O atacante Salvador Cabañas era o principal destaque da seleção paraguaia que havia terminado as eliminatórias sul-americanas apenas um ponto atrás do Brasil e que ficou à frente da Argentina. Marcou gols contra a seleção brasileira nos jogos de ida e volta e ainda foi o carrasco flamenguista ao calar o Maracanã na Libertadores de 2008. Foi também o algoz do Santos na mesma competição.
Mas a grande esperança paraguaia perdeu a Copa do Mundo de 2010 após fatidicamente levar um tiro na cabeça na noite mexicana no dia 25 de janeiro e ficar entre a vida e a morte.
No mesmo período, Adriano jogava pelo Flamengo e era tema de algumas confusões em sua vida pessoal e faltava a treinos. Fez parte do grupo de Dunga durante quase toda a passagem do técnico pela seleção, mas perdeu o Mundial de 2010. O estopim para ficar fora foi quando então auxiliar de Dunga, Jorginho, visitou o clube carioca para analisar o atleta. Adriano não estava lá. Faltou sem dar justificativa.
A ausência dos dois atletas no Mundial e o início do segundo semestre de 2010 foi quase que um divisor de águas na carreira dos dois jogadores, por motivos distintos.
De lá pra cá, nos últimos dois anos, Adriano passou por Roma, Corinthians e agora treina no Flamengo. Pouco jogou no time italiano e no do Parque São Jorge em função de várias lesões e lenta recuperação de seus problemas físicos.
Na Roma, foram apenas 355 minutos em campo (sem gols em jogos oficiais), o que levou a equipe a liberá-lo para o Corinthians. Chegou ao Brasil com pompa e grande apresentação. Mas rompeu o tendão-de-Aquiles do pé esquerdo antes de estrear. Depois disso, teve demora para adquirir a condição física ideal para voltar. Mesmo depois da pré-temporada deste ano, quase nunca jogava.
Foi demitido por justa-causa do clube após realizar oito jogos e um total de 350 minutos em campo. No total, nos últimos dois anos, Adriano atuou apenas 705 minutos. Assinou contrato com o Flamengo há cerca de um mês, mas não joga por se recuperar de uma cirurgia no tendão calcâneo do pé esquerdo.
Nos últimos dois anos, Cabañas viu melhorar sua condição clínica, conviveu com dificuldades financeiras e tentou de todas as formas retornar ao futebol. Foi forçado a abandonar as chuteiras por causa das sequelas e por ter a bala ainda na cabeça. Mas resistiu.
Em dezembro de 2011, 18 meses após ser baleado, o paraguaio entrou em campo pela primeira vez. Foi num jogo-homenagem feito para ele pelo América mexicano e a seleção de seu país, que acabou empatado por 0 a 0.
Insistente, no dia 14 de abril de 2012 fez seu primeiro jogo profissional após ser baleado. Entrou em campo pelo 12 de Outubro, time que o revelou , em jogo válido pela terceira divisão paraguaia. Jogou 41 minutos.
Não há registros oficiais na terceira divisão do tempo que Cabañas atuou desde então. Mas o presidente do clube, Luiz Salinas, disse que ele entrou mais de vezes em campo após seu primeiro jogo e que atuava pelo menos um tempo por partida, mas muitas vezes foi mais do que isso.
Assim sendo, nos últimos dois anos, de acordo com o cálculo do presidente, Cabañas já atuou quase 600 minutos em campo pela equipe. "Ele entrou várias vezes, sempre jogou e ajudou muito o time. Participou de vários jogos bem. Ou jogava um tempo, algumas vezes até 65 minutos", falou.
Se considerados 600 minutos, é apenas um jogo e 15 minutos a menos do que jogador do Flamengo que conviveu apenas com problemas físicos, enquanto o paraguaio joga com bala alojada na cabeça.
As condições em que Cabañas atua, no entanto, são questionáveis. O ex-treinador do 12 de Outubro Rolando Chilavert pediu demissão ao alegar que o jogador não tem condições de atuar que tinha que escalá-lo por pressão dos dirigentes. ?Cabañas não pode continuar no futebol. Seu nível não está à altura. Tenho grande afeto por ele, mas é preciso encarar a realidade. Pretendia ser campeão com o 12 de Outubro sem Cabañas, mas a diretoria quer o título com ele. Aí está minha diferença em relação a eles?, falou, em junho deste ano.
O fato foi desmentido então rapidamente pelo presidente do clube. ?Jamais impusemos coisa alguma a Rolando. Ganhamos três jogos com Cabañas na equipe e perdemos apenas uma. Quando ele não estava no time, também fomos derrotados?, falou.
Depois disso, a própria esposa do jogador, Maria Lorgia Alonso, admitiu que as condições motoras de Cabañas não são ideais para um jogo de futebol profissional e falou que o jogador atua por marketing. ?Ele é proibido de cabecear e sua vida corre riscos se ele jogar profissionalmente. Deixei bem claro quais eram as limitações de Salvador. Ele está no time mais por marketing?, disse.