A nadadora Ana Marcela Cunha, que fez história na terça-feira, em Gwangju, na Coreia do Sul, ao vencer a prova dos 5km da maratona aquática feminina do Mundial de Esportes Aquáticos, superou um drama pessoal antes de se tornar a maior medalhista da modalidade em mundiais. Do Estadão.
Em 2016, a nadadora descobriu uma doença autoimune que destrói a produção de plaquetas sanguíneas, células responsáveis pelo processo de coagulação. Para corrigir o problema, ela teve de se submeter a uma cirurgia para retirada do baço. Com a cirurgia, ela consegue manter a produção de plaquetas em um nível saudável.
A equipe descobriu a doença depois de uma prova em Salvador ainda em 2016. Depois de um mal-estar, um exame médico revelou que tinha apenas 110 mil plaquetas no sangue - o número normal ultrapassa 200 mil. Ela teve de se afastar por quase dois meses da competições no início de 2017.
Ana Marcela se submeteu a exames difíceis e dolorosos, como uma biopsia de medula, por exemplo, para conhecer se a causa da doença tinha relação com a algum tipo de câncer. Em um dia, chegou a tirar 30 frascos de sangue. Até hoje não se sabe o que provocou-lhe a doença. Hoje, como atesta a conquista da medalha dourada, Ana Marcela está bem fisicamente.
Sem o baço, órgão responsável por funções imunológicas e hematológicas, o corpo não cria anticorpos que combatem infecções. Esse trabalho tem de ser feito por vacinas e antibióticos. A retirada do órgão foi a melhor opção para evitar que ela tenha complicações futuras.
Por essa razão, o triunfo é muito comemorado pela atleta. "A gente brinca muito que é difícil chegar a uma prova perfeita, mas eu acho que nestes 5km eu posso dizer que fiz a prova perfeita para a gente. Como a gente pensou na segunda-feira, a gente conseguiu realizar agora", reforçou a brasileira, para depois ainda lembrar que agora já está focando a sua participação na prova por equipes, que aconteceria ainda na noite desta quarta-feira, e também na disputa de 25km feminina, que ocorrerá nesta quinta, a partir do mesmo horário.
Medalha inédita
Seu desafio agora é buscar a inédita medalha olímpica. A baiana que aprendeu a nadar aos dois anos por influência do pai, o ex-nadador George Cunha, e também por ajuda da mãe, que é ex-ginasta, Ana Marcela ainda não subiu ao pódio. A primeira participação olímpica de Ana Marcela Cunha foi em Pequim 2008, exatamente na estreia da maratona aquática no programa dos Jogos. Com 16 anos, a brasileira terminou na quinta colocação.
No ano que vem - ela já está classificada para os Jogos de Tóquio -, Ana Marcela Cunha terá mais uma chance de buscar a medalha que falta. "Neste ano, o principal objetivo foi a vaga! Ano que vem será a tão sonhada medalha olímpica", diz o pai da nadadora.