Silvio Luiz virou o ano como goleiro do Juventude. Mas para voltar a jogar teve que passar por uma verdadeira via-crúcis. Nos últimos 16 meses, ele abdicou do convívio da família para vencer um desafio: recuperar o movimento do braço direito. De onde sai a disposição de um atleta? O goleiro diz que tirou forças da filha, que acabara de nascer.
- Em uma semana, sofri um acidente e a Silvia veio ao mundo. Passei a ver a vida de forma diferente. Só damos valor (à nossa saúde) quando precisamos dela para viver. Hoje estou apto para jogar. Mas a minha família sabe o que eu passei. Fiz muito sacrifício para me recuperar - afirmou.
O ex-arqueiro de São Caetano, Corinthians e Vasco quase teve a carreira encurtada aos 30 anos. Ele bateu de carro contra um ônibus na Avenida Automóvel Clube, Zona Oeste do Rio de Janeiro, em julho de 2008. O veículo teve perda total. Sem cinto de segurança, o jogador rompeu quatro dos cinco tendões do ombro direito. Para a esposa do atleta, o marido não morreu porque não era a hora.
- Ele nasceu de novo. Esse retorno ao futebol deve ser encarado como um recomeço. Foi Deus que o amparou. Ainda bem que o Sílvio Luiz não sofreu nada na cabeça nem no peito. Mas, por dois meses, ele dormiu de lado numa cadeira de praia porque não suportava encostar o ombro direito no colchão da cama. Teve que tomar banho com a ajuda de parentes e precisamos dar comida na boca dele - revelou Márcia.
Não bastasse o susto ao volante, o atleta entrou em depressão. Temia não só pelo fim da profissão, como também achou que pudesse ficar incapacitado para o futebol. Resultado: perdeu a vontade de encontrar os amigos e só suportava a família ao seu lado. A vida dele só começou a mudar quando decidiu se curar da lesão a todo custo.
Silvio Luiz teve de fazer fisioterapia por um ano e quatro meses. Os exercícios eram divididos em três turnos e duravam oito horas por dia, com descanso só aos domingos. O arqueiro passou a tomar café da manhã, almoçar e lanchar em uma clínica de reabilitação carioca.
- Em 20 anos de profissão, nunca tinha visto uma lesão tão séria. Nos últimos meses, o Silvio passou mais tempo se exercitando do que ao lado da família. Acho que ele se recuperou porque nunca questionou o tratamento. Primeiro, recuperamos psicologicamente o ser humano. Depois, percebemos que era possível fazê-lo voltar a jogar - garantiu o fisioterapeuta Fábio Marcelo.