Doze cidadãos brasileiros que estão ?na mão de uma justiça falha e não mão de uma justiça lenta?. É assim que o corintiano Tadeu Macedo Andrade, vice-presidente da uniformizada Gaviões da Fiel define a situação em que ele e outros 12 brasileiro enfrentam, presos há quase 60 dias em Oruro, na Bolívia. Hoje (17), estava marcada a reconstituição no estádio Jesús Bermudez.
?Se o governo brasileiro e as autoridades brasileiras não se moverem, nós vamos ser enterrados vivos numa cadeia da Bolívia?, afirmou. ?Nosso caso é complicado e nossa situação, delicada. A gente precisa dessa ajuda para que gente inocente não continue presa?, completou.
Os 12 corintianos que estão em Oruro cumprem prisão preventiva, dois deles acusados de autoria e dez de participação na morte do jovem boliviano Kevin Spada. Ele morreu ao ser atingido por um foguete sinalizador que partiu da torcida do Corinthians durante o jogo entre o time brasileiro e o San Jose no estádio Bermudez.
Todos os encarcerados garantem que são inocentes. Cinco deles alegam que sequer estavam dentro do estádio quando o fato aconteceu. A reconstituição ? uma solicitação dos advogados de defesa ? é uma tentativa de mostrar às autoridades bolivianas que o depoimento dos torcedores está correto.
Ontem (16), o advogado Sérgio Marques, que está acompanhando os 12 de Oruro, levantou a tese da defesa de que não é possível garantir se o foguete disparado do lado corintiano ? como mostram imagens da televisão ? teria sido o mesmo artefato que atingiu Espada. ?Não temos imagens que mostrem isso e, a julgar pela trajetória do sinalizador, seria impossível ele ter acertado o menino, que estava do outro lado, em um plano bem acima?, disse Marques.
O advogado, no entanto, não consegue ainda dar uma data aos clientes.?Queremos saber quando vamos poder sair. Os advogados não podem nos dizer. E vamos ficando aqui nesta situação?, disse Tadeu. Ele lembra que o longo tempo de cárcere tem provocado uma série de problemas para os parentes dos corintianos. ?Tem cara aqui que a esposa vai ter bebê amanhã (quinta-feira) e outro é pai de quatro filhos, a família vive do trabalho dele e ele é autônomo. A mulher e as crianças estão passando dificuldade?, falou.
A Gaviões da Fiel alugou uma casa em Cochabamba, pagando adiantado o dinheiro referente a três meses. Assim, os 12 de Oruro podem alegar ter residência na Bolívia, o que poderia facilitar a emissão de um habeas corpus. Mas até agora, a Justiça da Bolívia ainda não atendeu ao pedido dos advogados.
Sobre a vida na cadeia, Tadeu disse que o maior problema é a alimentação. ?A gente tem alguma dificuldade nisso aí. Temos que comprar comida de fora?, explicou. Ele garantiu que não há problemas de saúde entre os brasileiros, mas que a incerteza tem sido o maior inimigo.
?Esta prisão preventiva pode durar seis meses e ser renovada por mais seis e outros seis meses. Podemos ficar aqui um ano e meio e ouvir depois que a gente é inocente. Como fica minha vida? Quem vai pagar pelo meu futuro? Alguém precisa fazer alguma coisa aí no Brasil?, afirmou.