“Farra milionária”: revista revela manobras do presidente da CBF para garantir reeleição

Revista Piauí expõe bastidores da presidência de Ednaldo Rodrigues, com gastos suspeitos, favorecimentos a aliados e denúncias de assédio

Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF | Divulgação/CBF Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF | Foto: Divulgação/CBF
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Uma reportagem publicada nesta sexta-feira, 4, pela revista Piauí trouxe à tona uma série de revelações sobre os bastidores da gestão de Ednaldo Rodrigues na presidência da CBF. O material detalha manobras políticas, uso controverso de recursos da entidade, favorecimentos pessoais e até denúncias de assédio moral e sexual. O objetivo principal, segundo a revista, seria consolidar o poder de Ednaldo e garantir sua reeleição.

Salários turbinados para aliados travam concorrência

Um dos pontos mais sensíveis da reportagem envolve o aumento expressivo dos salários dos presidentes das federações estaduais, que compõem o colégio eleitoral da CBF. Antes da gestão de Ednaldo, esses dirigentes recebiam R$ 50 mil mensais. Agora, os vencimentos estão na casa dos R$ 215 mil, representando um aumento de 330%, com direito a 16º salário.

Esse benefício milionário se tornou um obstáculo para qualquer tentativa de oposição, esse foi um dos principais motivos que barraram Ronaldo Fenômeno, que buscava apoio para lançar sua candidatura à presidência da CBF. O ex-jogador sequer conseguiu ser recebido pelos dirigentes estaduais para apresentar suas propostas.

Viagens de luxo e agrados pessoais

A reportagem também revela que, durante a Copa do Mundo do Catar, a CBF bancou uma comitiva de 49 pessoas sem vínculo com a entidade, incluindo deputados, senadores, desembargadores, empresários e artistas. Todos viajaram em voos de primeira classe, com hospedagem em hotéis cinco estrelas e ingressos para os jogos da Seleção. O custo total da cortesia teria ficado na casa dos R$ 3 milhões.

Entre os agraciados, destaca-se Roberto Góes, presidente da Federação Amapaense de Futebol e vice da CBF. A entidade nacional pagou passagens de Macapá a São Paulo e estadia em hotel de luxo para ele, sua esposa, filha e irmã. A justificativa era um procedimento cirúrgico da esposa, mas o dirigente pediu e recebeu, autorização para ficar mais dez dias, tudo por conta da CBF. A conta final ficou em R$ 114 mil.

Cortes para árbitros, investimentos cancelados

Ao mesmo tempo em que liberava verbas generosas para aliados, a CBF cortou as viagens e hospedagens dos árbitros da Série A, que antes iam ao Rio de Janeiro para avaliações físicas quinzenais. A justificativa oficial foi de restrição orçamentária, e os testes passaram a ser realizados por videoconferência.

A medida foi criticada por profissionais do apito, principalmente após o engavetamento de um projeto de R$ 60 milhões, idealizado pelo então chefe da Comissão de Arbitragem, Wilson Seneme, para criar um centro de treinamento exclusivo para árbitros. O plano chegou a ser aprovado, mas foi deixado de lado, e Seneme acabou sendo demitido após críticas à arbitragem na temporada passada.

Pagamentos, acordos políticos e denúncias de assédio

A Piauí também revelou que a CBF pagou R$ 2,5 milhões ao cartola alagoano Gustavo Feijó, que era aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira, e possível adversário de Ednaldo. O valor seria referente a um processo judicial em Alagoas, mas, segundo a reportagem, o repasse ajudou a neutralizar a candidatura rival.

Além disso, R$ 10 milhões foram destinados à contratação de Maria Claudia Bucchianeri, ex-advogada de Lira e hoje ministra do TSE, para atuar em ações estratégicas da entidade.

A reportagem ainda traz graves denúncias da arquiteta Luísa Xavier da Silveira Rosa, que acusou Ednaldo de assédio moral e denunciou o esvaziamento de suas funções na entidade. Segundo sua advogada, ela foi nomeada diretora de patrimônio apenas para fins de marketing.

Luísa também relatou casos de assédio sexual, envolvendo o ex-diretor de comunicação da CBF, Rodrigo Paiva, e Arnoldo Nazareth Filho, ligado à Federação Amazonense. Ela denunciou que ambos faziam elogios insinuantes e convites indesejados, além de relatar a contratação de prostitutas para eventos da CBF.

A reeleição de Ednaldo Rodrigues ocorreu com apoio unânime das 27 federações e dos 40 clubes das Séries A e B. A reportagem da revista Piauí, no entanto, levanta sérias questões sobre os custos políticos, éticos e financeiros desse apoio quase incondicional.

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