Em clássicos contra a Argentina, o Brasil normalmente entra campo preparado para a tradicional catimba rival. Mas quando isso acontece diante de um adversário sem tradição, torna-se quase um choque. Ainda mais quando a estratégia para atrasar o jogo é tirar a chuteira do pé e jogá-la no gramado, obrigando o árbitro a parar a partida. A ?tática? usada por Cuba para garantir o empate em 0 a 0, na última sexta-feira, pelos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, deixou a Seleção sub-20 perplexa.
- Os cubanos comemoraram o empate como se fosse título de Copa do Mundo e acho que devem fazer isso mesmo. Eles queriam esse resultado, tanto que em três vezes os atletas tiraram as chuteiras em campo para parar o jogo. Algo que eu nunca tinha visto no futebol.
A tática pode ser encarada como amadora, mas esta definição é precisa quando se trata do futebol cubano. Seus jogadores atuam apenas em ligas locais, não são profissionais e nem podem deixar o país pelo sonho de construir uma carreira de sucesso.
É o caso do zagueiro Dayan Hernandez. Conformado, ele afirma que seu próximo passo é chegar à seleção sub-23, depois ao time adulto e, em seguida, ser professor de educação física. Tudo isso recebendo apenas uma bolsa de estudo. Por isso, ele não teve vergonha alguma de admitir a tática da chuteira, além de prever sua continuidade no jogo contra a Argentina, neste domingo.
- Fizemos isso conscientemente, sim. Foi uma estratégia para parar o jogo. Não é a primeira vez que usamos isso, mas fizemos poucas vezes. Deu certo e, se for preciso, vamos repetir na próxima partida - disse Hernandez, sem esconder o sorriso.
O goleiro brasileiro César também admitiu nunca ter visto a tática da chuteira. Mas procurou não condenar os adversários.
- Eles jogaram a vida contra nós, e não tem como recriminar alguém por isso. Foi um recurso para ganhar tempo e alcançar o resultado que Cuba queria. Nós precisamos pensar na nossa equipe, pois temos plenas condições de alcançar a classificação - afirmou o jogador do Flamengo.
Sem entrar em polêmica, o técnico de Cuba quis apenas traduzir em palavras a euforia de seus jogadores no gramado do Estádio Omnilife após a partida. Alexander Gonzalez classificou o resultado como possivelmente o mais importante da história do futebol de seu país.
- Para falar a verdade, não esperava que isso pudesse acontecer. A ideia do time era apenas se divertir, mas o que eles fizeram em campo foi sensacional. Jamais vivi uma situação como essa. Os meninos se entregaram de corpo e alma e, com esse resultado, o sonho pode virar realidade. Vamos buscar a vitória e a classificação, que seria o máximo para o povo cubano.