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Luany Sousa

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Ed Gein: conheça a mente por trás dos crimes que inspiraram filmes de terror

A história de Ed Gein inspirou diversos filmes de terror clássicos. Personagens como Norman Bates, Leatherface e Buffalo Bill têm ecos dos crimes e da psicologia dele. Seu caso se tornou referência cultural sobre como o crime real pode alimentar o imaginário do horror

Ed Gein e a inspiração do terror | Foto: Reprodução/Instagram

Nesta semana a Netflix lançou Monster: The Ed Gein Story, nova temporada da antologia que revisita crimes reais e como eles viraram lenda. É um bom gancho para voltar ao que realmente aconteceu em Plainfield, Wisconsin, separar fato de boato, entender a infância, a investigação e o que ficou como legado cultural. Vou te contar tudo com calma, sem sensacionalismo, apenas a pura essência da crueldade de Ed Gein, o assassino lendário que inspirou os filmes de terror, por que "antes do terror existir no cinema, ele morava em uma fazenda em Wisconsin". 

O homem e a fazenda isolada

Edward Theodore Gein nasceu em 27 de agosto de 1906, em La Crosse, Wisconsin. Filho de um pai alcoólatra e de Augusta Gein, uma mulher profundamente religiosa e controladora, Ed cresceu numa fazenda isolada onde a mãe ditava regras rígidas sobre pecado, moralidade e o papel das mulheres. A influência dela, e a falta de contato social, são elementos recorrentes em relatos sobre a formação psicológica de Gein.

Foto: ReproduçãoAugusta tentava proteger os filhos “do mundo”, e isso incluiu retirar da família qualquer experiência que fosse considerada imoral. Esse ambiente contribuiu para um vínculo exagerado entre mãe e filho; relatos da época e análises posteriores destacam que, quando a mãe morreu em 1945, Ed entrou num processo de retraimento e alteração comportamental.

Mortes, suspeitas e isolamento

A família sofreu várias tragédias: o pai morreu quando Ed ainda era jovem; o irmão mais velho, Henry, morreu em circunstâncias que foram oficialmente registradas como acidente (incêndio), mas que muitos especularam ao longo dos anos, que teria sido Ed o responsável pela morte do irmão. Ed passou a viver praticamente sozinho na propriedade da família, cuidando da casa e trabalhando na comunidade local, mas também começando a manifestar sinais de comportamento bizarro e recolhimento.

Em novembro de 1957, a polícia encontrou o corpo de Bernice Worden, dona de uma mercearia local, desaparecida desde meados de novembro. A investigação levou os policiais até a casa e propriedade de Gein, e o que eles encontraram mudou para sempre a imagem pública do crime nos EUA. No local havia restos exumados de corpos roubados de cemitérios, crânios, peles humanas transformadas em objetos (como máscaras e “roupas”), e pertences que indicavam desmembramento e profanação de sepulturas. Gein confessou ter desenterrado cadáveres de mulheres e afirmava ter usado partes para fabricar itens; ele também confessou dois homicídios, entre eles o de Bernice.

Foto: Reprodução

É importante separar o que se comprovou das lendas: alguns relatos que circularam nos jornais da época, e que viraram material para filmes e histórias, exageraram detalhes (como canibalismo ou práticas necrofílicas em larga escala). As investigações oficiais e depoimentos mostram comportamentos macabros e bizarros, mas nem sempre todas as versões sensacionalistas foram confirmadas. Ainda assim, o tamanho do achado e a natureza das peças encontradas chocaram a opinião pública, até hoje.

Julgamento, sanidade e destino

Em 1968 Gein foi considerado “culpado, mas não criminalmente responsável” por homicídio, ou seja, declarou-se sua insanidade e o tribunal decidiu por internação em hospital psiquiátrico em vez de prisão comum. Antes disso, ele havia passado por julgamentos e avaliações psicológicas que apontaram para transtornos mentais graves; ao longo das décadas seguintes ele ficou internado, com liberações temporárias negadas até sua morte, em 26 de julho de 1984.

