A maior velocista cega do mundo será colocada à prova. Atualbicampeã paralímpica dos 200m rasos T11 e campeã dos 100m rasos T11, Terezinha Guilhermina colocará seu reinado em jogo nesta sexta-feira, no Estádio Olímpico. Dona dos recordes paralímpico e mundial dos 100m, a brasileira entrana pista às 11h50 (de Brasília) não somente para disputar a semifinal - a final acontece de noite -, mastambém para mostrar que o desempenho ruim no Mundial de Doha, no Qatar, ano passado, foi apenas um deslize na trajetória de quem soma seis medalhas em Jogos Paralímpicos e 12 em Mundiais. No caminho, há obstáculos: a chinesa Cuiqing Liu, a pressão por correr em casa e a concorrência do ex-guia Guilherme Santana.
Terezinha Guilhermina anunciou o fim da parceria de cinco anos em dezembro do ano passado e competirá nas provas de velocidade com Rafael Lazarini. O divórcio com o guia, entretanto, não foi dos mais pacíficos. Apesar da educada carta de adeus no dia do anúncio, a velocista tem relação fria atualmente com Guilherme, que também disputará os 100m T11 guiando Jerusa Santos. Questionada sobre o reencontro, a tricampeã paralímpica foi seca: “Ele só vai ser mais um junto com os outros”.
A postura tem explicação. Após perder seus três títulos mundiais para Cuiqing Liu, nos 100m, 200m e 400m T11, Terezinha não poupou Guilherme de críticas em entrevista ainda no Qatar. Segundo ela, o guia estava em um nível abaixo ao seu e a prejudicou na competição.
“Desceu um sabor amargo, foi uma surpresa para todo mundo. Eu perdi pelo fato de ser deficiente visual e de não ter conseguido ter a possibilidade de fazer o meu melhor nesse caso. Funcionamos como um time, não dá para trabalhar se o time todo não está bem. Não adianta ter melhor goleiro, se o atacante está machucado, e não adianta ter o melhor atacante, se o goleiro está machucado. Atletismo é um esporte coletivo. Não sou a melhor do mundo sozinha, preciso ter o melhor do mundo ao meu lado para sustentar um título. A relação guia e atleta é como a de um piloto de Fórmula 1 e o seu carro. Você pode ter o melhor carro, mas se você não tem o melhor piloto, você não ganha. Se o piloto está com problemas, está doente, ele não vai correr do mesmo jeito. Eu não preciso de um guia, eu dependo de um dia”, afirmou.
Em baterias diferentes, Terezinha e Guilherme terão que se classificar para final, que acontece na noite desta sexta-feira, para terem o confronto direto que mostrará quem chegou ao Rio em melhores condições. Agora com Jerusa Santos, que acostumou-se a ficar atrás de sua parceria com Terezinha em Londres e em Mundiais, o guia evita maiores polêmicas e, apesar do incômodo evidente, adota tom respeitoso ao falar da ex-companheira.
“Ela teve a opção de trocar de guia no Mundial do ano passado. Acredito que vai ser uma corrida bem bacana, e um dos motivos é que a Jerusa está em evolução. O meu respeito sempre prevalecerá, independentemente dos resultados. Uma pessoa que me ajudou e foi ajudada tem que ter a humildade de aceitar a vitória e a derrota. O tempo passa, e as palavras podem ser mais lembradas que as conquistas. Por isso, tenho o sentimento de gratidão. O amor atrai, o rancor repele”, disse.