Pela primeira vez na história, o Brasil terminou na liderança do Campeonato Mundial Paralímpico de Atletismo, realizado em Nova Déli, na Índia. A delegação brasileira encerrou a competição com 15 ouros, 20 pratas e 9 bronzes, superando potências como a China, que havia liderado as últimas cinco edições do torneio. Mais do que os números, o desempenho do país simboliza a força e a diversidade do esporte paralímpico nacional, com medalhas conquistadas por atletas de todas as regiões do país.
O feito histórico foi marcado pela união de talentos de 11 estados diferentes, incluindo nomes de regiões que tradicionalmente não figuravam no topo do pódio. Entre eles, o destaque para a piauiense Antônia Keyla Barros, campeã mundial e recordista dos 1.500 metros T20 (classe para atletas com deficiência intelectual), que brilhou com uma atuação de ouro.
Keyla Barros faz história e quebra recorde mundial
A jornada de Keyla Barros emocionou o público e mostrou a força do atletismo piauiense. A atleta conquistou o ouro nos 1.500 metros T20 com o tempo de 4min19s22, novo recorde mundial da prova. A vitória foi ainda mais simbólica por ter sido conquistada diante da polonesa Barbara Bieganowska-Zajac, antiga recordista, e da australiana Annabelle Colman, que ficaram com prata e bronze, respectivamente.
Emocionada, Keyla celebrou o momento como a realização de um sonho:
“Eu trabalhei muito. Não foi um ciclo, foi a vida toda. Correr é o meu dom, é o que eu sei fazer. Eu estou tão feliz e grata”, declarou após a conquista.
Com o resultado, ela soma agora duas medalhas em Mundiais, após as pratas em Kobe (2024) e Paris (2023) e consolida sua posição entre as principais corredoras paralímpicas do planeta.
Ouro em todas as regiões
O protagonismo brasileiro não se limitou ao Nordeste. Estados do Norte, Centro-Oeste e Sudeste também brilharam com conquistas expressivas. Do Acre, Jerusa Geber levou dois ouros nos 100m e 200m T11. Do Amapá, Wanna Brito venceu o arremesso de peso F32 e ainda quebrou o recorde mundial da prova com a marca de 8,49 metros. No Rio Grande do Norte, Thalita Simplício e Maria Clara Augusto conquistaram ouro nos 400m T11 e T47, respectivamente.
Do Mato Grosso do Sul, Yeltsin Jacques confirmou o favoritismo e venceu os 1.500m T11, enquanto o maranhense Bartolomeu Chaves brilhou nos 400m T37. Já entre os estados mais tradicionais, vieram os ouros da paulista Beth Gomes (lançamento do disco F54), da mineira Zileide Silva (salto em distância T20), e do carioca Ricardo Mendonça, bicampeão nos 100m e 200m T37.
Sul sem ouro, mas com pódios
A única região que não conquistou títulos mundiais foi o Sul, mas isso não impediu os atletas de subirem ao pódio. O paranaense Vinícius Cabral e Edileusa dos Santos conquistaram medalhas em provas da classe Petra. O catarinense Edenilson Roberto garantiu o bronze no arremesso do peso F42, enquanto o gaúcho Jean Oliveira completou o grupo com o terceiro lugar nos 1.500m T13.
Esses resultados mostram que, mesmo sem vitórias douradas, o Sul mantém sua representatividade no atletismo paralímpico e continua revelando atletas competitivos em nível internacional.
Desafios e domínio brasileiro
Apesar da campanha histórica, o Brasil enfrentou alguns contratempos. A favorita Rayane Soares se lesionou após conquistar a prata nos 200m e não pôde disputar os 400m T13, sua prova principal. Já Clara Daniele teve a corda do guia rompida e abandonou uma das provas, mas se recuperou com ouro nos 200m T12. O fundista Julio Cesar Agripino, líder dos 5.000m T11, passou mal e não completou a prova. Mesmo assim, o desempenho coletivo da equipe superou todas as expectativas.
Um ponto ainda em aberto é a ausência de brasileiros nas provas de cadeira de rodas, o que reforça um desafio estrutural da modalidade. Nenhum dos 50 atletas da delegação competiu nessa categoria, um espaço que o país ainda busca desenvolver.