Dizem que gol marcado fora de casa vale o dobro em finais como essa do Rio Grande do Sul, com saldo qualificado. Até pode ser, mas não em um Gre-Nal. No clássico gaúcho, não há números que possam dar o real valor de dois gols feitos na casa do rival. Não há balança que calcule o verdadeiro peso do gol que Rodrigo marcou para o Grêmio aos 22 minutos do segundo tempo no Beira-Rio, neste domingo, no primeiro jogo da decisão estadual. Nada pode dar a dimensão verdadeira do significado do gol de Borges já perto do fim da partida. Na frieza dos números, significa que o Tricolor bateu o Inter por 2 a 0 e colocou a mão na taça do Gauchão. Na emoção de um dos maiores clássicos do planeta, é muito mais. A semana é toda dos gremistas. E domingo que vem tem mais.
Foi justo. O Grêmio segurou a onda do Inter no primeiro tempo e foi superior ao rival na etapa final. Deu um passo gigantesco para dois feitos determinantes: a conquista do título e da confiança de uma torcida ainda ressabiada. Foi uma vitória em letras garrafais do time de Silas, que pode até perder por um gol no Olímpico que mesmo assim levará a taça.
Por mais difícil que seja, os gaúchos agora precisam esquecer o clássico. O Inter viaja já nesta segunda-feira para a Argentina, onde enfrenta o Banfiel na quarta, pelas oitavas de final da Libertadores. O Grêmio, na quinta, visita o Fluminense pelas quartas de final da Copa do Brasil.
As oscilações do primeiro tempo
Ora o equilíbrio, ora o Inter em vantagem, ora o Grêmio mais à frente. Foi um primeiro tempo de oscilação no Gre-Nal 380. As duas equipes, como se tivessem combinado antes, fizeram um revezamento no domínio das ações: um pouco um, outro pouco o outro, tudo bem dividido, sem aquele egoísmo de uma equipe amassar o oponente, passar o tempo todo no campo de ataque, se sentir dona da bola. Foi um bom primeiro tempo.
Os rivais foram a campo com desenhos parecidos: dois volantes, dois articuladores, dois atacantes. Também se assemelharam na lateral esquerda. O Inter, sem Kleber, optou por Juan, um garoto, zagueiro de origem. O Grêmio, com a ausência de Fábio Santos, fez o mesmo com Neuton. Passou pela semelhança das duas equipes o equilíbrio da etapa inicial.
O jogo começou estudado, como costuma acontecer em Gre-Nais. O Tricolor buscou a jogada aérea e viu a zaga colorada se atrapalhar, mas não a ponto de entregar o doce para o rival. O Colorado preferiu acelerar o jogo e arriscar a gol. Com sete minutos, Walter mandou na trave, Alecsandro aproveitou o rebote e fez o gol, mas o lance foi bem anulado por impedimento. D?Alessandro também tentou de longe, mas para fora.
Aí o Grêmio cresceu. E não largou na frente por muito pouco. Quando a bola caiu nos pés de Borges, livre pela esquerda, já teve colorado pensando na necessidade de o Inter buscar o empate, porque parecia gol certo. O centroavante gremista ficou frente a frente com Pato Abbondanzieri. Um contra o outro, olho no olho, um duelo individual, quase uma batalha daquelas de faroeste, mas reduzida a dois ou três segundos. E Borges perdeu. Chutou em diagonal, cruzado, para fora.
O Grêmio mostrava a cara. Hugo, de cabeça, fez o Beira-Rio suspirar em um respiro de alívio coletivo. A bola passou muito perto. E teve o lance de Jonas, que recebeu na direita, viu dois marcadores passarem reto por ele em um carrinho que parecia sincronizado e mandou o chute. Abbondanzieri defendeu.
E então foi a vez do Inter. Quando o Grêmio tinha o controle do jogo, o Colorado já havia ameaçado com Walter, em uma daquelas pancadas de dar pena da pobre da bola. Victor voou bonito para espalmar. Na cobrança de escanteio, após bate-rebate, Sorondo quase marcou. Edílson cortou sobre a linha.
O Inter fincou posicionamento em campo, distribuiu seus meias, liberou mais o garoto Juan, resolveu correr o risco que o Beira-Rio exige. Foi ao ataque. O Grêmio, bem postado, não deu mole para o rival. Sandro, em cobrança de falta, quase fez golaço. Andrezinho passou por cima da bola, D?Alessandro deu um toquezinho nela e Sandro mandou a pancada. A bola lambeu o travessão de Victor. Quase.
Já viu Gre-Nal sem confusão, mesmo que leve? Pois aconteceu de novo. Ao ver a bola pipocando dentro da área do Grêmio, sem dono, Alecsandro se atirou nela com as pernas. Rodrigo chegou antes e foi atingido. O choque revoltou o zagueiro tricolor, que deu empurrão no centroavante vermelho. Os jogadores dos dois times foram para dentro da área azul. D?Alessandro soltou suas resmungadas habituais. Alecsandro e Rodrigo levaram cartão amarelo. E ficou nisso.
Pressão dá resultado: Grêmio vence!
O Grêmio voltou mais elétrico do intervalo. Jogou como se estivesse em casa, circulou no campo de defesa do Inter e arriscou a gol. A torcida colorada se irritou. Leandro, com cinco minutos, apareceu na área para completar cruzamento de Neuton. Só não fez porque a zaga apareceu bem para travar.
Jonas, logo depois, criou outra ótima chance para a equipe de Silas. Ele recebeu pela esquerda, deixou Nei andando feito barata tonta e mandou o chute cruzado. A bola bateu no poste direito de Abbondanzieri. E saiu.
O Grêmio clamava pelo gol. Edílson cobrou falta aos 18, Jonas desviou no pé da trave, e a bola voltou em Willian Magrão antes de sair. O Inter dava sua contrapartida com Walter. Em duas pancadas, ele deixou Victor com os cabelos ainda mais em pé. O goleirão espalmou duas: uma pelo alto, outra rasteira.
Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Gre-Nais costumam contrariar os ditados populares, mas não foi o caso deste domingo. Rodrigo, aos 22 minutos, em um cabeceio que pode muito bem ser chamado de tiro, flechada ou pedrada, colocou o Grêmio na frente! Foi um ato de justiça. O Tricolor merecia o gol.
E ainda fez outro. O Inter, com a desvantagem, foi para o ataque de qualquer jeito. Deu ao Grêmio as condições de praticamente matar a decisão. Fábio Rochemback bateu falta e Borges, de cabeça, completou, aos 42. Outro belo cabeceio. Outro gol. As portas do museu gremista estão abertas para mais um troféu.