Respaldado, mas ao mesmo tempo contestado e sem a mesma sintonia de um passado recente. Efetivado como técnico do Flamengo em setembro, Jayme de Almeida deixou o rótulo de tampão para trás, conquistou a Copa do Brasil e assinou contrato até dezembro de 2015. Mas, passados quatro meses do ano, ele enfrenta a primeira turbulência à frente do time e vê a cobrança crescer na mesma proporção do sucesso da temporada passada.
Publicamente, o vice de futebol Wallim Vasconcellos e o presidente Eduardo Bandeira de Mello defendem e isentam o treinador pelo fracasso na Libertadores da América, mas nos bastidores o trabalho tem sido questionado. A falta de critérios em opções, escalações e substituições é alvo de críticas. Na diretoria, há quem diga que em caso de perda do título carioca para o Vasco, neste domingo, a permanência no cargo será avaliada.
Jayme se mantém tranquilo e diz que sabe lidar com a pressão. O passado como jogador do clube e a ótima relação com a geração de 81, a mais vitoriosa do Flamengo, servem de escudo e dão ao treinador um pingo a mais de respaldo, mas o clima não é mais tão ameno quanto aquele de 2013.
- No Flamengo, tudo é igual. Se for disputar porrinha, vai ter pressão. Tem que jogar para ganhar o tempo inteiro. Qualquer coisa que for jogar entra a cobrança em cima do resultado. Isso obriga a ser forte o tempo inteiro ? disse Jayme, nesta sexta-feira.
Andrade viveu situação parecida. De interino a técnico efetivado, conquistou o Brasileiro de 2009, foi eleito o melhor técnico da competição, mas cinco meses depois estava demitido, o que gerou reação de parte da torcida e de ex-companheiros de renome.
Pesa a favor da manutenção do técnico o fato de o Rubro-Negro não ter condições de fazer alto investimento no cargo. Sem dinheiro em caixa, gastar com salários milionários está fora de questão.
Internamente, é consenso que o treinador ajeitou o time de forma simples na temporada passada, mas que agora, com dificuldades, parece de mãos atadas. Existe o entendimento de que é preciso ter um choque enérgico no elenco, tecla que tem sido batida com força por membros da direção.
Jayme já teria começado a perder alguns jogadores. Continua querido por parte do grupo, mas a diminuição do diálogo, uma maior centralização de decisões e menor paciência foram logo notadas no Ninho do Urubu. A sintonia entre Jayme e jogadores já não é a mesma do ano passado. O auxiliar Cantarelle é o principal confidente do comandante.
Recentemente, a insistência na escalação do volante Muralha gerou questionamentos, assim como treinar pouco a parte tática do time. A ausência de Lucas Mugni até do banco de reservas na derrota por 3 a 2 para o León, quarta-feira, pela Libertadores, causou surpresa e contestações. Na partida decisiva e que encerrou a participação do clube na edição, só havia um meia entre os suplentes: Gabriel. O jogador, no entanto, entrou no lugar de Elano, que saiu machucado logo no primeiro tempo. Dessa forma, as opções de linha se resumiram a dois zagueiros (Chicão e Welinton), um volante (Feijão) e dois atacantes (Negueba e Nixon). Enquanto isso, Mugni assistia ao jogo ao lado do diretor de futebol Paulo Pelaipe no estádio.
A decisão de Jayme de deixar o argentino fora do jogo não caiu bem internamente. O camisa 10 havia marcado dois gols contra a Cabofriense, na semifinal do Carioca, ficado no banco no jogo contra o Emelec, no Equador, e sido titular na primeira partida da decisão do estadual, contra o Vasco (saiu no intervalo). Outras decisões e opções do treinador também são alvo de críticas.
- Mugni vivia um bom momento, tinha marcado gols, mas o treinador não soube aproveitar a confiança do jogador ? disse um dirigente do clube.
O caso de Mugni não foi o único a causar estranheza. Na Libertadores, uma hora relacionou o jovem volante Recife. Depois, optou por Feijão. Em outro momento, o meia Carlos Eduardo foi titular na altitude de La Paz, contra o Bolívar, mas nem no banco ficou contra o León.
Jayme também foi criticado nos bastidores por ter apostado em três jogadores que voltavam de lesão na partida contra os mexicanos: Elano, que se machucou aos 12 minutos do primeiro tempo, Léo Moura, que teve atuação discreta, e André Santos, autor de um dos gols rubro-negros.
- Jayme aprovou os reforços, mas muitas vezes não soube utilizá-los. É normal que um técnico, ainda mais no Flamengo, esteja sempre sob análise ? disse um outro dirigente ligado ao conselho diretor.
Logo depois da traumática eliminação na Libertadores, Wallim Vasconcellos garantiu a permanência de Jayme de Almeida no comando do Flamengo. Ainda no Maracanã na noite de quarta-feira, o dirigente disse que não vê motivos para mudanças drásticas. O técnico rubro-negro, porém, já não é unanimidade no clube. As críticas dos torcedores também começam a ficar mais duras e intensas. O muro da sede da Gávea foi pichado na madrugada de sexta-feira. As palavras escritas por vândalos focaram em Jayme, pedindo a saída do treinador ("Fora Jayme"). O técnico tem o voto de confiança de Bandeira e Wallim, mas o prazo de validade está em branco.