Protagonista de um dos lances mais polêmicos da temporada no futebol brasileiro, Romildo Fonseca da Silva, o Esquerdinha, já está de volta a Aparecida de Goiânia-GO um dia após entrar em campo para evitar o terceiro gol do Tupi-MG que eliminaria a Aparecidense da Série D do Campeonato Brasileiro. Tratado como herói na cidade, o massagista pediu desculpas ao adversário, mas em seguida defendeu que o resultado da partida - 2 a 2 - não sofra alterações.
Esquerdinha evitou o gol aos 44 minutos do segundo tempo e entrou correndo no vestiário para não ser agredido. Após muita confusão, a partida foi retomada, mas o árbitro baiano Arilson Bispo da Anunciação manteve o placar de 2 a 2, resultou que garantiu classificação da Aparecidense e gerou revolta de jogadores, diretoria e torcida do Tupi-MG, que precisava da vitória para seguir vivo na competição. De volta a Goiás, Esquerdinha explicou a atitude e se desculpou.
- Foi um impulso. Quando vi o cara chutando para o gol, falei: Nossa, essa bola vai entrar. Foi uma emoção, um impulso forte. Falei: Vou tirar esse gol. Foi um ato impensado. Não dá tempo de pensar, de planejar um ato desse. Peço desculpas a todo elenco do Tupi - declarou.
Procurador do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, Paulo Schimitt acredita que o jogo poderá ser anulado.
- A procuradoria deve oferecer denúncia contra o massagista e contra a equipe. Há a possibilidade do enquadramento no artigo 243-A, que fala em atuar em forma contrária à ética. Há a possibilidade dessa partida ser anulada
Esquerdinha havia acabado de deixar o gramado após atender o zagueiro Helder. O massagista revela que estava ciente de que o jogo estava para terminar e, caso sofresse o gol, a Aparecidense seria eliminada da Série D.
- Resolvi ficar atrás do gol porque tinha perguntado para o preparador físico quanto tempo faltava e ele disse que já estava com 44 minutos do segundo tempo. Vi quando o cara chutou a bola. Aí falei assim: É tudo ou nada. Eu estaria perdendo o meu emprego, né? Acabaria o campeonato, seria eliminado. Só iríamos voltar a treinar em dezembro.
Irmão de jogador
Romildo Fonseca da Silva não tem Esquerdinha como apelido à toa. O massagista é irmão de Rogério Fonseca da Silva, também chamado de Esquerdinha quando foi jogador. Esquerdinha, o meia, ficou conhecido no São Caetano, quando foi vice-campeão da Série A pelo Azulão em 2000 e 2001.
Romildo acabou não trilhando os passos do irmão, apesar de também ter tentado jogar futebol e praticar outros esportes. Contudo, afirma estar vivendo situação, ao menos junto aos torcedores da Aparecidense, muito próxima a de um ídolo, já que "salvou" o clube.
- Estão me tratando como herói, um 12º jogador que apareceu do nada e salvou o time no último minuto.
Por outro lado, relata que viveu momentos de medo ainda no estádio municipal de Juiz de Fora. A princípio, a delegação da Aparecidense teve que ficar trancada no vestiário por várias horas por conta de ameaças da torcida do Tupi. Para deixar a cidade, foi preciso se disfarçar.
- Foi difícil sair do estádio. Demoramos algumas horas para sair. A polícia fez escolta até o hotel e saimos de lá as 6h para a rodovia para ir para o Rio de Janeiro pegar o avião. Tive que colocar um boné, mudar a camisa, saí disfarçado. A torcida falava que ia me matar, estavam muito nervosos e com razão. Foi difícil para conseguir sair de lá - declarou o massagista, que, na volta a Aparecida, fez a reconstituição do lance.