Ao menos quatro jornalistas mulheres têm recebido fotos e vídeos que mostram um homem se masturbando sobre a imagem delas em transmissões de TV. Bárbara Coelho e Lívia Torres, da Globo, Narayanna Borges, da Globonews, e Aline Nastari, da TNT Sports, afirmam acreditar que o mesmo homem cria diversos perfis falsos para assediá-las no Twitter e no Instagram.
A reportagem teve acesso aos vídeos e às fotos publicadas nas plataformas. Nelas, o órgão sexual aparece ereto sobre a imagem das mulheres. As duas redes bloquearam os perfis e apagaram as postagens depois de seguidas denúncias das vítimas, mas o assédio se repete por meio de outras contas.
O caso veio à tona hoje, quando Bárbara, apresentadora do Esporte Espetacular, denunciou mensagens que vem recebendo do assediador. Em uma delas, o usuário afirma que não será preso porque "até quem molesta mulheres nas ruas ou estupram não vão presos. Imagina eu por causa de um vídeo dentro da minha própria casa."
A repórter esportiva Aline Nastari, que está trabalhando na final da Copa do Brasil, também confirmou ter sido vítima do homem. "O cara tirou uns prints de foto minha malhando com roupa de academia no Instagram, deu zoom e postou com frases absurdas. No Instagram, eu recebo [essas fotos] com muita frequência, direto. A minha foto e a foto do cara se masturbando. Eu bloqueio e recebo em outro perfil. No Twitter foi o mesmo cara.".
As profissionais afirmam que vão se unir para denunciar o assediador à polícia. Depois da repercussão do caso, a Globo diz que investiga as denúncias de suas profissionais. Em uma das postagens, o homem assistia a uma reportagem na qual Lívia Torres relatava a falta de abastecimento de água em um bairro do Rio de Janeiro. Com uma legenda dizendo que "aqui não falta água", o homem se filmou se masturbando no banheiro.
Bárbara Coelho se disse indignada com o assédio e foi à polícia fazer uma denúncia formal. As outras repórteres dizem que farão o mesmo. "Só tem uma maneira da gente virar esse jogo: denunciando. Não foi a primeira vez que passei por isso, e sei que não vai ser a última. Apenas decidi não me calar mais", escreveu ela.
Prática pode ser enquadrada como crime
Enviar e publicar conteúdo pornográfico sem a permissão da pessoa retratada pode ser enquadrado como crime de importunação sexual, de acordo com a lei 13.718, de 2018. Segundo ela, a ação é definida como a prática de um ato sexual ou libidinoso sem permissão da vítima, "com o objetivo de satisfazer sua lascívia ou a de terceiro". A pena prevista é de 1 a 5 anos de prisão.
Procurado pela reportagem, o Twitter afirma que apagou o conteúdo publicado contra Bárbara Coelho assim que soube do ocorrido. E que uma possível identificação do autor das postagens só poderia acontecer caso a Justiça assim determine. "Em relação à identificação de usuários, casos dessa natureza são matéria do Judiciário e o Twitter coopera com as autoridades competentes, seguindo os devidos processos legais." Já o Instagram disse que está analisando as denúncias.