Dentinho bate no peito: sou meu próprio agente

O gesto ajuda a explicar a personalidade decidida de Dentinho

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O corintiano Dentinho chega para a entrevista com o Terra e explico a ele o tema da conversa. Denis, o assessor que nos acompanha, se surpreende um pouco com o fato de o jogador não ter um empresário. Dentinho responde positivamente com a cabeça, bate duas vezes com a mão direita no peito e diz seguro de si: "sou meu próprio empresário".

O gesto ajuda a explicar a personalidade decidida de Dentinho, que morou 16 anos de sua vida no Jardim São Jorge, periferia paulistana. Aos 21, ele decidiu andar com as próprias pernas e descartou a companhia de um agente Fifa.

Em meados do último ano, se encerrou o contrato que dava a Cláudio Guadagno, ex-lateral do Palmeiras, a procuração de Dentinho. Desde então o jogador se viu envolvido até em especulações de que havia sido pressionado a fechar com Carlos Leite, o agente mais influente no Corinthians, mas por enquanto prefere ficar só com o velho escudeiro José Ferreira. "Estou tranquilo e com a cabeça boa", repete várias vezes.

Em entrevista exclusiva concedida ao Terra no Parque São Jorge, o principal artilheiro do Corinthians na temporada (seis gols) explica por que não tem empresário no momento, embora seja aconselhado por um amigo de infância. Ele também deixa no ar a possibilidade de assinar futuramente para conseguir uma transferência para o exterior. São dois sinais de que independência total dos jogadores ainda é um certo mito.

Leia a entrevista com Dentinho na íntegra:

Terra - Por que você não tem empresário?

Dentinho - Eu tinha empresário, mas meu contrato com ele acabou. Eu tenho uma pessoa que está comigo desde pequeno e me dá uma força, que é o José Ferreira. Eu e ele optamos por não assinar com nenhum agente Fifa no momento.

Terra - Qual a razão para isso?

Dentinho - Preferi esperar, ter mais tranquilidade. Conversei com o presidente e se chegasse uma proposta boa, chegaria ao Corinthians. Então quando tiver que escolher alguém, será na tranquilidade. No momento, eu não quero.

Terra - Quando acabou o seu vínculo com ele? Sua decisão te trouxe algum problema?

Dentinho - Acabou no meio do ano passado, então preferi não assinar. Jogador também tem que confiar no clube, e confio bastante nas pessoas que trabalham e no presidente. Ele não vai fazer sacanagem comigo, quer o melhor para o Corinthians e para mim.

Terra - Não ter empresário dificulta boas negociações?

Dentinho - Eu preciso estar jogando. Meu empresário sou eu mesmo dentro de campo. Jogando bem, as propostas vão chegar. Estou muito feliz e em um momento maravilhoso, espero dar sequencia e vencer a Libertadores no Corinthians.

Terra - Você se dava bem com o empresário que tinha?

Dentinho - Engraçado que a relação era muito boa! Conversamos bastante, tivemos muitas felicidades juntos, mas optei por não renovar com ele. Era um excelente empresário, mas optei por ficar sozinho.

Terra - Ele te ajudou bastante?

Dentinho - Sempre depende muito do jogador. Se não jogar, se estiver mal, não tem empresário que dê jeito. Ele me ajudou trazendo para o Corinthians, mas tive uma batalha muito grande para passar nas peneiras. Comecei a treinar lá embaixo com meninos de testes. Ele me trouxe para o clube, mas depois tive que caminhar com minhas próprias pernas.

Terra - E o José Ferreira?

Dentinho - Ele me ajuda desde pequeno. Me dava café da manhã, bala, me trazia até o clube...

Terra - Quando chega uma proposta ou precisa negociar um contrato, como você faz?

Dentinho - Converso muito com a minha família, com o presidente, com essa pessoa que me ajuda desde pequeno...já chegou uma proposta do Catar há pouco tempo e não aceitei. Conversei com o presidente que não queria aquilo, mas mais para frente penso bastante em Espanha e Itália. Minha cabeça é bem formada e não quero esses lugares como o Catar.

Terra - Não ter que dividir seu salário com outra pessoa também colaborou para a decisão?

Dentinho - Na época que eu tinha contrato com ele (Cláudio Guadagno), eu recebia pouco também. Tinha que dar 10% para ele, 10% para o José Ferreira...mas isso não pesou nada. Ele era uma excelente pessoa, só optei por não assinar.

Terra - Você não teme perder uma oportunidade?

Dentinho - Não me preocupa. Sou meu próprio empresário, se estiver bem em campo vai chegar proposta. Os jogadores da base do Timão tinham que ver isso: tem que estar bem em campo e com a família, por isso sou meu empresário.

Terra - Então essa história de que é preciso um empresário é um mito?

Dentinho - Não vou falar que não precisa. Hoje para um moleque sair da periferia, como eu, precisa de empresário para chegar ao clube. Não é qualquer um que passa sem empresário, e se você passa, já tem um na porta. Mais para frente vou precisar, quem sabe daqui para a frente? Empresário é importante, pode negociar você lá fora.

Terra - Muita gente já te aconselhou a assinar com um empresário?

Dentinho - Bastante gente fala, muitos empresários já me procuraram, ofereceram dinheiro e outras coisas. Eu digo que mais pra frente a gente conversa, quando precisar vou assinar. Acabei de sair de um e ia assinar com outro? Não é legal.

Terra - Isso colaborou no seu momento ruim? Ou agora para um momento bom?

Dentinho - Não, nada a ver. Jogador precisa estar bem, empresário não vai resolver suas coisas em campo. No começo do ano estava chateado por estar no banco depois de três temporadas jogando, e chegaram jogadores novos com qualidade.

Terra - O que o Mano conversou com você durante esse período?

Dentinho - Disse que uma hora eu ia ter oportunidade. Eu também tinha muito problema de tornozelo e coxa. Fiz cinco gols em cinco jogos, estou em um grande momento. Fiquei muito feliz de entrar na história com o gol 10 mil, e de novo com cinco gols em cinco jogos. Meu maior sonho agora é conquistar a Libertadores.

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