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Luany Sousa

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Vitória de Cajamar: o que se sabe sobre o assassinato da jovem de 17 anos

Vitória Regina de Souza tinha apenas 17 anos quando foi brutalmente assassinada enquanto voltava do trabalho. Três meses após o crime, ainda restam perguntas sem resposta: quem fez isso e por quê?

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Vitória Regina de Souza desapareceu no dia 26 de fevereiro de 2025, após sair do trabalho em um shopping na região de Anhanguera, em São Paulo. Era seu quarto dia no novo emprego. O shopping ficava próximo à casa da irmã, onde às vezes Vitória preferia dormir, mas naquele dia optou por voltar para casa. 

Vitória morava em Cajamar, uma cidade vizinha, e o trajeto até sua residência envolvia dois ônibus. Primeiro, ela seguia até o centro da cidade. Depois, pegava outro coletivo até o bairro onde morava. Em seguida, ainda caminhava um pequeno trecho a pé até a sua casa. 

Foto:Reprodução/Instagram-Vitória Regina

Em geral, o pai dela a buscava em algum ponto do trajeto – fosse no shopping ou no segundo ponto de ônibus –, para que a filha não precisasse andar sozinha. Mas, naquela noite, isso não foi possível. O carro da família havia quebrado poucos dias antes. Uma peça apresentou defeito, e o pai de Vitória optou por comprar o componente novo pela internet. O veículo chegou a ser levado a uma oficina, mas ainda não estava consertado. Como também possui dificuldade de locomoção, o pai não conseguia fazer o trajeto a pé para encontrá-la. 

O FATÍDICO DIA 

Naquela noite, Vitória fez o caminho inteiro sozinha. Durante o percurso, trocou mensagens e áudios com a amiga Gabriela, relatando que estava com medo. Ela contou que dois homens desconhecidos entraram no primeiro ônibus em que estava. Um deles desceu pouco depois, mas o outro permaneceu por mais tempo, o que a deixou desconfiada. Segundo o pai da jovem, em entrevista à imprensa, ela nunca tinha visto aqueles homens antes naquele ônibus, por isso o nervosismo. 

Vitória em um dos pontos de ônibus

Já no ponto onde esperava o segundo coletivo, Vitória enviou novos áudios à amiga dizendo que um carro com quatro homens havia passado por ela. De acordo com o relato, os ocupantes começaram a assediá-la, chamando-a de “vida”, o que a deixou nervosa e assustada. 

Outro ponto importante foi que, nesse dia, havia um motorista novo no segundo ônibus que Vitória costumava pegar. Normalmente, o condutor que fazia aquela linha deixava a jovem mais próxima de casa, por já conhecer a rotina dela. Mas, como se tratava de um funcionário novato, ele a deixou no ponto normal, o que aumentou a distância que ela teria que percorrer sozinha. 

Foto:Reprodução/Instagram

Por volta das 23h, Vitória publicou um story no Instagram em que aparecia em um ponto de ônibus e escreveu: “Agora bora pra casa descansar, que amanhã tem mais.” 

O DESAPARECIMENTO 

O pai, que a aguardava em casa, começou a se preocupar quando as horas foram passando e Vitória não chegava. Ele chegou a ligar para a empresa de transporte para verificar se o ônibus estava atrasado, mas o ônibus havia chegado no horário. 

Na manhã seguinte, o boletim de ocorrência foi registrado, e a polícia deu início às buscas. Imagens de câmeras de segurança capturaram as últimas imagens da jovem em um dos pontos de ônibus. 

Pai de vitória-Foto:Reprodução: Record

Na imprensa, chegaram a circular especulações de que o carro do pai poderia ter sido sabotado, mas essa informação nunca foi confirmada pelas autoridades. 

VITÓRIA É ENCONTRADA 

Até que no dia 5 de março, o corpo de Vitória foi encontrado em uma área de mata na região de Cajamar, próximo ao local onde ela desapareceu. Desde então, surgiram muitas informações sobre as circunstâncias em que ela foi encontrada — e aqui está o que foi confirmado. 

