Em entrevista , José Maria Marin revelou bastidores, premiação e cobranças, exaltou o comando de Felipão e contou que Alexandre Gallo é preparado para a Rio-2016.
Duas semanas após o título da Copa das Confederações, o que foi mais importante, além da conquista, na campanha para 2014?
A torcida sabe que, hoje, temos uma seleção que inspira confiança, mas há muito trabalho a fazer. Não há motivo para euforia e deslumbramento. Nosso objetivo é 2014. O principal disso tudo é a recuperação da autoestima. A própria torcida disse que ?o campeão voltou?.
Quais são os principais passos até o Mundial?
A seleção está de portas abertas para todo jogador brasileiro, mas mediante certas condições e desde que o comprometimento seja total, a partir da convocação. Os que já estão conhecem a filosofia de trabalho. Os que vierem precisam de comprometimento total. Comportamento dentro e fora do gramado é fundamental. Você está me entendendo? Teve um jogador que deu prioridade a um jantar.
Quem foi?
Não cito nome. Mas a mulher dele ainda disse que a seleção era uma máfia, porque ele não foi mais convocado.
A mulher do Ramires falou isso numa entrevista...
Não falo nome, mas foi um jogador que atua na Inglaterra. Imagina se o Thiago Silva virasse para o grupo e falasse que não poderia aceitar uma convocação para enfrentar a Rússia e a Itália, porque a mulher dele marcou um jantar com as amigas... Jamais! Todos os jogadores sabem dessa história do jogador que trocou a seleção por um jantar.
Ronaldinho Gaúcho chegou atrasado à apresentação da seleção em Belo Horizonte, mesmo morando na cidade, antes do amistoso contra o Chile. Por isso, não foi mais convocado?
Você me convida para um jantar na sua casa. Eu chego à sua casa, e você não está. Eu espero, espero, e você, que é o anfitrião, é o último a chegar. A seleção vai para a mesa do jantar e quem é o último a chegar? O anfitrião. Não dá!
Este também não volta?
Eu não falei que ele não volta mais... Mas o comprometimento tem que ser total, dentro e fora do campo.
Dois dos pontos marcantes da seleção na Copa das Confederações foram os jogadores cantando o Hino Nacional e a raça dentro de campo. Algo bem diferente dos tempos do Mano Menezes?
Eu falei para o Felipão: o cara que vai jogar jogar tem saber cantar o Hino Nacional.
É por isso que estava todo mundo cantando o Hino...
Outra coisa: você viu alguém mascando chiclete? Falei que eu não queria ver ninguém mascando chiclete, arrumando a meia ou fazendo exercício durante o hino. Sabe por quê? Para mostrar que lá tem comando. O cara que vai defender a seleção tem compromisso com o país. Falei para a minha mulher antes da final contra Espanha: ?Do jeito que eles cantaram o Hino Nacional, nós não perdemos o jogo?. Não confundimos patriotada com civismo.
Por que o senhor demorou três meses para trocar Mano pelo Felipão após Londres?
Eu tinha que escolher um momento ideal. Eu vou para uma guerra. Se não passasse bem na primeira trincheira (Copa das Confederações), aumentaria a pressão para chegar na segunda (Copa do Mundo). Eu quero meu comandante, os meus soldados. Eu iria com o comandante que outro (Ricardo Teixeira) escolheu? Será que o do outro iria morrer por mim, se não fui eu que o escolhi? Com o meu, vamos para a glória ou o inferno juntos.
E qual o momento certo?
Se o Brasil ganhasse a Olimpíada de Londres, eu não poderia mudar. Perdemos. Deixei passar, acalmar. Não joguei para ele (Mano) a responsabilidade de ter perdido a Olimpíada. Não encontrei um bode expiatório, como faz a grande maioria. Esperei chegar o momento oportuno, sem trauma, sem transferir para ele a responsabilidade de todos, inclusive a minha. O Felipão é um comandante. Ele e o Parreira ganham o mesmo salário, pois são campeões do mundo, mas quem manda é o Felipão. Ele manda, mas sabe ouvir. Perguntei a ele sobre o Júlio César, o Hernanes, o Fred. Ele deu chance, e eles aproveitaram.
Quanto foi a premiação pelo título conquistado?
Foi de R$ 4,8 milhões. Tudo para jogadores, comissão técnica, massagista, roupeiro...
Alguém mais foi premiado?
Alexandre Gallo. Limpei tudo na seleção sub-20, que não se classificou para o Mundial, e dei uma missão ao Gallo, que estava no Náutico. Depois, já ganhamos dois títulos. Gallo ajudou muito o Felipão e o Parreira. Então, demos o prêmio igual para o Gallo. O Felipão me pediu isso e eu o atendi.
Já há planejamento de trabalho para a Copa-2014?
Uma das prioridades é a Granja Comary. Demolimos tudo e estamos reconstruindo. O Felipão quer ficar lá. E sair só para jogar. A Granja será a base na Copa.
O senhor pensa em Felipão após a Copa-2014?
Mesmo com qualquer resultado, Felipão continua após a Copa. Se o Felipão tiver proposta e quiser sair, meu candidato é o Gallo. Quero aproveitar o Gallo com o Parreira. Se Felipão continuar, ficam Felipão e Parreira. Eu não mudo. Mas, se o Felipão não quiser continuar no futuro, o Gallo será o treinador.
Gallo seria o treinador para as Olimpíadas;2016?
Será. Ele teve propostas de time grande, mas assumiu o compromisso conosco de ir até as Olimpíadas. Pretendo formar uma comissão, um conselho. O Felipão não seria o treinador, mas, na mesma maneira que o Gallo está colaborando com ele agora, haveria reciprocidade na Olimpíada. Mas com o Gallo no comando.
Qual é sua relação com Bebeto e Ronaldo no COL?
Bebeto pediu demissão, na véspera da decisão contra a Espanha, e voltou atrás depois que o Brasil foi campeão. Pediu verbalmente. E estou cobrando dele a definição.
A Federação do Rio está cobrando 10% da renda para permitir jogos de cariocas em Brasília. O senhor teme que taxas excessivas cobradas por federações e organizadores inviabilizem os novos estádios da Copa?
Não estou de acordo com as taxas. Quem lançou a ideia de usar esses estádios foi a CBF. Dentro do bom senso. O que pode prejudicar a iniciativa? É a ganância. Tem que ser uma taxa normal. Não adianta encontrar solução criativa para os estádios, se a ganância prevalecer e não existir bom senso. Ganância impede o bom senso.
O COL-2014 criou a função dos stewards, para orientar o público e ter segurança privada nos estádios, mas eles só duram até a Copa. Por quê?
Quero ver no Campeonato Brasileiro stewards sem nenhum ônus para os clubes, mediante publicidade, já em 2014. Queremos cada vez mais famílias nos estádios Uma empresa assumiria. Temos de focar na manutenção dos estádios e, principalmente, no item segurança. Vou nomear uma comissão, com especialistas, como o deputado estadual (paulista) e procurador do Ministério Público, Fernando Capez, e o coronel Antônio Chiari, para formatar um projeto.
O senhor continua sendo chamado de ladrão por Romário e foi acusado de ter roubado um terreno do governo. Alguém, da Fifa ou do governo, pediu para o senhor renunciar?
Ninguém. O interesse desses ataques é puramente eleitoral, visando às eleições da CBF, em abril de 2014. Vendi uma propriedade em abril de 1983, registrada em cartório, e com o dinheiro, adquiri o terreno em São Paulo, um mês depois, em maio. Juridicamente, não me apropriei de nada. Estou processando quem me caluniou.