Poderia ter sido um jogo impecável. Foram dois sets de um Brasil agressivo e impiedoso, regido pela vibração de Lipe e pela eficiência do bloqueio. Mas vieram a terceira parcial e a ousadia de Laurent Tillie. O técnico da França trocou meio time e desestabilizou a seleção. Depois do apagão, a seleção se reergueu com a frieza de Wallace para manter os 100% de aproveitamento no Grupo B do Mundial masculino de vôlei. Na Arena de Ruse, selou a vitória por 3 sets a 2 com parciais de 25/20, 25/20, 20/25, 23/25 e 15/12.
- A gente não consegue fazer um jogo tranquilo como fizemos no primeiro e segundo sets (risos). Eles trocaram o time, fizemos um jogo muito abaixo no terceiro set, não sei se isso quer dizer alguma coisa, mas a gente não pode oscilar tanto num campeonato como esse - falou Wallace.
O Brasil não joga nesta sexta-feira - após a primeira rodada cheia, a cada dia duas equipes folgam. O próximo desafio da seleção será no sábado, contra a Holanda. A França volta à quadra já nesta sexta, quando enfrenta o Egito, às 14h30 (horário de Brasília).
O principal jogo do Grupo B na primeira fase conseguiu a proeza de lotar a Arena de Ruse, vazia nos quatro jogos disputados até então. A França teve o desfalque do central Kevin Le Roux, que sofreu uma lesão na coxa na estreia contra a China e só deve ser liberado para jogar na próxima fase. O Brasil também teve uma alteração, mas por opção de Renan. Lipe entrou na vaga de Kadu.
Foi um primeiro set excelente para o Brasil. Mesmo um ponto atrás na primeira parada técnica, a seleção não deixava nada a dever para a França. Bruninho distribuiu bem as jogadas, tendo Wallace e Douglas como principais armas de ataque no início. E o agressivo saque brasileiro permitiu que o bloqueio brilhasse.
Lipe, estreando no Mundial, teve como maior mérito dois bloqueios providenciais – um deles simples e desmoralizante sobre o craque Ngapeth. O Brasil teve quatro pontos de frente, e o técnico Laurent Tillie gastou os dois pedidos de tempo. Os franceses diminuíram a vantagem, mas aí Renan deu seu recado, e o time retomou o eixo. Wallace cravou para fechar num surpreendente 25/20.
O segundo set também começou parelho, com Boyer como destaque ofensivo da França. Mas novamente o bloqueio brasileiro funcionou. Lipe selou a virada e vibrou para contagiar o grupo. Em excelente passagem de Isac no saque, o Brasil abriu três de vantagem com bloqueio monstro de Lucão (8 a 5). A França passou a fugir da muralha brasileira e garimpou o empate em 14/14, mas Wallace voltou a alargar a margem. Nem os dois tempos pedidos por Tillie mudaram o cenário. Um ace de Lipe levou a seleção ao set point, e um bloqueio de Evandro sobre Nagapth selou novo 25/20.
Atrás no placar, Tillie apelou e trocou meio time no terceiro set. Teve um sucesso surpreendente e imediato. Confundiu a defesa brasileira e abriu 4 a 1, forçando Renan a parar o jogo cedo. Desconcentrado, o Brasil seguiu apanhando nos serviços de Brizard e Le Goff (12 a 6). Se Wallace descontava, Ngapeth dava o troco. Depois da segunda parada técnica, o Brasil acordou. Douglas e Lucão reduziram a diferença para dois pontos. Tillie parou o jogo, e a reação não foi além. Rossard cravou 25/20 para os franceses.
A quarta parcial começou com Brizard novamente implacável no saque (3 a 1). Quando Ngapeth abriu 7 a 3, Renan pediu tempo e lançou Lucas Loh na vaga de Douglas. O Brasil cresceu com Wallace e ganhou moral com bloqueio de Lipe. Chegou a virar e abrir dois pontos de margem, mas permitiu que a França retomasse a dianteira. Ngapeth parou a China de Lucão e deixou os franceses com dois pontos de vantagem. Foi a vez de Renan mexer no time. Recolocou Douglas e testou Eder e Maurício Souza. Salvou dois set points, mas não foi o suficiente para evitar o tie-break: 25/23.
O quinto set foi tenso e cheio de viradas. Wallace cresceu, e o Brasil teve dois pontos de vantagem, mas viu o serviço francês mais uma vez desestruturar a defesa e o moral da seleção. Três pontos trás (10 a 7), Renan pediu tempo. A França errou a mão, e o Brasil buscou a virada com uma sequência de quatro pontos. Num erro de entrosamento entre Bruninho e Lucão, a França voltou a liderar. Em mais um bloqueio de Lipe sobre Ngapeth, a seleção recuperou a ponta. Depois, Maurício fez o mesmo e levou o Brasil ao match point. Tillie parou, mas na volta Lucão soltou o braço para fechar o jogo com um grande e importante ponto de saque: 15/12.