O ano de 2013 seria o de uma epopeia chamada Raja Casablanca. Os marroquinos encantaram o Mundial de Clubes, eliminaram o Atlético-MG de Ronaldinho Gaúcho e levaram a África até a final com o seu time menos badalado. Mas então surgiu o Bayern de Munique pelo caminho. O time de Guardiola, Ribéry, Müller e outros craques. E de Dante. O zagueiro brasileiro viveu neste sábado o seu dia de astro ao fazer o gol da vitória por 2 a 0, em Marrakesh, que selou a quinta missão para uma equipe avassaladora.
Thiago Alcântara, outro brasileiro - embora naturalizado espanhol -, completou o placar numa decisão que por algumas vezes teve pouca emoção. O Raja não foi páreo diante da alta estirpe alemã, mas pode se orgulhar por ter caído de pé. Os donos da casa terminaram a partida lamentando três chances ótimas de gol e ainda viram o goleiro Askri trabalhar menos do que o esperado.
Este é o terceiro título mundial do Bayern de Munique, o primeiro com a chancela da Fifa. Em 1976, os bávaros superaram o Cruzeiro em jogos de ida e volta na disputa do Mundial Interclubes. Em 2001, derrotaram o Boca Juniors, no Japão - e agora se igualam ao próprio time argentino, Inter de Milão, São Paulo, Real Madrid, Nacional e Peñarol. O Milan segue como maior campeão do torneio, com quatro canecos.
Talvez a conquista de 2013, porém, seja a mais especial delas, pois encerra um ano glorioso na história do clube. Ela simboliza o quinto título de seis possíveis (Campeonato Alemão, Copa da Alemanha, Liga dos Campeões e Supercopa Europeia). Apenas a Supercopa da Alemanha escapou dos dedos para o rival Borussia Dortmund.
As taças são a recompensa pela eficiência ao longo do ano. Com Guardiola e o antecessor Jupp Heynckes, o Bayern fez 56 partidas ao longo de 2013. Venceu 50 vezes, empatou três e perdeu três. Apenas com o catalão à frente do time, são 29 jogos, 24 vitórias, três empates e duas derrotas. Números que falam por si só.
Sete minutos de sonho
Deus Alá foi piedoso com o Raja Casablanca ao longo do Mundial de Clubes. Gols nos acréscimos, na prorrogação, de pênalti a minutos do fim... Mas não seria ele o responsável por realizar o sonho marroquino numa final contra o todo poderoso Bayern de Munique. É daqueles casos que nem a força divina poderia decidir nas quatro linhas. Faltava ali algo que sobrava no time alemão: categoria.
O Raja viveu últimas semanas mágicas, com todo um enredo pautado pela superação de um time que só disputou o torneio por ser o campeão do país-sede. A empolgação que comoveu Agadir e Marrakesh levou até mesmo o Rei Mohammed VI ao estádio, acompanhado por Joseph Blatter, Jêróme Valcke e sua trupe da Fifa. Havia um notório sentimento do ?sí, se puede? na versão árabe. Mas o sonho durou exatos sete minutos.
Até o gol do brasileiro Dante, que na quinta-feira sequer sabia se seria titular, o estádio vivia os seus momentos de puro êxtase. Imaginem se o chute de Iajour, aos quatro, balançasse as redes de dentro - e não de fora. Imaginem se Karrouchy saísse um pouco antes da pequena área e não deixasse o zagueiro em condições para abrir o placar?
Não há muito que se lamentar, porém. O Bayern precisou de pouquíssimo tempo para mostrar que a diferença entre o melhor time da Europa e o do Marrocos era gigantesca, talvez do tamanho das contas bancárias de seus elencos. Aos 22, depois de quase balançar a rede com Müller e Alaba, saiu o segundo: o lateral-esquerdo avançou pela esquerda, cortou o marcador e rolou para Thiago Alcântara colocar no canto de Askri.
A vantagem deu conforto ao Bayern ? não acomodação. O time de Guardiola seguiu mordendo, marcando forte e foi dono da bola por um tempo precioso (75% de posse). Quando soube o que fazer com ela, criou chances, com Shaqiri e Thiago. Quando não soube, Neuer entregou um presentão para Chtibi, que quase levou a torcida ao delírio com um gol de fora da área.
MASSACRE?
Foi uma atuação digna do Raja neste Mundial. Quem esperava um massacre no segundo tempo viu os marroquinos quase diminuírem com Iajour, aos 11. Uma cabeçada potente, embora sem direção, que exigiu reflexo de Neuer. Entre sua sinfonia de toques envolventes, o Bayern também levou perigo. Shaqiri, a novidade de Pep no time titular, carimbou o travessão após cruzamento de Lahm. Thiago jogou o rebote para fora.
Os marroquinos se orgulhavam de seu papel. Cantaram mesmo sem enxergar alguma perspectiva de reação. Vaiaram os alemães quando já pareciam comemorar o título em alto e bom som. E cantaram de novo. Em campo, quase foram ao delírio com as chances desperdiçadas por Mabide, Moutaouali e Kachani. A taça estava mesmo destinada ao "Super Bayern".