Vitória estava sem roupas, com o sutiã sobre o rosto e em posição sexual. Havia um corte profundo na parte inferior do pescoço, conhecido pelos peritos como “corte decola”. O corpo já apresentava avançado estado de decomposição, o que causou a perda de boa parte do cabelo — mas ele não foi raspado, como chegou a ser especulado. 

Area onde o corpo de vitoria foi encontrado-Reprodução/G1

O laudo pericial apontou que a causa da morte foi uma hemorragia intensa provocada por esse corte no pescoço. A jovem sofreu três facadas no total: uma no tórax, uma no rosto e a última, fatal, no pescoço. 

Devido à decomposição, não foi possível confirmar se houve violência sexual — o resultado do exame foi inconclusivo. Também circularam boatos sobre a presença de álcool no sangue da vítima, mas os peritos explicaram que essa substância foi gerada naturalmente durante o processo de decomposição. Vitória estava quase irreconhecível e só pôde ser identificada por meio das tatuagens que tinha no corpo. 

A INVESTIGAÇÃO 

Depois de conseguir acesso ao celular de Gabriela, a última pessoa com quem Vitória teria falado, a polícia começou a investigar alguns possíveis suspeitos, incluíndo os homens citados por Vitória naquela noite. 

Foto:Reprodução/Instagram

Os dois rapazes que estavam no ônibus foram encontrados e confirmaram que não tiveram nenhum contato com a jovem. A polícia investigou e comprovou que eles não têm ligação com o crime. 

Já os jovens que estavam em um carro contaram que viram Vitória na rua e mexeram com ela, mas ela não respondeu e seguiu andando. Eles disseram que foram direto para uma festa, o que foi confirmado pela polícia com base nas imagens de segurança do local da festa.  Por isso, também foram descartados da investigação. 

A polícia também investigou Gustavo Vinicius, ex-ficante de Vitória. No dia do desaparecimento, ela mandou uma mensagem pedindo para ele ir buscá-la. Ele contou que viu a mensagem, mas não respondeu porque estava com outra garota naquele momento — o que foi comprovado pelos investigadores, tirando ele da lista de suspeitos. 

Gustavo Vinicius

Outro nome apurado foi o de Gustavo Henrique, ex-namorado da jovem. Os dois namoraram por pouco tempo no fim do ano anterior, mas o pai de Vitória, Carlos Alberto Souza, não aprovava a relação, e ela decidiu terminar. A polícia viu que a localização do celular de Gustavo mostrava que ele estava perto da casa dela no horário do sumiço — o que faz sentido, já que ele mora ali por perto. Nada foi encontrado contra ele, e ele também foi descartado como suspeito. 

Foto;Reprodução/Gustavo Henrique

Outro investigado foi Daniel Lucas, amigo da família. O nome dele entrou na investigação porque, no celular dele, foram achadas imagens do caminho entre o ponto de ônibus e a casa de Vitória, além de fotos do carro de um outro suspeito. Mas essas imagens tinham sido feitas a pedido da própria família, o que foi confirmado pela polícia. Daniel também foi tirado da investigação. 

Alguns boatos começaram a circular e espalharam fake news. Um deles dizia que Daniel Lucas e Gustavo Vinicius tinham um relacionamento amoroso e que teriam matado Vitória para ficarem juntos. A polícia confirmou que isso é mentira — os dois nem se falam. Também saiu na imprensa que o pai de Vitória era suspeito, mas a própria polícia explicou que ele nunca chegou a ser investigado como suspeito. É comum, nesse tipo de crime, que familiares e pessoas próximas sejam ouvidos durante a investigação.  

Daniel Lucas

QUEM COMETEU O CRIME 

O verdadeiro culpado foi Maicol Sales dos Santos de 26 anos, ele foi preso no dia 08 de março. A polícia chegou até ele depois que uma testemunha disse ter visto o carro dele perto do ponto de ônibus onde Vitória foi vista pela última vez. 

