A unanimidade não acompanha Renato Gaúcho na quinta passagem dele pelo Fluminense. Desde que entrou em pauta nos últimos dias do ano passado, o nome do treinador sofreu forte resistência do presidente Peter Siemsen e de membros da diretoria tricolor. Como de praxe, prevaleceu a vontade do presidente da patrocinadora do clube, Celso Barros, e o ex-atacante assinou contrato para comandar o time em 2014. Três meses de trabalho e uma eliminação no Campeonato Carioca depois, há insatisfação com o desempenho do técnico, e ela cresceu nos últimos dias.
A discussão interna pela substituição do treinador já começou e é intensa, mas ainda não o bastante para definir uma saída. No entanto, há no clube quem diga que não seria surpresa se ela ocorresse antes do próximo jogo, contra o Horizonte-CE, dia 10 de abril, pela primeira fase da Copa do Brasil. O Fluminense entrará nessa partida sob risco de eliminação. Precisa vencer por 2 a 0 ou por três ou mais gols de diferença no Maracanã para avançar, já que perdeu no Ceará por 3 a 1.
No processo cheio de reviravoltas da contratação de Renato, em dezembro, Peter Siemsen pretendia acertar com Ney Franco para comandar o time em 2014, mas Barros bateu o pé e avisou que só gastaria dinheiro para contratar o seu preferido. Antes, porém, Tite já havia recusado o convite. O mandatário tricolor não mudou sua visão sobre Renato Gaúcho. Para ele, o treinador não tem métodos de treinamento e perfil de formador de elenco desejados. Coletivos e treinos táticos viraram raridades desde o fim da pré-temporada, o que gera críticas. No entanto, Peter entende que só a troca não seria o bastante para dar um choque na equipe.
- Peter está convencido de que o problema não é só o técnico. É técnico e elenco. Substituir o técnico pode não resolver. Considera o elenco envelhecido - disse uma pessoa ligada à diretoria tricolor.
A reformulação do grupo e a contratação de reforços esbarram na queda de braço entre Peter Siemsen e Celso Barros. O clima é muito pesado, e o presidente da Unimed sempre que se coloca na contramão das vontades do clube é radical. Celso marca posição clara: quem quer rir tem que fazer rir. Em sua mais recente imposição, condicionou o investimento em reforços para o clube ao retorno do diretor executivo Rodrigo Caetano, que hoje está no Vasco. Peter não aceita Caetano de volta. Circula nos bastidores das Laranjeiras a informação de que o presidente poderia tomar uma decisão dura sobre as divergências.
Até a noite desta segunda-feira, véspera do fechamento da janela de transferências internacionais, nenhum jogador de fora do Brasil foi anunciado como reforço do clube. O prazo termina às 23h59m desta terça, e a chance de alguém chegar é praticamente nula.
Renato Gaúcho tem um contrato com o Fluminense e outro com a Unimed-Rio. O treinador custa de cerca de R$ 550 mil mensais. Deste valor, R$ 50 mil são de responsabilidade do Fluminense, e o restante é da patrocinadora. Não há multa rescisória no contrato de Renato com o Tricolor.
Nesta quinta passagem, o técnico comandou o time em 18 partidas. Foram nove vitórias, cinco empates e quatro derrotas, um aproveitamento de 59,2%. O Fluminense marcou 33 gols e sofreu 21.
Lavanderia tricolor
Após a derrota por 1 a 0 para o Vasco, na semifinal do estadual, Barros, Renato e o vice de futebol Ricardo Tenório debateram a queda da equipe na competição. No encontro, ainda no domingo, Renato apontou erros individuais cometidos contra o rival e elegeu seus culpados pelo resultado. Celso, por sua vez, voltou a insistir no retorno de Rodrigo Caetano. Por opção, o presidente do clube, Peter Siemsen, não participou do encontro.
Peter ficou contrariado com o resultado do time no Carioca e decidiu não ir à reunião por achar que não seria produtiva logo após a saída do time do campeonato. O mandatário ainda analisa o quadro, mas planeja convocar uma entrevista coletiva nos próximos dias, talvez já nesta terça-feira.
Celso, por sua vez, deu um aviso: a aplicação de dinheiro no futebol tricolor - que atualmente gira na casa de R$ 40 milhões anuais - chegou ao limite. A relação Fluminense-Unimed começou em 1999, quando o clube disputou a Série C. Um casamento que dura uma década e meia. Na contagem dos aniversários, bodas de cristal. Duradouro, mas fácil de quebrar.