Adriano deixou o Flamengo órfão de um ídolo daqueles de provocar ansiedade e empáfia na torcida. O império, curto e incendiário, cujo ápice foi simbolizado pelo título brasileiro em 2009 e a derrocada pelo primeiro semestre apinhado de problemas no ano seguinte, marcou época. No início desta temporada, os rubro-negros estenderam o tapete para o novo monarca: Ronaldinho.
O astro, eleito duas vezes melhor do mundo, retornou ao futebol brasileiro após dez anos entre França, Espanha e Itália. O perfil do rei da Gávea é uma mistura de semelhanças e disparidades daquele que o antecedeu, hoje no Corinthians. O desempenho também. Apesar de não ser um atacante de área, Ronaldinho supera o antecessor nos gols marcados neste início do nacional. No último sábado, dia 30 de julho, participou do 12º jogo dele na competição, contra o Grêmio. Na mesma data, em 2009, Adriano também completara 12 partidas, contra o Atlético-MG. Na comparação do período, o atual camisa 10 leva ligeira vantagem: balançou as redes nove vezes, uma a mais que o Imperador. Outra coincidência: R10 é o goleador da atual edição; Adriano dividia a liderança da lista de artilheiros com Felipe, do Goiás, e Diego Tardelli, do Atlético-MG.
Ao contrário de Ronaldinho, que participou de parte da pré-temporada e foi núcleo da montagem da equipe, Adriano estreou fora de forma, pesado, na quarta rodada do Brasileirão 2009. Encontrou um time abalado, que atravessava um momento instável por conta da crise de relacionamento entre o grupo de jogadores e Cuca. O atacante também viraria desafeto do treinador. Um comandante que não tinha a confiança dos atletas e havia perdido o controle sobre eles. Naquela época, o Imperador já provocava calafrios na comissão técnica quando os treinos eram marcados de manhã ou em dias seguintes aos jogos. Atrasos e faltas eram acobertados pela diretoria.
Comparecer aos treinamentos não foi problema nestes primeiros sete meses de R10 no Ninho do Urubu. Sempre pontual, sempre em campo. Em junho, porém, o noticiário sobre a presença constante do jogador na noite carioca deixou o clube em alerta. A diretoria recorreu ao irmão e empresário dele, Roberto Assis, para controlar os excessos. A polêmica coincidiu com a queda de rendimento do meia-atacante e uma incômoda sequência de quatro empates da equipe no Brasileirão.
A partir da vitória por 4 a 1 sobre o Atlético-MG, na sexta rodada, Ronaldinho emendou uma sequência de bons jogos. O melhor deles na quarta-feira passada, na impressionante vitória por 5 a 4 sobre o Santos. Fez três gols, seu sétimo "hat-trick" da carreira, e voltou a encantar. Diante do Grêmio, clube que o entregou ao futebol, jogou sem dó. Com um gol e uma assistência para Thiago Neves, estabeleceu o placar de 2 a 0. O resultado devolveu a vice-liderança ao Rubro-Negro, que tem 27 pontos, um a menos que o Corinthians.
Em seu 12º jogo pelo Fla no Brasileirão 2009, Adriano não marcou na vitória por 3 a 1 sobre o Galo. A equipe terminou a 15ª rodada em sétimo lugar, com 23 pontos. Assim como o Gaúcho, ele também alcançou um ?hat-trick?. Fez três na goleada por 4 a 0 sobre o Inter, no Rio, na sétima rodada.
Fatia de gols do Imperador no time foi maior
A versão 2011 do Flamengo tem o melhor ataque do Brasileiro: 26 gols marcados. Vinte e cinco deles em jogos com a presença de Ronaldinho. Autor de nove, ele foi responsável por 36% do desempenho, descontado o gol do empate por 1 a 1 com o Ceará, na 11ª rodada (R10 cumpriu suspensão).
Na campanha do hexa, na 12ª partida de Adriano o Fla havia marcado 21 gols, oito deles do antigo camisa 10 ? o equivalente a 38% do total. O Imperador fez três de pênalti, dois sofridos por ele. Nenhum gol do Gaúcho ocorreu desta maneira.
Protagonista da conquista do Brasileiro há duas temporadas, Adriano fez 19 gols nos 30 jogos que disputou naquela edição e teve importância singular para tirar o clube mais popular do país da fila de 17 anos. Na arrancada do time rumo ao título, demonstrou algumas das virtudes de um líder: raça, dedicação e talento para fazer gols. Ergueu o troféu com uma média de 0,63 gols por jogo. Autor de nove gols em 12 partidas até agora, a média de Ronaldinho no nacional é melhor: 0,75. Se somarmos os gols e jogos do Carioca e da Copa do Brasil, ela cai: Em 30 confrontos, marcou 14 vezes, média de 0,46.
Equilíbrio ao mobilizar a torcida
O olhar por vezes desconfiado de Adriano foi substituído pelo sorriso fácil e os malabarismos de Ronaldinho nos treinos. Mas o carisma dos dois e o poder de mobilizar a torcida impressiona.
Adriano, depois de uma ?aposentadoria? que não completou 60 dias, voltou ao Flamengo com 68 mil pessoas no Maracanã. Fez um gol na vitória por 2 a 1 sobre o Atlético-PR.
Ronaldinho teve o primeiro contato com os rubro-negros numa Gávea tomada por 20 mil pessoas. Não fez gol na estreia com vitória por 1 a 0 sobre o Nova Iguaçu, no início de fevereiro, mas atraiu mais de 42 mil ao Engenhão. À espera do craque, um mosaico gigante: ?Bem-vindo, R10?.
Na volta de São Paulo após arrebentar contra o Santos, ele e o grupo foram recebidos com euforia por cerca de 200 pessoas no aeroporto. Contra o Grêmio, atraiu mais de 24 mil rubro-negros ao Engenhão. Os súditos do Imperador sonham com um novo desfecho marcante.