Ao analisar o celular de Maicol, os policiais encontraram várias fotos de Vitória e de outras meninas parecidas com ela, além de um print do último story postado pela jovem. 

Foto:Reprodução/Globo

Durante o depoimento, Maicol confessou o crime. Ele contou que já tinha se envolvido com Vitória há cerca de ano e que ela estaria ameaçando contar tudo para a esposa dele. Segundo Maicol, ele marcou de encontrar com a jovem para pedir que ela não fizesse isso. Disse que ela entrou no carro por vontade própria, eles começaram a discutir, e, no meio da briga, ele pegou uma faca que estava no carro e a golpeou no pescoço. 

Maicol também disse que enterrou o corpo e queimou as roupas da vítima. Afirmou ainda que não abusou de Vitória e que tirou as roupas dela para o corpo se decompor mais rápido. 

Foto:Reprodução/Instagram-último storys de Vitória no instagram

Mas o depoimento dele tem várias contradições. O corpo da jovem não foi enterrado, e não havia sinais de que isso tivesse acontecido. Além disso, se a facada tivesse sido dentro do carro, como ele contou, haveria muito sangue no veículo — o que não foi encontrado durante os laudos periciais 

Mesmo assim, a perícia encontrou material genético da jovem no banco do passageiro. Também foram achados fios de cabelo e sangue no porta-malas, mas os peritos ainda não confirmaram se são de Vitória. 

Maicol durante depoimento

Uma mensagem suspeita também foi encontrada no celular de Maicol. Além de pesquisas feitas na internet de “como limpar a cena de um crime”, ele mandou uma mensagem dizendo: “Fui filmado, deu ruim”. A polícia ainda não informou a quem essa mensagem foi enviada nem em que contexto. 

O QUE DIZ A DEFESA? 

Maicol não deu novas declarações. Seu advogado chegou a pedir a anulação do depoimento, alegando que o suspeito foi submetido a violência psicológica. A esposa dele também foi ouvida e, no momento do crime, estava dormindo na casa de um parente. A polícia confirmou que ela não possui nenhum tipo de envolvimento. 

PERÍCIA 

Durante as investigações, a polícia chegou a uma casa de Maicol localizada na mesma região onde Vitória morava. O imóvel foi periciado, e vestígios de sangue da jovem foram encontrados em alguns pontos da casa. Uma vizinha contou que, na noite do desaparecimento, ouviu muita movimentação no local. No entanto, não foi possível confirmar se Vitória foi morta nessa casa. Na verdade, até hoje não se sabe exatamente onde ela foi assassinada. 

Foto:Reprodução/Instagram

A polícia também trabalha com a hipótese de que Vitória tenha passado até dois dias em cativeiro. O celular da jovem nunca foi encontrado, e a arma do crime também não. Maicol afirmou que jogou a faca em um rio próximo, mas, mesmo após buscas, nada foi localizado. 

ELE É STALKER? 

Em determinado momento, Maicol chegou a ser chamado de “stalker”, mas seus comportamentos se encaixam mais no perfil de um predador sexual. Um stalker costuma perseguir a vítima de forma obsessiva e constante, se fazendo presente na rotina da pessoa, invadindo sua privacidade e causando medo por longos períodos. No caso de Maicol, não há indícios de que ele era presente na vida de Vitória. Nem a família ou amigas relataram conhecer o suspeito. 

A RECONSTITUIÇÃO DO CRIME 

No dia 24 de abril, foi realizada a reconstituição do crime, mas Maicol se recusou a participar. A família da jovem considerou a reconstituição mal-feita. O advogado que representa os parentes afirmou que a ação não trouxe nenhum esclarecimento relevante para o caso. Até agora, a dinâmica do crime permanece desconhecida. 

Reconstituição do crime-Foto:Reprodução

A OUTRA MULHER ENCONTRADA ANTES DE VITÓRIA 

Uma coincidência trágica também marcou o caso. Dois dias após o desaparecimento de Vitória, o corpo de uma mulher foi encontrado perto da área onde a jovem sumiu. Inicialmente, chegou-se a cogitar que fosse Vitória, mas logo foi confirmado que se tratava de Edna de Oliveira, de 56 anos. Ela havia sido vista pela última vez no mesmo dia do desaparecimento da jovem. 