As conclusões médicas ao longo do processo ressaltaram um quadro complexo: diagnóstico de psicoses e outros transtornos que, na avaliação da época, o tornavam incapaz de responder penalmente como um réu comum. Isso alimentou debates sobre responsabilidade, tratamento e o papel da sociedade em lidar com pessoas mentalmente doentes que cometem crimes graves.

Quem eram as vítimas

Oficialmente, Gein confessou dois homicídios: Mary Hogan (uma mulher desaparecida em 1954, encontrada posteriormente ligada ao caso) e Bernice Worden (1957), cujo corpo foi o que levou diretamente à descoberta da cena na fazenda.

Foto: Reprodução/Objetos de Gein

A investigação em Plainfield foi minuciosa para padrões da época: perícia no local, entrevistas com vizinhos, exame dos objetos recolhidos e reconstrução do que havia sido feito com os corpos e com os itens roubados do cemitério. O caso tornou-se também emblemático por demonstrar limites das técnicas forenses daquela época e ao mesmo tempo por provocar reformas no modo como crimes macabros eram documentados e divulgados. 

Durante a investigação na fazenda de Gein, a polícia encontrou objetos macabros confeccionados com partes humanas, que revelavam a profundidade de seu comportamento perturbador. Entre eles havia máscaras feitas de pele, móveis revestidos com pele humana, roupas femininas confeccionadas com pele de cadáveres e até utensílios domésticos como tigelas e luvas. Ed também armazenava ossos e crânios que retirava de cemitérios locais, usando-os para criar lembranças ou decorações sinistras.

Como a história virou mito e influenciou o cinema

O conteúdo encontrado na fazenda de Gein inspirou diretamente, e indiretamente, personagens e roteiros que mudaram o cinema de horror. Alfred Hitchcock usou elementos no personagem Norman Bates (Psycho), The Texas Chainsaw Massacre bebeu do imaginário de Gein para criar Leatherface, e até Buffalo Bill (The Silence of the Lambs) contém ecos da história de Gein. Essa influência não converte causas em fatos: roteiristas e diretores pegaram fragmentos e os transformaram, criando mitos que hoje são tão conhecidos quanto a própria história real.

Foto: Reprodução/Casa de Gein

Monster: The Ed Gein Story estreou nesta semana, todos os episódios foram lançados simultaneamente em 3 de outubro de 2025, como parte da antologia que já tratou de outros casos famosos. A temporada é protagonizada por Charlie Hunnam e busca, segundo os criadores, “aproximar o público do ser humano por trás dos atos”, sem, dizem, glamourizar os crimes. Essa nova releitura reacende debates: até que ponto a mídia pode dramatizar tragédias reais sem revitimizar quem sofreu, e sem transformar crimes em entretenimento? (Desafio principal dessa colunista de true crime)

O que a pesquisa histórica e a psicologia dizem hoje

Estudos e matérias de especialistas mostram que a trajetória de Gein é complexa: mistura de trauma familiar, isolamento social, predisposições psíquicas e acesso a imagens e narrativas que, naquele contexto, foram reinterpretadas pelo indivíduo de maneira patológica. Pesquisadores alertam para a simplificação que transforma tudo em “monstro” e esquecem o panorama social e psiquiátrico que também merece análise. Ainda assim, nada disso anula o horror dos atos praticados nem a dor das famílias.

Foto: ReproduçãoOs estudos sobre Ed Gein apontam que ele apresentava transtornos mentais graves, incluindo sinais de psicose, condição em que a pessoa perde contato com a realidade, desenvolvendo delírios e comportamentos desorganizados. Além disso, a relação conturbada e extremamente dependente com a mãe levou especialistas a analisarem o caso sob a lente do complexo de Édipo, termo da psicanálise que descreve sentimentos de possessividade e conflito com figuras parentais. No caso de Gein, essa ligação exacerbada contribuiu para a dificuldade em estabelecer vínculos normais com outras mulheres e influenciou os padrões bizarros e violentos de seus crimes, incluindo a apropriação de corpos e a criação de “objetos” com partes humanas. 

*** As opiniões aqui contidas não expressam a opinião no Grupo Meio.
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