Ainda não está marcada pela Comissão Atlética de Nevada a audiência disciplinar que vai julgar o caso de doping de Anderson Silva. Sabe-se apenas que será em março. No entanto, sua equipe já trabalha pesado em sua defesa e podemos adiantar, em primeira mão, como está neste momento a estratégia de argumentação do brasileiro para, pelo menos, minimizar as sanções que deve sofrer depois de ter sido flagrado duas vezes com substâncias proibidas, antes e depois de vencer Nick Diaz em 31 de janeiro.
Como tinha adiantado na única declaração pública que fez depois que o caso veio a público, Anderson vai negar que tenha tentado trapacear para vencer o norte-americano. No entanto, vai admitir que fez uso do anabolizante drostanolona durante a recuperação da grave fratura que sofreu contra Chris Weidman no fim de 2013.
O brasileiro vai argumentar que usou o anabólico como remédio para recuperar o local lesionado. Além da famosa função de aumento de desempenho atlético, a drostanolona também pode ser usada para fortalecimento da musculatura. No começo da recuperação, temendo que pudesse nunca mais ter uma normal ou até mesmo ficasse sem andar, usou o anabolizante com esse segundo intuito.
Não está claro se Anderson já tinha plena consciência do que estava tomando desde o começo, desde as primeiras doses da drostanolona, mas em algum momento ficou ciente de que estava usando uma substância proibida no esporte mundial. O atenuante, na época, era que ele acreditava que a droga sairia completamente do seu organismo até ele ter uma luta marcada ou iniciar a preparação para ela.
O que Silva e seus advogados tentarão deixar claro, a todo momento, é que ele até fez uso da drostanolona, mas nunca com a intenção de se dopar ou de tirar vantagem sobre seu adversário. Para isso, também usarão o argumento de que a quantidade da substância encontrada em seu organismo era muito pequena, o que não daria para aumentar sua performance contra Nick Diaz.
Ele também tem uma explicação para terem encontrado ansiolíticos no exame feito no dia da luta. Em novembro do ano passado, Anderson teve fortes dores nas costas e acabou no hospital por conta de espasmos musculares no local. Foi receitado para ele a benzodiazepina diazepam, vendido mundialmente como Valium, que além dos seus efeitos calmantes, também é relaxante muscular. E lhe foi indicado que se voltasse a sofrer o mesmo tipo de problema, poderia tomar o remédio novamente, o que aconteceu nas véspera da luta. Foram detectadas na urina de Anderson as substâncias temazepan e oxazepan, benzodiazepinas que tem o mesmo efeito do Valium.
Novamente, ele vai alegar que não usou a medicação de má-fé e não mentiu para a comissão deliberadamente ao não revelar que fez (ou faria) uso das benzodiazepinas. Ele simplesmente repetiu a indicação médica que foi lhe dada no ano passado.
Toda essa argumentação não deve livrar Anderson Silva de ser considerado culpado pelos flagrantes com doping e nem sua defesa acredita que conseguirá fazê-lo ser julgado inocente, mas a ideia principal é atenuar sua possível pena, que pode ser um gancho de até um ano, além de uma pesada multa. Ele tentará que a suspensão seja de seis a nove meses, além de um valor mais leve para a multa.
Mais que isso, esse discurso de arrependimento e de assumir o que fez será o começo do trabalho para reconstruir sua imagem, além de tentar evitar a fuga de velhos e novos patrocinadores. A partir dai será feito um gerenciamento real de crise, o que não aconteceu até agora desde o flagrante. Dessa maneira, ele prepara o terreno para voltar a lutar. Sim, ele vai voltar a lutar e quer fazê-lo o mais rápido possível.