Fim de treino no Ninho do Urubu, e os jogadores vão deixando o campo. Porém, para três deles, o trabalho ainda não acabou. Começa a hora da aula particular. Vanderlei Luxemburgo pede a ajuda de Kleberson e Fierro para fazer um exercício específico de passe com Willians. O gramado, então, se transforma em um quadro negro, com rabiscos de gestos, chutes no ar e incentivos. Didático, ensina o jeito certo de fazer a bola chegar com perfeição às pontas. Uma, duas, cinco, dez vezes, até acertar. Dá certo, e o volante consegue completar os lançamentos. Fim do teste, dever cumprido. Há dez dias, o mesmo acontece, com todos os jogadores. Por isso, no Dia do Professor, o elenco do Flamengo pede a vez para elogiar o comandante e tentar ganhar uma nota 10 na prova final.
Um dos principais beneficiados com a chegada de Luxemburgo, Val Baiano só tem elogios para o técnico. Antes renegado no time e mal visto pela torcida, o atacante já marcou três gols em dois jogos. E, segundo ele, isso se deve muito a um conselho do novo amigo:
- Quando ele chegou, logo me deu oportunidade. Eu nem estava sendo relacionado, e ele me escalou. Acho que devia assistir aos jogos do Flamengo antes, porque uma coisa que ele me ajudou muito foi dizer para que eu ficasse mais na área. Deu certo ? disse o jogador, que sofreu uma lesão na panturrilha direita e não poderá atuar contra o Internacional, neste sábado.
Aluno repetido também vale. Não é a primeira vez que o professor Luxemburgo tem a oportunidade de ensinar a Deivid. O técnico era o comandante do Cruzeiro quando o atacante atuou por lá. E é daquela época que vem a aula mais importante. Um ensinamento que, segundo o ?mestre?, já ajudou até mesmo Romário a ser artilheiro.
- Uma coisa que me marcou muito foi quando ele me disse que era para eu sempre ficar esperando os lançamentos de bola parada no segundo pau: ?Meu filho, fica ali. Pode esperar 90 minutos, mas, uma hora, a bola chega?. Aprendi isso e consegui muitos gols. Lembro que ele sempre brinca dizendo que o Romário ganhou muito dinheiro em cima desse ensinamento (risos).
Maldonado também guarda um carinho especial pelo técnico. Os dois trabalharam juntos no Cruzeiro e no Santos e já se conhecem há mais tempo. Para o chileno, Luxemburgo foi mais do que um professor:
- Ele me trata como se eu fosse seu filho. Desde que eu cheguei aqui no Brasil, me ensinou muita coisa, inclusive como resolver problemas pessoais, fora do campo. É um professor, um estudioso. Sempre ajuda todo mundo, principalmente na questão de não deixar nenhum jogador mais novo se deixar levar pelo deslumbramento da profissão.
Aulas particulares para a próxima geração
Enquanto os jogadores são entrevistados, lá do outro lado do campo, os olhares estão atentos. O técnico observa atentamente cada gesto, sorriso e palavra que é dita. A aula não termina com o treino.
- Sou um professor, de fato (é formado em Educação Física). Mas, nessa função, prefiro ser um educador. Não gosto de pensar que estou falando apenas com um jogador, mas, sim, com um ser humano. Quero passar valores para ajudá-los a crescer.
Minutos depois de falar em crescimento, o técnico se afasta e anda até o vestiário. No caminho, encontra um menino com o uniforme do Flamengo. Para ao seu lado e diz: ?Vou te dar um conselho: eu só tive sucesso no futebol porque não parei de estudar. Ia de Vista Alegre à Gávea todos os dias. Isso é importante?. E mais uma geração recebe uma aula do professor Luxa.