Diego caiu como uma luva no Flamengo. Embora tenha revelado receio de voltar ao Brasil após 12 anos na Europa, o meia não esconde que o Rubro-negro foi amor à primeira vista, e já sonha com a renovação.
Em entrevista, o jogador de 32 anos fala sobre o encantamento com clube e torcida, e diz que interrompeu o projeto de viver fora do país para realizar o sonho de vestir o manto sagrado. A camisa 10, no entanto, ele dispensa. Diego é o 35 do Mengão, com muito orgulho.
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Você já se sente ídolo do Flamengo em tão pouco tempo?
Foi natural. Sem forçar a barra. Existia um certo receio de voltar ao Brasil depois de 12 anos fora. Você cria uma mentalidade europeia, mas jamais esqueci tudo de bom que tem o Brasil. É a realização de um sonho de vestir a camisa do Flamengo. Foi na hora certa.
O Flamengo já tinha tentado te contratar. A melhor estrutura ajudou dessa vez?
Ajuda, atrai o jogador, saber que está sendo bem administrado. Pesa na decisão. O que eu encontrei foi o que as pessoas me falavam, até melhor. Para o jogador isso é fundamental para trabalhar com tranquilidade.
Por que o receio então?
A adaptação no geral, ao momento que o país vivia. As informações não eram as melhores, tenho dois filhos, tinha a vida consolidada na Europa. Pensava em morar lá. Mas sempre com o coração qui no Brasil. Existia esse receio, que acabou no primeiro dia. A recepção foi maravilhosa e a adaptação rápida. Hoje vivo um dos melhores momentos da minha vida pessoal e profissional.
Por que houve essa conexão tão rápida, no aeroporto, nos jogos, com a torcida ?
A torcida sentiu sinceridade, procuro ser natural com o que sinto. Houve identificação instantânea. Isso pesou. A torcida viu que não eram só palavras, vinham do coração, e isso para o flamenguista é importante.
É suficiente os três anos de contrato com o Flamengo?
Não tenho certeza. É prazeroso participar dessa crescente, tenho muitos sonhos ainda, e vamos ver o que vai acontecer. Dá a sensação de que três anos não vai ser suficiente. Vou viver intensamente cada momento.
Chegar e não vestir a camisa 10 tirou o peso? Vai usar na Libertadores ela ou a 35?
A camisa 10 do Flamengo é diferente por causa do Zico. Mas estou satisfeito com o número 35, pelo significado que ele tem. Cada vez que olho passa uma história de como aconteceu, dos meus filhos, pelo que estou jogando. Ver as pessoas na rua com o número 35 é prazeroso. Quando é para acontecer, acontece, independente do número. Tem sido especial, fica uma irreverência. Estou satisfeito. O Ederson usa a 10 e estamos bem servidos.
O Flamengo se mostrou um time maduro em 2016, mas perdeu aquela cara no fim do Brasileiro. O que faltou?
Existe um desgaste físico e psicológico. Mas os empates não estavam no nosso planejamento. As equipes se prepararam mais para jogar contra a gente e neutralizar. Talvez nesse aspecto poderíamos feito algo diferente. Isso na briga pelo título faz a diferença. Mas faz parte. Por tudo que fizemos nada me tira da cabeça que a temporada foi positiva, temos que comemorar a classificação na Libertadores. Os detalhes podem ter feito diferença mas nossa hora vai chegar.
A Seleção ficou para trás?
Sou feliz com minha trajetória, apesar de não jogar uma Copa do Mundo. Não reclamo de oportunidades e não aceito dizerem que não aproveitei elas. Cheguei e existia uma hierarquia, jogadores com história, tinha que respeitar. O que influencia são as decisões do treinador. Deixei de ser convocado no meu melhor momento, quando estava indo para a Juventus. Mas não carrego frustração, sou grato, e ainda sonho com ela. Mas nesse momento a cabeça está voltada no Flamengo, porque tem sido prazeroso ser reconhecido aqui.
O que o torcedor pode esperar para 2017?
Esse crescimento não tem limite. A expectativa é positiva, no que depender de nós vamos conquistar títulos e retribuir o carinho deles.
E no futuro, mundo árabe e China te seduzem?
Não penso nessa possibilidade nesse momento. Tomei a decisão de vir para o Flamengo não pelo lado financeiro. Foi clara a minha decisão de vir para realizar um sonho. Existiam outras propostas muito mais interessantes financeiramente. Depois de viver um momento como esse não me passa pela cabeça abandonar esse projeto. Tenho três anos de contrato e vou cumprir.
Como foi esse ano sem tempo esse ano para a família, por causa das viagens?
