a diretoria, montando uma nova estrutura, achei perfeito. Era um lugar onde cabia um jogador chegado da Ucrânia, muita gente nova iria chegar, jogadores excelentes. Eles estavam com tudo - relembra Daisy.
Conseguir um interessado foi o primeiro passo. O mais difícil era convencer o Shakhtar a vender o atleta. Fernandinho jogava há oito anos na Ucrânia, era ídolo da torcida e um dos preferidos do técnico Mircea Lucescu. Havia mais três anos de contrato e uma multa rescisória de cerca de 43 milhões de euros.
Nas primeiras conversas com o Manchester, o valor mencionado não chegou a 20 milhões de euros. Para se ter ideia do quanto o Shakhtar endureceu a negociação, o clube inglês, que hoje pertence ao bilionário sheik Mansour bin Zayed Al Nahyan, desembolsou 40 milhões de euros (R$ 113 milhões) para ter o brasileiro.
Antes do acerto, Daisy chegou até a levar amigos para assistirem no estádio a seus jogos no Shakhtar. Tudo para que o cliente não perdesse o ânimo, se motivasse, jogasse melhor e arrancasse mais alguns milhões do interessado. Durante a negociação, ele abriu mão das férias para insistir com o presidente e o treinador que o liberassem.
Mesmo com a quantia tendo dobrado, não foi o dinheiro preponderante para a transferência. Rinat Akhmetov, presidente do Shakhtar, é considerado o homem mais rico da Ucrânia. O processo de persuasão para transferir Fernandinho atacou o ego do dirigente.
- Ele não precisava de dinheiro, mas queria ver o nome do clube enaltecido, entre os maiores. Dissemos a ele que essa venda colocaria o Shakhtar no rol das grandes transferências do futebol mundial, na lista de grandes vendedores. Mexemos um pouco no lado da vaidade - diz Marcos Motta, advogado do volante.
Quando finalmente se chegou a um acordo, Motta estava em Barcelona fechando o contrato de Neymar com os catalães e recebeu um telefonema para voar urgentemente rumo a Manchester. Ainda havia uma última barreira a ser vencida: a autorização da associação de futebol local, que depende de aspectos como número de jogos do atleta por sua seleção ou colocação do país em que ele atuava anteriormente no ranking da Fifa. Enquanto Fernandinho fazia exames médicos, o diretor de futebol, o espanhol Txiki Begiristain, estava no tribunal para obter a permissão.
- Falei para ele que seria naquela janela ou nunca. Ele tinha certeza de que conseguiria chegar à Seleção, e chegou - comemora a empresária.