Há um ano, o jogador profissional de Fortnite, Blackoutz , revelou que foi diagnosticado com depressão. Considerado um dos maiores nomes da modalidade, o atleta de 21 anos não se classificou para o Campeonato Mundial de 2019 e a perda da vaga pesou ainda mais nesse transtorno psicológico. Informações do site GloboEsportes.com
- Não foi por causa do mundial, mas foi algo que agravou com alguns problemas pessoais que eu tinha na época. Passei a me cobrar mais, ficar mais nervoso. Depois da world cup até pensei em parar de jogar - disse em entrevista exclusiva ao ge.
Blackoutz disse ainda teve a ajuda de especialistas para descobrir a doença.
- Fui a um psiquiatra que me diagnosticou com a depressão. Eu não queria aceitar que eu estava com isso, só aceitei porque o médico falou. Eu não percebia - afirmou o atleta que passou um longo período em tratamento psicológico, e que o apoio da família também foi importante na recuperação.
- A Ingrid [namorada do atleta] também me ajudou demais. Foi a principal pessoa que me apoiou pra eu não afundar - completou.
A revelação do jogador acende um alerta sobre a saúde mental de atletas que, tão novos, já precisam lidar com vários tipos de pressão. No Fortnite, especificamente, os jogadores se profissionalizam cada vez mais cedo.
- Pensei em não competir mais, ficar só gravando conteúdo, porque eu não tava conseguindo jogar bem. Eu pensava que estava ficando velho, isso não saía da minha cabeça. Hoje tem moleque de 13 anos que é fisicamente infinitamente melhor que eu. Não tem as preocupações que eu tenho. Então acabam jogando mais leves - disse Blackoutz.
Para o pai de Cadu, jogador que começou a competir aos 13 anos, o apoio familiar tem sido constante para manter a cabeça do atleta saudável.
- Temos uma família bastante sólida, e isso faz com que ele tenha segurança e tranquilidade. Nós nos organizamos com nossas atividades para darmos apoio e também suporte. Mesmo eu trabalhando em dois serviços, e a mãe dele trabalhando também, nos revezamos até com o irmão dele pra que sempre seja acompanhado durante nossa ausência - disse Révis Moura.
Para Murilo Centrone, psicólogo e conselheiro do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, o apoio familiar é importante. Mas não é a única solução para preparar os jovens atletas para lidar com a pressão psicológica.
- Apoio familiar, apoio financeiro, apoio de profissionais especializados, tudo isso favorece a saúde do jogador. Para exemplificar, alguém que não se alimenta bem, acaba não rendendo bem, e isso pode ter consequências para o psicológico - explicou.
- Se você tem intenção em seguir carreira profissional, você precisa pensar em manejos adequados. Por exemplo a presença de nutricionista, médico, fisioterapeuta, psicólogo, tudo relacionado. Mas a gente sabe que poucos têm condições de bancar tudo isso por conta própria, o que poderia garantir um ambiente saudável pra que a profissão seja realizada - afirmou.
Pressão cada vez maior sobre os atletas
Diferentes fatores influenciam na saúde mental dos jogadores. Um dos principais, segundo os próprios atletas, é a pressão e o "hate" dos comentários feitos por quem assiste às partidas durante as transmissões ao vivo.
- Quando você morre por uma bobeira, ao invés de respirar, de pensar em fazer melhor, você olha pro chat e já vê o povo falando mal. 'Foi rulado, foi amassado, foi acabado'. Sem querer seu subconsciente fica martelando, e você acaba piorando. Ou fica com medo de fazer algo que sabe, ou tenta fazer uma jogada mais bonita pra agradar - e acaba piorando a situação - disse o atleta e streamer Zugorow.
Zugor, que está no competitivo do Fortnite há mais de dois anos, disse que foi difícil lidar com as críticas.
- Num período curto eu ganhei bastante com premiação, mas isso passa. Os mais novos chegam. E você começa a receber críticas - o que me fez até ficar um tempo fora do competitivo - confessou o jogador de 25 anos.
A dificuldade em aceitar que está sendo superado, é outro problema que costuma trazer pressão para os profissionais.
- Inicialmente eu ficava bem triste, no começo não foi fácil de lidar. Foi bem difícil. Foi quando tomei a decisão de parar de jogar focado em ganhar. Minha família via que eu estava me estressando, não dormia bem, vivia ansioso. E eles falaram para eu focar no que gostava. Então foquei em criar conteúdo, e jogar os campeonatos sem a pressão de ganhar - disse.
Zugor não foi o único que decidiu focar mais na criação de conteúdo. Calango, que hoje tem mais de 2 milhões de inscritos no youtube, decidiu abandonar o competitivo em setembro do ano passado após nove meses disputando campeonatos.
- É simplesmente porque é frustrante. O competitivo precisa de um psicológico que eu não tenho no momento, e eu nao sei se algum dia eu possa ter. Talvez eu possa com um acompanhamento psicológico, mas atualmente eu não tenho - disse no vídeo da época em que anunciou sua saída das competições.
- Quando acabava o campeonato eu me sentia horrível, sentia que eu nao tava dando meu melhor, sentia que as pessoas iam me julgar demais. Todo final de campeonato eu acabava me sentido muito mal, pesava muito no meu psicológico - completou.
Para Centrone, os jovens atletas precisam de apoio para entender que as conquistas não vão durar pra sempre.