Internado no último dia 5 devido a uma diverticulite (inflamação no intestino grosso), o técnico Muricy Ramalho voltou ao comando da equipe do Santos na vitória por 2 a 0 sobre o Flamengo do Piauí, na Vila Belmiro, pela Copa do Brasil, nesta quarta-feira - resultado que deu a classificação ao Peixe.
Depois do jogo, cansado e ainda abatido por conta da internação, Muricy garantiu que vai cumprir o contrato com o Peixe - que se encerra no fim do ano - mas disse vai encerrar a carreira antes do previsto.
Foi a primeira conversa de Muricy com os jornalistas desde que foi internado. O treinador revelou que, nos dias que esteve hospitalizado, ponderou os prós e os contras da carreira no futebol, especialmente no que diz respeito ao pouco tempo ao lado da família.
"Praticamente não vejo minha família, quase moro no CT. E em meio aos exames, ao soro, a gente fica pensando... O futebol me deu muita coisa, mas me tirou muito" - Muricy.
- Quando tive o problema (diverticulite), fiquei preocupado. Nós, que somos do futebol, ficamos muito longe da família. Eu praticamente não vejo minha família, quase moro no CT. E em meio aos exames, ao soro, a gente fica pensando... O futebol me deu muita coisa, mas me tirou muito. Naquele momento, a gente pensa se vale tudo isso. A vida passa, e a gente quase nunca está com as pessoas que ama. Fiquei abatido.
Penso, sim, em abreviar (a carreira). Não sei... Realmente, com esses sustos que a gente toma, pensa mesmo. Não vi meu pai ser enterrado, não vi minha mãe quando ela faleceu, conhecei minha filha com três meses... É que tenho uma esposa maravilhosa, que segura a onda.
Pensei muito, e com certeza vou abreviar minha carreira - completou.
Muricy recebeu alta dois dias após ser internado, mas só foi liberado para retornar aos trabalhos na última segunda-feira. Durante o tempo que ficou afastado, o treinador teve de ser submetido a um tratamento rígido - que, aliás, terá sequência mesmo com a volta do comandante ao batente, de acordo com o médico do Santos, Rodrigo Zogaib. O técnico do Peixe garantiu que vai seguir à risca as orientações médicas, mas reconheceu que não se trata de um desafio simples.
- (Após a internação) Fiquei muito preso, nao podia dirigir, comer, não podia fazer nada. Não tive medo porque tenho muita fé. Sou um cara muito disciplinado. Quando o médico recomenda, cumpro à risca - declarou.
- Tenho contrato até o fim do ano. Não posso mudar, vou trabalhar todos os dias. Não tem como mudar, não tem a mínima chance. Vou ter de me acalmar um pouco, o que é difícil, e caprichar nas outras coisas. Com relação ao estresse, não tem jeito. Comando um time grande, vivo futebol 24 horas por dia. Acho que a gente fica doente por causa disso. Vou ter que aguentar e lutar até o fim do ano, pelo menos - emendou.
Muricy se reapresenta com o restante do elenco nesta quinta-feira, às 16h, no CT Rei Pelé. O treinador inicia os preparos para o jogo deste domingo, às 16h (de Brasília), contra o Penapolense, pela 19ª e última rodada do Campeonato Paulista.