Cabo Verde é uma das surpresas das Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026. O pequeno país africano, de língua portuguesa, garantiu pela primeira vez vaga na maior competição de seleções ao vencer Essuatíni na rodada final. Mas o futebol cabo-verdiano não carrega apenas o idioma em comum com o Brasil, ele também reflete a forte influência cultural e esportiva brasileira em campo, nas cores, nos escudos e até nos nomes de seus clubes.
Apesar de estar a 2,6 mil quilômetros do território brasileiro, o arquipélago composto por dez ilhas abriga equipes que nasceram em homenagem a times nacionais. De São Vicente ao Fogo, os torcedores se identificam com o estilo, a paixão e os símbolos que tornaram o futebol brasileiro uma referência mundial.
Um Corinthians em São Vicente
Quem visita a Ilha de São Vicente pode se sentir por um instante na Zona Leste de São Paulo. Fundado em 1987, o Sport Clube Corinthians de São Vicente ostenta as mesmas cores preto e branco e o tradicional timão no escudo, uma homenagem direta ao Corinthians paulista.
A ideia surgiu entre amigos que, após assistirem a uma reportagem sobre o time brasileiro, decidiram homenageá-lo ao criar o clube. Hoje, o Corinthians cabo-verdiano participa de competições de base e realiza trabalhos sociais voltados para jovens atletas, reforçando o papel transformador do futebol local.
Botafogo do Fogo: entre o Rio e Ribeirão
Outra equipe com DNA brasileiro é o Botafogo de São Filipe, na Ilha do Fogo. Fundado em 1973, o clube mistura elementos do Botafogo carioca e do Botafogo de Ribeirão Preto. Embora use o preto e branco no uniforme, adotou o amarelo como cor principal, e o escudo segue o estilo do clube do interior paulista.
Diferente do Corinthians de São Vicente, o Botafogo do Fogo mantém um elenco principal e é o time mais vitorioso da ilha, com 17 títulos regionais e um nacional. A equipe também tem presença marcante em outras modalidades, como vôlei, basquete e atletismo.
Figueirense e Cruzeiro também têm versões africanas
O Associação Sport Club Figueirense, fundado em 2010 na Ilha do Maio, homenageia o Figueirense de Florianópolis. Suas cores e escudo seguem o modelo catarinense, e o clube chegou a conquistar, em 2017, o título da segunda divisão local. Desde 2023, participa das competições nacionais do país.
Ainda na Ilha do Maio, há outro exemplo da influência brasileira: o Cruzeiro Calheta do Maio, fundado em agosto de 2000. A equipe adota o escudo e o uniforme celeste idênticos ao do Cruzeiro mineiro, reforçando a forte presença simbólica dos clubes brasileiros no imaginário cabo-verdiano.
Unidos do Norte e a homenagem ao Pelotas
Nem só de times da Série A vive a inspiração de Cabo Verde. O Unidos do Norte Futebol Clube, sediado na capital Praia, faz referência ao Pelotas, do Rio Grande do Sul. As cores amarelo e azul e o escudo idêntico ao do clube gaúcho são marcas registradas da equipe, que disputa seus jogos em um estádio para cerca de oito mil torcedores e mantém departamentos de vôlei e basquete.
Laços que vão além das quatro linhas
A classificação inédita de Cabo Verde para a Copa do Mundo simboliza mais do que um feito esportivo — é também o reflexo de uma relação cultural construída ao longo de décadas. Entre o idioma, a música e o futebol, o Brasil segue sendo uma das maiores influências no arquipélago africano. E agora, com o país garantido no maior palco do futebol mundial, essa conexão promete se fortalecer ainda mais.