A convocação de Luan para a seleção brasileira representa uma sutil quebra de paradigma de Tite ao definir seus escolhidos. Não pelo nome do atacante do Grêmio, elogiado há um ano pelo técnico, mas sim pela vaga que ele ocupa na lista: na teoria uma, na prática outra.
Entre os mantras do treinador está a ideia de ter sempre um reserva com posições e funções bastante semelhantes, quando não idênticas, às do titular. Casemiro e Fernandinho, Neymar e Taison, entre outros exemplos. Mas contra Equador e Colômbia, será diferente com Luan.
No papel, ele é o reserva de Renato Augusto, lugar que já foi de Lucas Lima, Diego e Rodriguinho desde que Tite assumiu o comando da Seleção. Curiosamente, apenas jogadores que atuam no futebol brasileiro.
Porém, se Luan entrar em campo, deverá atuar mais aberto, com obrigação de se movimentar para o meio, num deslocamento que o futebol atual chama de flutuação. É o que fazem Philippe Coutinho e Willian, da direita para o centro, no Brasil de Tite. E nesse caso, Coutinho iria para o meio, numa tentativa que o treinador tem ensaiado há alguns jogos.
Resumindo: se Luan entrar no lugar de Renato Augusto, Coutinho vai para o setor do meia do Beijing Guoan, e o gremista ocupará o espaço que originalmente é do meia do Liverpool.
Essa adaptação tem outra explicação tática: a seleção brasileira não tem, em sua distribuição dos jogadores em campo, alguém que desempenhe a função de Luan no Grêmio. Em seu time, ele fica livre numa linha de três homens que atua atrás do centroavante. A dica de Renato Gaúcho para Tite, inclusive, foi não usar Luan como referência no ataque.
– Ele joga preferencialmente atrás do 9, como jogador de articulação, isso dito pelo Renato. A área de ação dele é numa linha de três que joga em cima do pivô, ele se movimenta com liberdade por todo esse setor, sempre no último terço do campo. Nossa seleção não tem essa figura, por vezes é exercida pelo Coutinho. É nessa função que eu o vejo, mais terminal, mais adiantado (em relação ao que joga Renato Augusto) – explicou Tite.
Na Olimpíada, no ano passado, a entrada de Luan na equipe passou justamente pelo atestado de que ele tinha capacidade para fazer essa flutuação.
O Brasil havia empatado seus dois primeiros jogos por 0 a 0, contra África do Sul e Iraque, e estava pressionado, precisava ganhar da Dinamarca para seguir em frente. O auxiliar Odair Hellmann, que era interino do Internacional goleado por 5 a 0 pelo Grêmio, no Brasileirão de 2015, e havia visto de perto a capacidade de Luan, disse ao técnico Rogério Micale que ele faria tranquilamente a função.
Ele entrou, o Brasil venceu por 4 a 0, se classificou e arrancou para o ouro tendo no gremista um de seus maiores destaques.