Membros das diretorias de Corinthians e Gaviões da Fiel se reuniram na noite dessa terça-feira, no Parque São Jorge. Em meio aos assuntos abordados no encontro, os líderes da torcida organizada pediram a saída imediata de Jô. No entendimento dos torcedores, a polêmica sobre a cor da chuteira foi a gota d'água.
Eles suspeitam de que Jô está agindo com o interesse em deixar o clube. Entendem também que o centroavante não tem justificado o investimento que é feito nele, e somam a isso o caso da ida de Jô a um resort em meio a pandemia.
No último domingo, o Corinthians advertiu e multou Jô por causa da chuteira que o jogador utilizou no duelo contra o Bahia.
Apesar do atleta ter justificado que o calçado é azul, como diz a fabricante, não são poucos os detalhes verdes na chuteira, justamente a cor do arquirrival Palmeiras.
Multa rescisória
Jô tem contrato com o Corinthians até dezembro de 2023. O clube teria de arcar com uma multa de aproximadamente R$ 20 milhões, se decidisse rescindir o vínculo. Essa possibilidade, pelo alto custo, portanto, sequer é cogitada, apesar da pressão externa.
Internamente, há pouca esperança de que Jô consiga dar a volta por cima. Além do ambiente que se criou por causa da polêmica da chuteira, desde que foi repatriado pelo Timão, em junho de 2020, o jogador de 34 anos ainda não conseguiu emendar uma sequência positiva. Nesse período, as limitações físicas do camisa 77 ficaram evidentes.
Por ora, Jô seguirá integrado ao elenco e à disposição da comissão técnica. Mas, uma negociação por empréstimo, por exemplo, caso apareça algum clube interessado, não é uma alternativa descartada.
O balanço financeiro corintiano referente a 2020, divulgado em março do deste ano, expõe que o Corinthians comprometeu R$ 2,3 milhões ao assinar com Jô.
Dívida extra
À época da contratação, Matias Ávila, então diretor financeiro do Corinthians, revelou que o clube tinha uma dívida com o atleta atrelada à passagem de Jô pelo clube, em 2017.
“Não é por isso que o contrato é de três anos e meio. Mas, durante um tempo, nós vamos pagar o salário e parte da dívida que tínhamos com o Jô. A partir de janeiro (de 2021)”, afirmou o ex-dirigente durante entrevista à Fox Sports.4
Problema na Fifa
Em novembro do ano passado, a Fifa deu causa ganha ao Nagoya Grampus no embate judicial com Jô.
Para a surpresa de todos no clube, a Fifa condenou o Corinthians a pagar 3,4 milhões de dólares (R$ 16,8 milhões na cotação atual) aos japoneses.
Há confiança de que a condenação seja reconsiderada. A defesa já foi apresentada à Corte Arbitral do Esporte (CAS), e a previsão é de que o julgamento aconteça apenas no início de 2022.
O grande trunfo corintiano nesse caso é o fato de Jô ter assinado contrato após a rescisão com o Nagoya. Ou seja, o atacante estava livre no mercado.
O vínculo de Jô com o Nagoya iria até janeiro de 2021 e foi quebrado em junho de 2020.
Caso o Corinthians tenha sucesso na defesa, a situação deve se complicar para Jô, que poderá ser obrigado a ressarcir o Nagoya. De todo modo, enquanto nada é definido, o sentimento é de apreensão do clube.
Em dezembro de 2017, os japoneses tiraram Jô do Corinthians por 11 milhões de euros (R$ 43 milhões na ocasião).
Histórico de ídolo
Jô é revelado pelas categorias de base do Corinthians e nunca escondeu ser torcedor do Timão desde pequeno.
Ele estreou pela equipe profissional com apenas 16 anos, e só deixou de ser o mais jovem a defender o Corinthians em 2019, quando o zagueiro Lucas Belezi superou essa marca.
Ao todo, Jô marcou 54 gols em 235 jogos. Ele é bicampeão brasileiro, 2005 e 2017, e bicampeão paulista, 2003 e 2017, com a camisa alvinegra.
O centroavante também é o vice-artilheiro da Neo Química Arena, com 25 gols, apenas dois a menos que o paraguaio Ángel Romero, o líder deste ranking.
Na temporada 2021, Jô participou de 22 jogos, 13 deles como titular, e marcou três gols.
Mais sobre a reunião
Na reunião dessa terça-feira entre Corinthians e Gaviões da Fiel, representaram o clube o presidente Duilio Monteiro Alves, o diretor de futebol Roberto de Andrade, o gerente de futebol Alessandro Nunes e o vice-presidente Luiz Wagner Alcântara, o Wagnão.
Pelo lado da Gaviões, estiveram 11 pessoas presentes, sendo 10 delas integrantes da diretoria empossada no último dia 29 de maio, quando a chapa oposicionista venceu o pleito.
Hamilton, o Padinho, novo presidente da organizada, e o vice Alexandre Jacobina, conhecido como Jarrão, estiveram acompanhados de Douglas Deugaro - "Metaleiro", Fabrício, "Mineiro", Thiago, Junior Brito - "Neguinho", entre outros membros do grupo.
Durante a conversa, além do assunto envolvendo Jô, os torcedores pediram pelo menos duas contratações e manifestaram desejo de ter uma reunião com o elenco de Sylvinho o mais rápido possível.
Eles ainda fizeram questionamentos sobre temas relacionados às áreas jurídica, financeira e de marketing. Também cobraram mais transparência e profissionalismo.
Os dirigentes reforçaram o compromisso da gestão, apontaram os resultados já alcançados, os projetos que estão em andamento e defenderam a maneira como tudo tem sido feito.