Lutador sem pernas ignora limitação e se destaca em diversos esportes

A história do americano, de 23 anos, que nasceu com Síndrome de Redução Caudal - ou seja, sem as duas pernas.

Zion Clark | Reprodução
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Uma tatuagem com a frase "No Excuses" em letras garrafais, inscrita às costas, serve para duas coisas: indicar que não há a menor possibilidade de Zion Clark ser freado por qualquer motivo físico e também rechaçar os olhares carregados de dó. A história do americano, de 23 anos, que nasceu com Síndrome de Redução Caudal - ou seja, sem as duas pernas -, até tem muitos momentos de rejeição e bullying, mas é o que o atleta alcançou sob o lema inspirador gravado no corpo que sua trajetória merece ser retratada. As informações são do Globo Esporte.

Zion Clark acostumou-se com a doença congênita, que afeta uma a cada 100 mil pessoas. O americano - que vive na pequena cidade de Missillon, em Ohio (EUA) -, no entanto, demorou a alcançar este poder de abstração em relação ao seu corpo. É o que ele conta em entrevista exclusiva ao Esporte Espetacular, na casa de sua mãe. 

Lutador ignora limitação e se destaca em diversos esportes

- Eu me lembro das outras crianças olhando para mim. Elas não falavam nada, mas não desgrudavam os olhos. É claro que eu não gostava. Comecei a perguntar aos professores por que isso acontecia, e eles explicavam: "Porque você é diferente". Sempre fui a única pessoa sem pernas em todas as escolas que passei, o que me deixou meio separado dos outros. Eram muitos olhares, comentários, mas eu tinha que sobreviver e prosperar.

Se o drama fosse somente este, já seria uma "barra" pesada o suficiente para quem lidaria com a falta das pernas. A dose de sofrimento, contudo, foi potencializada pelo abandono. Zion Clark não conheceu os pais biológicos. Passou fome. Rodou por cerca de oito orfanatos americanos. Sem irmãos, estava sozinho no mundo. Apanhou - tanto da vida, quanto literalmente -, e se tornou uma criança amarga.

- Uma vez me acharam trancado no porão de um orfanato, eu não me lembro, mas me contaram. Não preciso dar muitos detalhes para você perceber que essas experiências me deixaram com uma visão muito sombria do mundo. Eu me tornei uma pessoa com muita agressividade, que explodia com pequenas coisas. E foi ficando pior, bem pior.

Lutador ignora limitação e se destaca em diversos esportes

Na dura infância, Zion Clark teve como melhor amigo o wrestling - a modalidade foi sugerida por um professor da escola onde estudava. Foi no esporte, praticado ao completar sete anos de idade, que ele se sentia igual aos demais. Não era tratado como chacota. Em um ambiente que poderia ser hostil, encontrou uma atmosfera amistosa, enfim.

- Eu fiquei tão feliz... Todo mundo me aceitou de primeira. Foi quando entendi que o mundo da luta olímpica era a minha família. Aquilo foi meu escape, minha saída. Quando eu ia praticar, não precisava me preocupar com mais nada.

A guinada maior, no entanto, estava por vir. Aos 16 anos, foi adotado por Kimberly Hawkins. O jovem que só conhecia preconceito e solidão, entendeu o significado de amor materno e afeto. Sentada ao lado do filho, ela relembra quando se encantou à primeira vista.

- Eu o vi antes que ele me visse. E simplesmente me apaixonei. No começo, ele veio sem compromisso de uma adoção formal, mas eu sabia, no meu coração, que aqui era o lugar dele. Nós estávamos sentados, conversando, e eu disse: "O que você acha de eu te adotar, de eu ser sua mãe?" Ele olhou para mim com uma cara assustada e não me respondeu. Uns dois dias depois, ele veio, se sentou aqui perto e disse: "Sim, eu quero que você seja a minha mãe".

Zion Clark e sua mãe

Amparado pelo carinho da mãe no novo lar e assíduo nos treinos de wrestling, Zion Clark - que chegou a ficar três anos sem vencer um combate - alcançou a marca de 33 vitórias em 48 duelos. Ganhou fama nos Estados Unidos. Superou a ausência das pernas e se tornou símbolo de resiliência, afinal, pesa 40kg e mede forças com lutadores de 56kg.

- Fiz muita repetição para ver o que servia ou não para um cara como eu. E assim fui desenvolvendo minha técnica, que é completamente diferente da utilizada por quem tem pernas.

Zion Clark

Competir diante de atletas sem deficiência é algo louvável e, até certo ponto, motivo de uma ponta de surpresa para quem vê Zion Clark em ação pela primeira vez. Entretanto, ele vai muito além: participa de competições de crossfit, faz natação, anda de skate, toca bateria, teclado e ainda disputa provas de 100m e 400m em cadeira de rodas. O sonho é representar os Estados Unidos nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, em 2021.

- Eu vou tentar, estou conseguindo aperfeiçoar as minhas habilidades na luta e no atletismo, elevando o meu nível.

E aí, alguém duvida que ele poderá chegar lá?

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