Não tenho do que reclamar, sou realizado pessoalmente, esposa e dois filhos que me fazem feliz. Encontro um tempo para eles, faz parte da profissão essas viagens. Precisa dedicar o tempo. Meu relacionamento é saudável e de qualidade apesar do tempo. Os encontros são de qualidade. São presentes de Deus.
Eles jogam bola?
O mais velho mais que o mais novo. O mais novo, desde que chegou, o olho brilha mais, entrou no Maracanã, está aflorando. O mais velho joga 24 horas, comenta, corneta, vai na escolinha. Ele está em uma escolinha no colégio e na do Flamengo também.
Em 12 anos de Europa ficou alguma frustração, talvez de não ter ido para o Real Madrid?
Eu tive algumas propostas de grandes clubes, Real foi um, Bayern, escolhi a Juventus pelo que me passaram, ficaram dois anos indo na minha casa, o presidente, treinador me ligava, além da admiração que eu tinha por eles e pelo futebol italiano. Acabei escolhendo ir para lá. Ali a diferença para dar esse plus seria ter conquistado títulos, eu era o principal jogador, a equipe era muito forte, mas não tivemos títulos. Seria o ápice. Mas futebol está sujeito a isso. Nenhuma frustração, fiz o que estava no meu alcance. Tenho boas recordações. Não tira o brilho da minha trajetória.
O que dizer para os brasileiros que estão indo para a Europa 12 anos depois de você, como o Gabriel Jesus?
Que mantenha a alegria de jogar, se prepare para os desafios. Que tenha perseverança. Quando sai do país isso é importante. Em alguns momentos natural pensar em voltar ps o por to seguro, nosso pais, clube de coração, que vá de corpo e alma, vale a pena, é encantador, vale a pena seguir alguns anos por lá.
Surpreendeu a consolidação do Neymar no Barcelona?
Acho que não porque pelo que acompanho ele parece ser um garoto de bom caráter, e que transborda essa alegria e prazer de jogar. Se preocupa pouco com o extracampo. Entra e mantém a forma alegre de jogar. As atitudes foram todas perfeitas. Como se adaptou, se aproximou do Messi, humildade no momento certo, sem perder a forma de jogar, a autoridade. Eu admiro o que o Neymar fez, é merecedor.
Na sua épca tinha hierarquia, hoje ele exerce protagonismo solitário na seleção?
Ele foi, sim, sobrecarregado. Não é bom. Mas na cabeça dele talvez não carregasse esse peso. De fora era tudo relacionado para ele. Não é saudável. Mas soube lidar bem e hoje começa a dividir mais. Apesar de ele ser o protagonista. A seleção está com cara de equipe. Fica mais leve par atodo mundo.
Seu nome batiza um CT do Santos. Aqui, como tem visto e o que espera do trabalho para a base?
Estrutura, preparação bem feita e paciência são fundamentais para não queimar etapas. O Santos tem feito isso muito bem. Naquela altura foi uma situação especial porque foi queimando etapas, realmente, mas o trabalho estava de anos e eu estava preparado, queira ou não. O fundamental é isso, e o Flamengo tem feito, misturado os garotos, é um estágio perfeito para eles viver esse ambiente. Estão no caminho certo.
Onde você estava no dia do 7 a 1? Com anos no futebol alemão, consegue explicar aquela atuação?
Eu estava no Guarujá, mas estive seis anos na Alemanha, e fizeram isso, prepararam bem e respeitaram o processo, não foram imediatistas como nós somos. Prepararam os jogadores por alguns anos e nas situações adversas não mudaram o plano. E você colhe os frutos desse trabalho. Foi bem claro o processo. Chegou o momento deles colherem. Infelizmente aquele resultado acabou sendo algo simbólico, a diferença não condiz com o resultado, mas por alguns minutos sofreu com aquela situação, não soube administrar. Agora a seleção está se reerguendo e temos que ter os alemãs como exemplo.
Depois dessa tragédia com a Chapecoense, o que um ídolo como você falaria para o torcedor de futebol?
Nunca um acontecimento me impactou tanto. Essa é minha vida, meu cotidiano. Por alguns minutos todos pensamos, oramos, e reconhecemos nossa fragilidade. Que realmente o amor prevaleça, que se conscientize que o mais importante é a vida. No esporte nos dedicamos 100% e nos esquecemos do mais importante que é o ser humano. Esse amor ao próximo que temos visto nos últimos dias é muito bonito, mas que não seja só momentâneo, e isso sirva para carregar esse amor e respeito ao próximo sempre. Estou à disposição para ajudar no que for necessário.
O que o torcedor do Flamengo pode pedir para Papai Noel e de Ano Novo?
Acho que queremos e vamos dar continuidade no trabalho. Esse crescimento não tem limite. Que possamos perseverar, a expectativa é de um ano muito positivo, e no que depender de nós vamos conquistar títulos e retribuir o carinho.