Destemida. Esta é a palavra que pode definir o que foi a Seleção Brasileira na semifinal do Mundial de Vôlei. Cometendo poucos erros e com uma vibração que se equiparava ao que faziam os mais de 12 mil italianos nas arquibancadas, o grupo de Bernardinho não tomou conhecimento da anfitriã Itália e calou o Ginásio Palalottomatica, em Roma, vencendo por 3 sets a 1, com parciais de 25/15, 25/22, 23/25 e 25/17.
De nada adiantaram as provocações. Antes da partida os torcedores ficaram gritando "palhaçada, palhaçada", em referência à derrota do Brasil sobre a Bulgária, vista pelos italianos como um jogo que o time verde e amarelo teria entregue para pegar uma chave mais fácil. Dentro de quadra, o capitão Vermiglio também tentava vencer na base da palavra, tirando sarro dos brasileiros perto da rede.
Oscilante até este momento na competição, o oposto Leandro Vissotto fez a sua grande partida no torneio e foi peça decisiva para levar a equipe à vitória. A recepção também foi impecável e com atuações inspiradas de Bruninho, nos dois primeiros sets, e Marlon, no terceiro, a Seleção desmontou a defesa rival.
A Seleção Brasileira começou impondo seu jogo de uma maneira impressionante. No saque de Murilo abriu rapidamente 3 a 0 e manteve a boa vantagem até a primeira parada técnica, mesmo com o barulho ensurdecedor da torcida italiana a cada ponto da equipe da casa.
O time pouco errava na partida. Bruninho teve uma atuação inspirada, deixando Leandro Vissotto praticamente sem bloqueio em diversos ataques. O oposto, por sinal, mostrou uma vibração e um desempenho bem acima do que tinha demonstrado até o momento, tanto que foi o maior pontuador do primeiro set com sete pontos.
A Seleção, aos poucos, foi fazendo os italianos se perderem em quadra. Com uma recepção errada do líbero Marra, um ataque para fora dos italianos e um bloqueio triplo abriu 21 a 12. Desta forma, não foi difícil de fechar a parcial por 25 a 15.
Vissotto seguia com uma partida impressionante no começo do segundo set. Em seu saque, ele desmontou a recepção italiana e com um ace os comandados de Bernardinho abriram 5 a 2, o que fez o técnico Andrea Anastasi pedir tempo para remontar a casa. Não adiantou muito. Com um saque para fora de Fei, os brasileiros foram para a primeira parada técnica vencendo novamente por 8 a 5.
Na volta, a Seleção reclamou de um toque no bloqueio não marcado pelo juiz de cadeira, o chinês Ning Wang. O lance tirou o foco dos brasileiros, que em um ataque para fora e um ace dos italianos viram os donos da casa empatar o jogo. A pressão aumentou e o Pallalotomatica virou um verdadeiro caldeirão. No saque de Mastrangelo, a Itália complicou a recepção e virou a partida (10 a 9).
O lance por sinal gerou reclamações dos italianos que ficaram pedindo toque no bloqueio, iniciando uma discussão entre Marlon e Vermiglio. Jogando com a equipe de fora da quadra, a torcida começou a gritar "palhaçada, palhaçada", lembrando o que se viu na derrota do Brasil para a Bulgária, em Ancona.
Com a experiência de ter enfrentado pressão semelhante na Sérvia, na final da Liga Mundial em 2009, a equipe de Bernardinho não se abalou e cresceu na parcial. No saque de Lucão, o time deslanchou. Primeiro ele quebrou a recepção dos italianos e viu Dante cravar a bola na quadra adversária. Depois fez um ace para colocar 23 a 20 no placar.
A equipe da casa não conseguiu se recuperar do baque e em um lance inusitado, depois de uma recepção complicada de Mário Jr, o Brasil fez 25 a 22.
No terceiro set, a Itália voltou disposta a complicar a vida da Seleção, que ainda não pôde contar com Bruninho, sentindo o tornozelo. Com uma recepção bem melhor do que nas duas parciais anteriores e com um bom desempenho de Mastrangelo na rede, eles abriram 8 a 5 na primeira parada técnica. Em um erro de recepção que terminou em um ataque italiano, o Brasil se viu mais atrás no marcador: 10 a 6.
A Seleção chegou a diminuir a desvantagem, mas em um ataque para fora de Murilo foi para a segunda parada técnica, com um 16 a 13 contra. Na volta, mais uma bola do camisa 8 para fora foi o suficiente para irritação de Bernardinho, que batendo as muletas com força na quadra pediu tempo.
Os berros do treinador não foram suficientes para a equipe reagir. Foi necessário então fazer a tradicional inversão entre opostos e levantadores, com as entradas de Bruninho e Théo. Foi no saque do levantador e na cortada do oposto, que a equipe diminuiu um pouco a desvantagem. Com a volta de Marlon e Vissotto depois das posições rodarem, a Seleção conseguiu levar a diferença para um ponto, mas os italianos fecharam o set em 25 a 23, depois de uma deixadinha de Fei.
O quarto set começou com o Brasil ligado no jogo. Depois de um belo rali, com defesas difíceis de Murilo e Rodrigão, a Seleção abriu 3 a 1 em um bloqueio de Vissotto e Dante. No saque de Vissotto, a equipe verde e amarela chegou a fazer 6 a 3. A Itália diminuiu, mas na primeira parada técnica, o time de Bernardinho vencia por 8 a 6.
A Seleção foi crescendo no jogo. No saque de Murilo conseguiu abrir 13 a 8, graças a um bom trabalho também dos bloqueadores. Mesmo irritados com as provocações do levantador Vermiglio, que tirou até o capitão Giba, no banco, do sério, a equipe nacional foi para a segunda parada técnica com 16 a 10 no placar.
Vissotto seguiu liderando o Brasil nos pontos finais. A boa vantagem se manteve, permitindo à Seleção jogar com mais calma, aproveitando o momento positivo. Os italianos forçaram o saque, mas a equipe sul-americana soube lidar com a tentativa de reação da equipe da casa, fechando o set em 25/17.