O Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBTI+ acionou a Procuradoria do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) contra o Internacional e o técnico Abel Braga após uma fala homofóbica do treinador durante sua apresentação oficial. A denúncia também inclui o ex-técnico do clube, Ramón Díaz, por uma declaração misógina concedida em coletiva recente. Para a entidade, os dois episódios evidenciam um “padrão preocupante” de comportamento discriminatório no ambiente do Colorado e configuram violação ao artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD).
A fala de Abel Braga e a reação imediata
Durante a coletiva de apresentação, Abel Braga comentava sobre ambiente de vestiário e uniformes de treino quando afirmou:
“Eu não quero a porra do meu time treinando de camisa rosa, parece time de viado.”
A declaração repercutiu negativamente nas redes sociais e entre grupos de defesa de direitos humanos. Horas depois, Abel publicou um pedido de desculpas.
Em sua retratação, disse que “cores não definem gêneros” e afirmou que não teve a intenção de ofender.
Para o Grupo Arco-Íris, porém, a retratação não elimina os efeitos da fala. A entidade argumenta que, considerando a posição de liderança e visibilidade do técnico, declarações como essa “reforçam estigmas, influenciam comportamentos e naturalizam práticas discriminatórias dentro do esporte”.
Misoginia em pauta: o caso Ramón Díaz
A denúncia também envolve o ex-treinador do Inter, Ramón Díaz, que, após empate contra o Bahia pela 33ª rodada, declarou que “futebol é para homens, não é para meninas”. Criticado imediatamente, Díaz também se retratou posteriormente.
Ainda assim, o Grupo Arco-Íris afirma que os dois episódios, ocorridos em um intervalo curto de tempo, configuram reincidência de discursos discriminatórios vindos de membros da comissão técnica do Internacional.
Os advogados Carlos Nicodemos e Maria Fernanda Cunha, responsáveis pela representação, sustentam que a repetição de falas desse tipo dentro do clube indica um comportamento institucional que necessita de resposta enérgica da Justiça Desportiva.
Possíveis punições ao clube e aos treinadores
A denúncia protocolada cita o artigo 243-G do CBJD, que prevê suspensão de até dez partidas e multa de até R$ 100 mil em casos de manifestações discriminatórias. O dispositivo também permite punições ao clube quando a infração é cometida por pessoas vinculadas à instituição.
A entidade lembra que há precedentes no próprio tribunal, destacando a punição aplicada ao atacante Dudu por misoginia contra a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, o que reforça a expectativa de responsabilização dos envolvidos.
Medidas de reparação e pedido ao STJD
Além da solicitação para que a Procuradoria ofereça denúncia formal, o Grupo Arco-Íris requer que Inter, Abel Braga e Ramón Díaz passem por ações afirmativas como participação em cursos, seminários, planos de prevenção e campanhas públicas de conscientização contra discriminação.
O pedido é assinado pelo presidente da organização, Cláudio Nascimento, que afirma que o futebol, como esporte de grande impacto cultural, não pode permitir que discursos de ódio se tornem normalizados ou relativizados.