Quem te viu, quem te vê. Há um ano e meio, a CBF demitiu Mano Menezes e o substituiu por Luiz Felipe Scolari. A seleção brasileira decolou, ganhou a Copa das Confederações e hoje é uma das principais favoritas a ganhar a Copa do Mundo. O novo técnico estreou no início do ano passado e fez algumas mudanças que puseram a equipe de volta aos trilhos. A seguir, 10 motivos pelos quais o treinador do penta deixou a Seleção mais perto do hexa.
Além de Felipão, voltaram a bordo gente como o coordenador técnico Carlos Alberto Parreira e o preparador físico Paulo Paixão, com Copas e títulos mundiais nas costas. A mudança teve efeito imediato entre os jogadores, que passaram a respeitar muito mais a comissão técnica.
CONVICÇÃO
Felipão estreou com derrota para a Inglaterra, em 6 de fevereiro de 2013. Ao fim daquela partida, decretou: "Não posso jogar com dois volantes tão leves." Paulinho e Ramires vinham sendo escalados com frequência pelo antigo treinador. A partir de então, um cão de guarda foi colocado à frente da zaga. Depois de alguns testes, Luiz Gustavo se tornou titular.
O time jogou todas as partidas da Copa das Confederações com a mesmíssima formação, o 4-2-3-1, algo que não aconteceu nem na Copa América de 2011 nem na Olimpíada de 2012 com Mano. A volta de um centroavante de origem em substituição ao "falso 9" também marcou a mudança no esqueleto da Seleção.
GOLEIRO
A segunda "era Felipão" sempre teve Júlio César como seu goleiro número 1 - ainda que ele faça questão de usar a camisa 12. O treinador ignorou o longo tempo que o atleta ficou sem jogar ao sair do QPR para o Toronto. Nos dois anos e meio da "era Mano", foram titulares Victor, Julio César, Jefferson e Diego Alves - além de Rafael e Gabriel, na seleção olímpica.
CONFIANÇA
O que Felipão fez com Julio César, fez para quase todas as posições. Seus 11 titulares são os mesmos há muito tempo. Mesmo os reservas são quase sempre os mesmos: Jefferson, Dante, Hernanes, Ramires, Bernard, Jô. Os atletas se conhecem e sabem que não estão com a cabeça a prêmio por qualquer falha.
SEM PRESSÃO
Kaká não rendeu? Fora. Ronaldinho se atrasou na apresentação? Fora. Há gritos por Lucas nos treinos e jogos? Não importa. A comissão técnica não se deixou levar por pressões externas e até mesmo as decisões mais impopulares acabaram sendo aceitas por todos. Tanto que não houve clamor por ninguém na convocação final.
CLÁSSICOS
Felipão estreou contra a Inglaterra, depois emendou amistosos contra Itália, Rússia, Chile, Inglaterra de novo e França. Teve um passeio na Bolívia no meio, tudo bem. No segundo semestre, foi a vez da seleção portuguesa. Itália outra vez, Uruguai e Espanha caíram na Copa das Confederações. As vitórias demoraram um pouco, mas devolveram ao Brasil o respeito dos adversários e a certeza do caminho certo.
REDOMA
Com Felipão, Neymar não fala - ou fala menos. E aparece pouco fora do campo. O último amistoso da seleção brasileira antes da convocação para a Copa do Mundo é um exemplo claro. O craque do Barcelona fez três gols na vitória por 5 a 0 sobre a África do Sul, mas não abriu a boca. Passou reto pela área de entrevistas e não falou em coletiva. O treinador sempre faz questão de enaltecer seu principal jogador. Coloca-o no mesmo patamar dos maiores craques do futebol mundial e o defende mesmo nas questões mais delicadas. Scolari também conversou com seus representantes para que os compromissos comerciais ficassem em segundo plano nos momentos decisivos, como o de agora. O resultado pôde ser visto em campo: Neymar participou dos 20 jogos e fez 13 gols.
CHEFÃO
Luiz Felipe Scolari é o "presidente" da seleção brasileira. Escolhe os hotéis onde o time vai se hospedar, o cardápio, as folgas, opina até mesmo sobre quem dá entrevista. Ganhou uma autonomia que os seus antecessores não tinham, com o respaldo de já ter sido campeão mundial em 2002. Só Carlos Alberto Parreira e Flávio Murtosa, seu fiel escudeiro há três décadas, são consultados.
DISCURSO
Felipão adotou discurso inflamado, patriótico, que agradou ao torcedor que vai ao estádio. Sob seu comando, a Seleção só foi vaiada no país contra o Chile, o contrário do que aconteceu com todos os seus antecessores - e com ele mesmo, na primeira passagem. O discurso contaminou até o comedido Parreira, que chegou a dizer que "o Brasil está com uma mão na taça".
SORTE
O técnico pode até não reconhecer, mas há um pouco de sorte nisso tudo. O pênalti perdido por Forlán com poucos minutos de jogo na semifinal da Copa das Confederações, a bola que David Luiz salvou na final contra a Espanha, as lesões que nunca desfalcaram seu time em horas importantes. Até hoje, tudo conspirou a favor.