A polícia chegou a investigar se Edna poderia ter sido assassinada, como uma queima de arquivo, mas o laudo confirmou que ela morreu por causas naturais. O corpo foi achado perto de uma cachoeira que ela costumava frequentar.  

Foto:Reprodução/Edna

Um ponto que chamou atenção é que Edna já havia trabalhado como cuidadora na casa do padrasto de Maicol. Ela também tinha uma ficha criminal extensa, com passagens por tráfico de drogas, posse de entorpecentes, fraude e furto qualificado. Apesar disso, a polícia concluiu que Edna não tem nenhuma relação com o assassinato de Vitória. 

E FACÇÃO CRIMINOSA? 

Após o corpo de Vitória ter sido encontrado, começaram a circular boatos de que o crime teria sido cometido por uma facção criminosa. A suspeita surgiu porque a cena do crime e a forma como ela foi morta supostamente seguiriam um padrão comum nesses casos. No entanto, essa linha de investigação foi descartada. A polícia já confirmou que não há qualquer envolvimento de facções no caso. Além disso, também foram divulgadas — e é importante reforçar, trata-se de Fake News — informações de que a própria Vitória teria alguma ligação com organizações criminosas, o que também foi negado oficialmente. 

Foto:Reprodução/Instagram

MOVIMENTAÇÃO ESTRANHA  

A família de Vitória relata que, nas primeiras semanas após o desaparecimento, ao ligar para o celular da jovem, as chamadas caíam direto na caixa postal. No entanto, dias depois, o telefone passou a chamar normalmente. Além disso, a família percebeu uma movimentação suspeita nas redes sociais da vítima: perfis começaram a ser seguidos e deixados de seguir, e algumas fotos foram apagadas do Instagram. A polícia está investigando essa atividade, mas, até o momento, o celular de Vitória ainda não foi encontrado. 

O VERDADEIRO CULPADO? 

A polícia também investiga o depoimento de uma testemunha que afirmou ter visto o carro de Maicol, com ele e outra pessoa dentro, na noite em que Vitória desapareceu. Até o momento, a polícia não divulgou mais detalhes sobre essa informação. 

Foto:Reprodução/Maicol

Maicol responde pelos crimes de sequestro qualificado, feminicídio, ocultação de cadáver e fraude processual. A polícia acredita que ele esteja diretamente envolvido na morte da jovem. Mesmo assim, ele nega parte das acusações e se recusa a fornecer mais detalhes do crime, apresentando versões contraditórias em seus depoimentos. 

A dúvida que fica é: será que ele evita falar para tentar reduzir as qualificadoras e pegar menos tempo de prisão? Ou está acobertando alguém? Essas são perguntas que ainda permanecem sem resposta. 

OUTROS ENVOLVIDOS? 

A família de Vitória, assim como muitas pessoas que acompanham o caso, acredita que mais pessoas estejam envolvidas no crime. A polícia segue investigando outros possíveis envolvidos. A verdade é que, até agora, restam muitas dúvidas — e Vitória, junto com sua família, merece que todas sejam respondidas. 

Foto:Reprodução/Instagram

Vitoria Regina de Souza completaria 18 anos no dia 13 de abril, ela era torcedora do Corinthians e tinha o sonho de trabalhar com necropsia, era conhecida por ser uma jovem alegre, trabalhadora e muito apegada a sua família.  

Uma vaquinha online está sendo realizada para ajudar a família da Vitória nesse momento de luto. A ideia é dar um apoio financeiro nessa fase das investigações e ajudar na reforma do carro adaptado do pai dela, que tem deficiência motora. 

Se você quiser ajudar, é só acessar esse link:  https://www.vakinha.com.br/vaquinha/por-vitoria-regina-apoie-sua-familia

 

*** As opiniões aqui contidas não expressam a opinião no Grupo Meio.
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