GABRIEL CARNEIRO, DANILO LAVIERI, PEDRO LOPES E RODRIGO MATTOS
SÃO PAULO, SP (UOL - FOLHAPRESS) - O Brasil finalmente enfrentou um adversário do seu nível na Copa do Mundo. Não que Sérvia, Suíça, Camarões e Coreia do Sul sejam seleções desqualificadas -definitivamente, não são-, mas o duelo contra as atuais vice-campeões mundiais prometia mais dificuldade e cumpriu a promessa. Tanto é que terminou com o Brasil novamente eliminado nas quartas de final, derrotado por 4 a 2 nos pênaltis depois de um empate em 0 a 0 no tempo normal e 1 a 1 na prorrogação.
Desde o começo, antes mesmo da perspectiva de decisão por pênaltis, o jogo já se apresentava perigoso. No primeiro tempo, a Croácia foi até melhor. É um "melhor" relativo, porque não conseguiram chutar ao gol do Brasil. Mas a palavra se justifica pela capacidade de dificultar o jogo da seleção brasileira e travar por muito tempo as melhores opções de Tite.
Vini Jr, que tem participação em quase todos os gols do Brasil na Copa seja como autor, dando assistência ou preparando a jogada, foi marcado de perto pelo competente Juranovic, que teve até o nome gritado pela torcida croata: "Jura, Jura". Os duelos pessoais entre eles foram marcantes ao longo de todo o jogo. Vini levou a melhor algumas vezes, Jura em outras. Ao final, Tite percebeu que a coisa não estava rolando e tirou o camisa 20 aos 19 minutos do segundo tempo.
O que faltou para Vini fazer o que tinha feito nos outros jogos? Espaço, basicamente. A Croácia reforçou a marcação no meio-campo e deixou a bola chegar limpa poucas vezes na ponta. Quando chegou, Jura e mais alguém [às vezes até um atacante] apertavam a marcação.
Neymar era outro com marcação dupla, justa, apertada, não conseguia driblar e nem organizar o time pelo meio. Só Richarlison ficava um pouco mais livre e foi peça importante, com pivôs e movimentação. Qualquer espacinho era chance de algo acontecer.
A marcação da Croácia começava já na saída de bola na defesa do Brasil. O time assumiu riscos de levar uma goleada ao subir a marcação, mas compensou com intensidade e deu certo. Deu certo porque essa atitude forçou o erro do Brasil e o Brasil errou. Até Casemiro, que tinha três jogos perfeitos na Copa, deu bola no pé dos croatas. Isso aconteceu porque a seleção europeia cortava toda hora as linhas de passe do Brasil com movimentação, gás e um senso coletivo apurado.
Militão e Danilo, improvisados, também sofreram. Principalmente Danilo, porque era o lado onde Vini não compensava tanto defensivamente, o que já é estratégico dentro da seleção. A Croácia forçou jogadas pela direita do ataque e o lateral tomou cartão amarelo logo aos 25 minutos do primeiro tempo. Aí forçaram mais, e Tite colocou Marquinhos para ajudar, numa inversão de lado com Thiago Silva.
O Brasil tentou subir a marcação para ter a bola mais perto do gol da Croácia, mas os adversários tinham receita até para isso. Modric deu um passinho para trás para ajudar na saída de bola e começou a achar passes numa zona morta do campo, atrapalhando até a estratégia do Brasil de pressionar para recuperar a bola logo depois de perder. O jogo da Croácia era cadenciado, de pé em pé, executado por jogadores frios e pacientes.
A maioria dessas estratégias da Croácia foi mais bem executada no primeiro tempo, quando eles tinham pernas para isso. É que o fator físico estava a favor do Brasil por causa uma bagagem de 135 minutos minutos em campo a menos do que o adversário, fruto do casamento entre a estratégia de ter poupado os titulares contra Camarões, no terceiro jogo da fase de grupos, e o fato de os croatas terem se classificado somente nos pênaltis diante do Japão, nas oitavas de final.
No segundo tempo o Brasil aproveitou o fator físico com ajustes táticos e dominou do começo ao fim. Foram dez finalizações, sendo cinco na direção do gol. A Croácia tomou bola nas costas por todos os lados e se segurou em alguns momentos na boa atuação do goleiro Livakovic. Na frente, três chutes travados e só.
Na prorrogação, a lógica continuou a mesma. Até o Brasil desequilibrar na jogada individual. Numa combinação com Rodrygo e Paquetá dentro da área, Neymar driblou o goleiro e finalizou tirando de um marcador que chegava no carrinho. Um golaço do camisa 10. Talento.
Mas a Croácia era fria e paciente, lembra? Num contra-ataque aos 11 minutos do segundo tempo da prorrogação, Modric achou o espaço que só os craques acham -Neymar tinha achado um pouquinho antes- e tocou para Vlasic, que abriu na esquerda com Orsic. O cruzamento rasteiro encontrou o pé de Petkovic, de primeira, com o desvio de Marquinhos que tirou Alisson do lance. Talento contra talento.