Cerimônia de beleza exuberante e tom nacionalista inaugura as Olimpíadas

A China usou milênios de experiência em espetáculos para multidões e fogos de artifício

Cerimônia de beleza exuberante e tom nacionalista inaugura as Olimpíadas de Pequim | Globo Esporte
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Quem precisa de Steven Spielberg? O americano era a pedida inicial do Comit? Organizador para ser consultor e ajudar na dire??o da cerim?nia de abertura dos Jogos Ol?mpicos de Pequim. Mas h? seis meses o cineasta pulou fora do projeto em protesto ao apoio chin?s ao governo do Sud?o. ?s 12h36m (hora de Bras?lia), quando o ex-ginasta Li-Ning foi al?ado "voando" a uma tela no alto do est?dio para acender a pira ol?mpica, j? estava claro: a m?o "m?gica" do diretor de "E.T. - O extraterrestre" n?o fez falta. A China usou mil?nios de experi?ncia em espet?culos para multid?es e fogos de artif?cio para produzir uma das mais belas aberturas de Jogos Ol?mpicos j? vistas ao longo das 29 edi?es do evento na Era Moderna.

Quatro bilh?es de espectadores mundo afora acompanharam pela TV; dentro do est?dio Ninho do P?ssaro, em Pequim, 91 mil vibraram quando o presidente chin?s, Hu Jintao, e o presidente do COI, Jacques Rogge, deram in?cio aos Jogos Ol?mpicos. Foram ao todo 4h08m de festa, dura??o digna de um grande ?pico do cinema. E isso sem contar as quase duas horas adiconais de "aquecimento", que n?o foram transmitidas pela televis?o.

Pontualmente, ?s 20h08m do dia 8 de agosto de 2008 (pelo hor?rio chin?s; 9h08m em Bras?lia), ap?s a contagem regressiva impressionante de 2.008 percussionistas com tambores fou (instrumento chin?s cuja origem remonta ? Idade do Bronze), a cerim?nia come?ou.

Para os chineses, o algarismo 8 representa a prosperidade. O cineasta chin?s Zhang Yimou teve nas m?os US$ 100 milh?es (cerca de R$ 160 milh?es) para produzir este espet?culo impressionante. Um gr?o de areia se comparado aos US$ 40 bilh?es que o governo da China gastou para preparar e, em certos aspectos, maquiar o pa?s para a realiza??o dos Jogos Ol?mpicos.

Zhang ? filho de um oficial do Kuomintang, o lado perdedor da guerra civil chinesa conclu?da em 1950. Aos 16 anos, ele foi enviado para uma fazenda como parte do processo de Revolu??o Cultural. Pegou pesado na lavoura e trabalhou durante sete anos como tecel?o, antes de conseguir se dedicar ? fotografia e, a partir dela, ao cinema. Nos anos 90, teve os filmes ?Adeus, Minha Concubina? e ?Tempo de Viver? censurados na China. Nada disso, por?m, foi capaz de arranhar o amor por sua nacionalidade e sua cultura.

Apesar de omitir refer?ncias a determinados aspectos do mao?smo (entre eles, a Revolu??o Cultural de que Zhang foi "v?tima"), o espet?culo encantou o mundo e mostrou, de maneira coerente e emocionante, a hist?ria da civiliza??o chinesa ao longo de cinco mil?nios. O show deixou expl?cita desde o come?o a multiplicidade e riqueza cultural do pa?s, com 56 crian?as representando as diferentes etnias reunidas sob a bandeira vermelha.

Na parte musical, o destaque foi o consagrado pianista Lang Lang, de 26 anos, tocando ao lado de uma crian?a de cinco anos. Mas o momento mais aplaudido foi o encontro do chin?s Liu Huan com a brit?nica Sarah Brightman. Os dois interpretaram o tema oficial dos Jogos Ol?mpicos; ao entrar cantando em mandarim, Brightman provocou urros de alegria na plat?ia.

Contagiado pelo orgulho nacionalista, o p?blico reservou a um dos 86 chefes de estado presentes sua rea??o mais pol?mica: George W. Bush, que havia feito cr?ticas ao governo chin?s. Quando ele se levantou, durante a passagem da delega??o americana, um princ?pio de vaias algo t?midas ecoou entre os aplausos. A Fran?a, que teve produtos boicotados pelos chineses por conta de declara?es pol?micas do presidente Nicolas Sarkozy, recebeu aplausos abaixo da m?dia.

Houve recep?es calorosas at? mesmo para a delega??o do Jap?o, inimigo hist?rico chin?s. A entrada dos atletas de Taiwan, que o governo de Pequim considera atualmente uma "prov?ncia rebelde", mereceu comemora??o semelhante a de um gol. O Iraque, s? autorizado a competir na semana anterior, tamb?m foi saudado com especial carinho.

Como nota dissonante, ap?s terem desfilado juntas nas aberturas dos Jogos de Atenas (2004) e Sydney (2000), Cor?ia do Norte e Cor?ia do Sul n?o chegaram a um acordo. Passaram separadas desta vez.

Na entrada da delega??o brasileira, com o iatista bicampe?o ol?mpico Robert Scheidt ? frente, destacou-se a alegria espont?nea da sele??o masculina de v?lei e do triplista Jadel Greg?rio, j? dando seus primeiros pulinhos em solo chin?s. Na tribuna, o presidente Luiz In?cio Lula da Silva acenou longamente e foi mostrado pela transmiss?o internacional.

Assim como nas outras delega?es, chamou a aten??o o n?mero de atletas com filmadoras e m?quinas fotogr?ficas, mais preocupados em registrar o evento do que em participar dele. Pau Gasol, astro da sele??o espanhola de basquete, adentrou o est?dio - e foi flagrado pela transmiss?o - falando ao celular.

Entre os trajes t?picos apresentados, o verde e o corte dos palet?s brasileiros podem ter causado controv?rsia, mas o destaque absoluto foi para as togas zebradas dos homens de Ruanda.

A China, ?ltima das 204 delega?es a desfilar, causou como??o ainda acima do esperado gra?as a uma especial presen?a ao lado do porta-bandeira Yao Ming, astro da NBA: um menino de 9 anos, sobrevivente do terremoto que abalou a prov?ncia de Sichuan h? dois meses.

Em seu discurso antes da inaugura??o, o presidente do COI, Jacques Rogge, elogiou a for?a do povo chin?s, mencionando a cat?strofe natural. Ao encerrar, por?m, fez quest?o de dirigir-se aos atletas, fazendo um apelo:

- Lembrem-se de que voc?s s?o exemplos para os jovens de todo o mundo. Rejeitem o doping!

Em seguida, o presidente chin?s Hu Jintao declarou inaugurados os Jogos Ol?mpicos e a mesa-tenista chinesa Zhang Yinnin fez o juramento em nome de todos os atletas. Uma torcida de 4 bilh?es no mundo inteiro espera que a disputa saud?vel e o fair-play prevale?am nos pr?ximos 16 dias.

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