Dunga até sorriu e participou da entrevista coletiva após a vitória contra a Tanzânia sem dar respostas atravessadas a ninguém. O técnico da seleção brasileira conversou com jornalistas durante o voo entre o país do amistoso desta segunda-feira (7) e a África do Sul. Os jogadores estavam mais soltos, felizes.
Um grande detalhe na goleada por 5 a 1 diante da Tanzânia fez com que o ambiente mudasse: a recuperação de Kaká. Não que ele tenha sido um primor técnico, tenha tido uma atuação de gala, mas o fato de ter suportado 90 minutos e feito um gol mudaram o clima pesado que dominava a seleção e, principalmente, Dunga. A uma semana da estreia na Copa do Mundo, a confiança aumentou muito em Johannesburgo.
O volante Gilberto Silva, um dos jogadores mais experientes da seleção, foi incisivo ao comentar sobre o meia.
- Não dá para negar. Nós precisamos muito do Kaká. Ele ter voltado a jogar bem nos trouxe mesmo um alívio. Nós estamos bem perto da estreia. Estávamos todos torcendo por ele, queríamos ver sua reação em campo contra a Tanzânia. E foi a melhor possível. Com ele bem, a seleção fica bem.
Na sua terceira Copa do Mundo, Gilberto Silva é um dos atletas mais inteligentes taticamente do time. Ele sabe definir bem a importância de Kaká.
- Ele é o condutor do time ao ataque, quem dá ritmo, tem uma importância grande demais. Todos estamos muito felizes por ele e pelo que traz de bom ao Brasil. Basta analisar como o jogo hoje [segunda-feira] fluiu.
No vestiário do estádio Nacional de Dar Es Salaam, Kaká se tornou a atração e o atleta mais solícito.
- Eu precisava jogar 90 minutos, chegar ao final de uma partida, mostrar para mim mesmo que já estou recuperado, pronto para a Copa. Passei muito tempo parado, tratando de problemas físicos. Agora eles foram embora. Era só uma questão de ganhar ritmo de jogo. Me senti muito bem contra a Tanzânia. Fiz até gol de peito, o primeiro da minha carreira.
Talvez mais alegre do que Kaká e seus parentes, só Dunga. Ele sabe o quanto o Brasil é dependente do jogador do Real Madrid, único meia criativo que trouxe aqui para a África do Sul.
- O Kaká mostrou o que todos nós esperávamos dele. Sabíamos que estava chegando ao final de um processo demorado. Ele chegou a ficar entre três e quatro meses parado no Real Madrid, teve de trabalhar de forma intensa na seleção para se recuperar, e nós tivemos até de segurá-lo. Se dependesse do Kaká, já teria jogado 90 minutos contra o Zimbábue. Ele não queria sair, mas nós estamos seguindo o nosso plano para que ele entre como o Brasil precisa na Copa do Mundo, e mais uma vez mostrar que sempre estivemos no caminho certo.
Mesmo assim, Dunga tem preparado Julio Baptista para a vaga de Kaká. Ele tem se submetido a treinamentos fortes, pesados. O meia está condicionado para entrar na mesma posição do atleta do Real Madrid, tanto que, mesmo sendo o jogador de melhor preparo na seleção, não jogou um minuto sequer contra a Tanzânia. Para ele, é atuar no lugar de Kaká ou simplesmente não atuar.
Lógico que o rendimento de Kaká não foi excepcional. No primeiro tempo, ele teve muita dificuldade para se livrar da marcação do meio-campo da Tanzânia. Na etapa final, com o cansaço do time africano, que tinha jogado no dia anterior, contra Ruanda, o brasileiro se impôs: brigou, dividiu, tentou tabelas, ameaçou arrancadas e fez o gol de peito. Suportou os 90 minutos.
- Tudo aconteceu exatamente como eu precisava. Aguentei bem a partida e pude ajudar a seleção. É para isso que estou aqui na África. Quero dar a minha parcela. Estava preocupado, agora tudo está bem. Estou pronto para a Copa!