A combinação de descontração e foco surtiu efeito. Alison dos Santos, o Piu, disputou a decisão dos 400m com barreiras no Estádio Olímpico de Tóquio sob forte sol e uma temperatura de 31ºC (sensação de 38ºC) com autoridade. E o resultado foi histórico. Com a marca de 46s72, novo recorde sul-americano, ele levou a medalha de bronze nas Olimpíadas de Tóquio. .
O ouro ficou om o norueguês Karsten Warholm, com novo recorde mundial (45s94). A prata acabou com o norte-americano Rai Benjamin (46s17).
Encerra tabu de 33 anos
Alison se tornou o primeiro brasileiro a ir ao pódio em uma prova individual de pista do atletismo olímpico desde a prata de Joaquim Cruz nos 800m e o bronze de Robson Caetano nos 200m no Jogos de Seul, em 1988.
Desde então, o país só conseguiu medalhas em provais de equipe (os revezamentos 4x100m masculino e equipe) e no campo (Maurren Maggi e Thiago Braz). A história da medalha histórica de Piu, como Alison é mais conhecido, veio depois de uma jornada improvável.
1ª do atletismo em Tóquio
Foi a primeira medalha brasileira no atletismo nas Olimpíadas de Tóquio e a 18ª da modalidade em todos os tempos - a primeira veio há 69 anos, com o ouro do lendário Adhemar Ferreira da Silva no salto triplo em Helsinque 1952.
Depois de ter confirmada a medalha, o brasileiro se emocionou e desfilou pelo Estádio Olímpico com a bandeira brasileira.
4ª mais rápida
A marca feita por Piu é, simplesmente, a quarta mais rápida de todos os tempos, inferior apenas aos tempos dos dois primeiros colocados nesta terça-feira a ao recorde mundial anterior de Warholm (46s70). Nas eliminatórias, Alison avançou no segundo lugar de sua bateria com a marca de 48s42, em uma corrida tranquilíssima.
Na fase semifinal, o brasileiro apertou um pouco mais o ritmo e venceu sua série com 47s31, novo recorde sul-americano. Ainda assim, reconheceu ao final da prova que não deu 100% de esforço porque se sentiu bem à vontade.
Recorde continental
Antes da decisão pelas medalhas, Alison já havia quebrado seis vezes o recorde continental da prova em um espaço de pouco mais de três meses. A sequência incrível o deixou mais próximos dos dois expoentes da prova: o norueguês Karsten Warholm, bicampeão mundial e atual recordista mundial (46s70), e o norte-americano Rai Benjamin, dono da terceira melhor marca de todos os tempos (46s83).
Warholm e Benjamin, por sinal, fizeram ouro e prata no Campeonato Mundial de Doha, em 2019, quando Piu terminou em um sétimo lugar que lhe valeu como cartão de visitas para os rivais. Depois daquela experiência no Qatar, o brasileiro explodiu e se colocou entre os melhores.
Quem é Alison dos Santos
Nascido em São Joaquim da Barra, interior de São Paulo, o corredor chama a atenção à primeira vista por carregar consigo uma grande cicatriz na cabeça e outras um pouco menores no peito e no braço esquerdo. As marcas são o resultado de um acidente doméstico com uma panela de óleo quente aos 10 meses de idade.
Por conta do problema, Alison ficou internado em um hospital por mais de dois meses antes de receber alta. Devido à cicatriz na cabeça, o paulista possui uma falha no cabelo, que o dá uma aparência de bem mais velho.
Histórias de vida à parte, Piu teve uma ascensão rápida no atletismo, esporte que começou a praticar ainda novo. Aos 16 anos, ele já competia entre adultos nos 400m com barreira e nos 400m rasos. A partir de 2018, Alison estendeu o seu talento para provas internacionais.