Com Gatito Fernandez e Jefferson de um lado e Diego Alves e César do outro, o último lugar que o torcedor de Botafogo e Flamengo pensou que teria problemas em 2018 era no gol. Neste sábado, às 19h, no Nilton Santos, os dois clubes afastam a crise na posição com a volta da dupla alvinegra de lesão e a sequência de César. Diego Alves não treinou a semana toda junto com o elenco rubro-negro, lesionado e virtualmente afastado por indisciplina.
O foco na posição não se sobrepõe ao contexto de cada clube no Brasileiro. Em terceiro lugar, o Flamengo vê o clássico como última chance de arrancar para tirar o título do Palmeiras, seis pontos na frente. Do lado alvinegro, são quatro pontos acima da zona de rebaixamento.
O drama coletivo de Gatito
Nesse cenário, a volta da dupla de goleiros do Botafogo é um componente emocional caro.
— A importância maior é para o momento da equipe. A presença dos dois dá um peso maior ao time — afirmou o preparador de goleiros Flávio Tênius, descartando rivalidade pessoal. — O ambiente é saudável. Pelo caráter deles mesmo. Sentimento de amizade e companheirismo — reforçou.
Durante seis meses, Gatito Fernandez finalizava o tratamento no punho direito lesionado, ia a campo treinar e deixava a atividade pouco depois. Uma bola mais forte ou uma queda, comuns em suas grandes defesas, traziam a dor de volta. E obrigavam o reinício da fisioterapia e fortalecimento no local.
— Sempre percebi uma preocupação grande do Jefferson no período que o Gatito ficou fora. Ficava preocupado. Por que está doendo de novo, perguntava — recorda o preparador.
O desconforto foi vivido por Flavio Tênius, que confirma um drama coletivo no clube.
— Gatito é muito querido. Foi muito doloroso para nós estar ali no dia a dia. Todo mundo viveu muito o drama dele — lembra.
Na tentativa de manter o foco no Botafogo, Gatito chegou a se reunir com a diretoria para deixar claro que não fazia corpo mole.
— Estava bem chateado, sentou para conversar com o Anderson Barros (executivo), disse o quanto estava incomodando as pessoas acharem que ele estava ali pra receber o salário — conta o agente Rodrigo Pitta.
Quando chegou ao Botafogo, no início do ano passado, Gatito foi a terceira opção. Com Jefferson machucado, ficou no banco para Helton Leite. Uma lesão do então titular na Libertadores abriu espaço para o paraguaio, que entrou e se consagrou, pegando três pênaltis em disputa contra o Olimpia. De lá para cá, se consolidou na posição.
A lesão no punho veio justamente em um dos melhores momentos da carreira de Gatito. Um pouco antes de se machucar contra o Sport, na segunda rodada do Campeonato Brasileiro, Gatito tinha sido herói na conquista do título estadual. Agora, ele volta em outro momento decisivo.
— Tanto na época em que não estava jogando, quanto no período machucado, tive que ter paciência e muita confiança no que estava fazendo. Sempre acreditei que seria recompensado pela dedicação — afirma Gatito.
— Gatito não está no primor da forma, mas tem experiência, ajuda. A presença dele é importante — reforça Flavio Tênius.
O foco de César
No Flamengo, a sequência de César veio após lesão muscular de Diego Alves. O técnico Dorival Júnior resolveu manter o jovem mesmo com o veterano pronto para jogar. A decisão técnica foi vista como acertada pelo ex-preparador do Flamengo, Victor Hugo. Antes da primeira partida da semifinal da Sul-Americana, contra o Junior Barranquilla, no ano passado, Victor Hugo convenceu a diretoria rubro-negra a não ir atrás de outro atleta para a reserva de Diego Alves. Na ocasião, o titular estava lesionado e desfalcaria a equipe. E Alex Muralha, que vinha em baixa após o vice da Copa do Brasil, estava de saída.
— Tive uma conversa com o presidente antes do primeiro jogo. Comentávamos sobre alguns nomes. Eu falei: "Presidente, vamos aguardar o César jogar primeiro". Eu saí, mas o César manteve o foco que ele tinha. Fez de novo um bom papel e se mantém. Futebol para goleiro é momento — diz Victor Hugo.
A temporada 2018 começou com o jovem de 26 anos no banco. Quase ficou atrás de Julio César na fila, após a chegada do ídolo para despedida. Desde que chegou do Audax para o Flamengo, após início bem garoto no Fluminense, César aprendeu a lidar com frustrações, típicas para muitos jovens no Flamengo.
Depois que despontou para o profissional, após o título da Copinha em 2011, a primeira partida de César como titular no Flamengo foi em dezembro de 2013. A única no ano, situação que se repetiu na temporada seguinte, quando Felipe e Paulo Victor eram os goleiros principais. E mesmo tendo realizado 18 partidas em 2015, César acabou o ano emprestado para a Ponte Preta.
No clube paulista, o goleiro se lesionou na semana da estreia, e também perdeu espaço em 2016, quando Muralha chegou. De volta ao Flamengo, mas sem atuar ao longo de todo 2017, a chance enfim caiu no colo de novo. Mas foram apenas quatro jogos antes da volta à reserva em 2018. Agora como primeira opção. E, segundo o preparador Victor Hugo, com potencial para dar conta do recado.
— O César é um goleiro com um tempo de reação muito apurado. Força explosiva muito grande. Embaixo do gol, ele reage muito rápido. E melhorou muito o pé, que tinha dificuldade. Isso vai dar um upgrade na carreira dele — avaliou.
— A gente já comentava que quando ele tivesse a oportunidade agarraria — disse o zagueiro Leo Duarte, também da base.