Infância difícil, família carente e falta de incentivo financeiro para o esporte. Esses parecem ser pré-requisitos que levam um atleta a um único lugar: o fracasso. Mas nos sonhos e pretensões da pequena judoca Elenilda da Silva Pereira, de 11 anos de idade, essa possibilidade nem é cogitada. Quando perguntada sobre os planos para o futuro, a resposta da menina não poderia ser outra: ?Ser uma atleta, medalhista olímpica?.
A próxima parada de Elenilda é a cidade de Manaus, no Amazonas, onde ela participa do Campeonato Brasileiro de Judô, que acontece de 3 a 5 de agosto. Ela viajou hoje nas primeiras horas da manhã e compete nesse sábado (04).
Mas o problema dela continua sendo o mesmo de praticamente todos os outros atletas do Estado, a falta de patrocínio.
Elenilda, que mora na vila Afonso Gil, há dois anos luta judô no Projeto Judô Shalon, no Núcleo de Assistência Integrada, no Centro de Referência da Assistência Social, no Bairro Promorar, zona Sul da capital. Nesses dois anos se dedicando ao esporte, a menina participou de apenas uma grande competição, que foi o Campeonato Brasileiro Região 1, que envolveu os estados do Ceará, Amapá, Maranhão e Piauí, além de um campeonato local. Da sua primeira competição ela trouxe na bagagem, além da certeza de que as coisas dali para a frente não seriam fáceis, a medalha de ouro.
Elenilda é a mais nova promessa do judô piauiense e tenta crescer no esporte burlando todas as dificuldades que lhes foram impostas desde o primeiro dia que ela pisou no tatame. Em um Estado onde quase não se encontram pessoas interessadas em investir no esporte, para a menina, o mais difícil não são as longas horas de treinamento para sair vitoriosa da competição, mas coisas bem mais básicas e até inacreditáveis para alguns, como conseguir um quimono para enfrentar a adversária durante a competição.
?Quando Elenilda precisou viajar em abril deste ano para competir em Belém (PA), nós fizemos uma ?vaquinha? para conseguir as passagens, com amigos e pais de alunos do judô. Mas além de não ter as passagens garantidas, Elenilda também não tinha o quimono. Para entrar no tatame, nós precisamos pedir emprestado às atletas dos outros estados que também estavam na competição e foi assim, com todas estas dificuldades, que ela conseguiu o ouro?, disse o técnico da judoca, Wherberton Carlos Leite.
Mas se engana quem pensa que o bom desempenho da menina foi resultado dos anos dedicados ao esporte. Quando participou da competição, ela tinha menos de dois anos no judô e competiu com meninas mais experientes e com mais tempo de competição e treinamento. A conquista veio mesmo graças ao talento da menina. ?A evolução de Elenilda foi meteórica e foi uma surpresa o seu resultado. Ela mostrou um nível técnico de quem já se dedicava há muito mais tempo ao esporte, mesmo competindo com meninas mais experientes e mais anos de preparação, ela conseguiu o ouro?, disse.