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Wicked: Parte 2 entrega um roteiro raso e cansativo com musical fraco

A principal falha de Wicked: For Good vem da própria origem, o segundo ato do musical

Wicked: For Good | Divulgação: Universal Pictures

Texto por Francisco Clarin

Após apresentar o universo de Oz com visuais incrivéis, um roteiro bem amarrado e performances musicais com maestria, o primeiro filme de Wicked entregou uma das maiores experiências cinematográficas de 2024. Entretanto, quem entrar na sala de cinema esperando uma sequência tão grandiosa quanto o primeiro filme pode acabar se decepcionando.

No primeiro longa, acompanhamos o início de uma amizade improvável que nasce do conflito: Glinda e Elphaba, duas jovens completamente diferentes, unidas pela convivência na escola de magia. Enquanto Elphaba cresce enfrentando rejeição por conta de sua pele verde e de seus poderes incontroláveis desde a infância, Glinda é adorada por todos, mesmo sem apresentar nenhum dom mágico extraordinário.

Após descobrir que o grande Mágico de Oz não passa de um farsante, um homem comum que manipula o povo e maltrata os animais com a ajuda de Madame Morrible, Elphaba decide partir em uma jornada para expor a verdade. É nesse momento que ela passa a ser vista como inimiga do reino, carregando o título de “bruxa má”, enquanto Glinda vive em meio aos holofotes, recebendo fama e glória. A missão pela captura de Elphaba, acaba envolvendo Fiyero, a quem ela e Glinda nutrem sentimentos. E nessa saga em capturá-la que surgem outras subtramas.

O primeiro filme, consegue nos apresentar o universo de Oz com perfeição, a história de cada personagem, seus objetivos, seus afetos e a trama principal. Em Food Good, vemos várias questões abertas tentando ser explicadas: o triângulo amoroso envolvendo Elphaba, Glinda e Fiyero; Nessa como a nova governadora e sua relação complicada com Elphaba após a morte do pai; A chegada de Dorothy ao universo e muito mais. São muitas problemáticas apresentadas, e algumas são "solucionadas" de forma muito rasa e apressadas. Para um filme de 2h e 18 min, o público espera algo melhor em termo de roteiro, do que foi apresentado nos cinemas.

A FALTA DE APROFUNDAMENTO (CONTÉM SPOILER)

O objetivo desta adaptação nunca foi dar destaque a Dorothy, a proposta sempre foi contar a história de Elphaba e Glinda. No entanto, senti falta da personagem em um dos momentos mais importantes da trama: a “morte” de Elphaba. A cena é resolvida de forma apressada e preguiçosa, mostrada apenas através das silhuetas das personagens. Um momento que poderia ter carregado peso emocional e impacto dramático acaba passando quase despercebido.

O mesmo acontece com outros personagens ligados ao Mágico: o Leão Medroso e o Espantalho sem Cérebro têm participações superficiais, quase simbólicas. A única exceção é o Homem de Lata, cuja origem é apresentada de forma mais interessante. Descobrimos sua ligação com Boq, que é apaixonado por Glinda. Mas está sendo servo de Nessa, que ao descobrir sua verdadeira paixão, ela rapidamente age. Movida pela manipulação e pelo desejo de manter Boq ao seu lado, Nessa lança um feitiço para “roubar” seu coração, mas a magia sai do controle, resultando na transformação.

A morte de Nessa, irmã de Elphaba, é outro momento que merecia muito mais atenção. A cena tinha potencial para entregar a carga emocional perfeita para que Elphaba explodisse em dor e assumisse, de vez, o manto de “Bruxa Má”. Seria o ponto de virada ideal. Mas, mais uma vez, o clímax é interrompido antes de acontecer, desperdiçando a força dramática que esse momento poderia e deveria ter tido pela atuação de Cynthia Erivo.

O filme segue com um ótimo visual: fotografia, direção de arte e figurino permanecem impecáveis, preservando o alto nível apresentado na primeira parte. O ponto que mais me incomodou, está nas músicas. Nem todas que foram apresentadas nessa sequência entregam o impacto necessário, especialmente diante da "carga dramática" que o filme tenta construir.

A principal falha de Wicked: For Good vem da própria origem, o segundo ato do musical. Nesta parte da história, tudo acontece de forma rápida e pouco fluida. Não há cenas ou músicas realmente marcantes, apenas vários enredos mal desenvolvidos, sem o mesmo cuidado e impacto do início.

PONTOS POSITIVOS

Ariana Grande como Glinda em Wicked: For Good

Mas For Good também tem seus pontos altos. Diferente do primeiro ato, aqui Glinda ganha mais espaço e profundidade. A personagem se revela verdadeiramente complexa, dividida entre o afeto por Elphaba e a pressão do Mágico, que deseja capturar a bruxa antes que a verdade venha à tona. Assim, Glinda tenta convencer a amiga a se aliar ao poder, numa tentativa de proteger seus próprios privilégios. Ariana Grande entrega uma Glinda multifacetada, que transita com naturalidade entre o drama e o humor, oferecendo momentos de leveza e alívio cômico sem perder o brilho da personagem.

Cynthia Erivo como Elphaba em Wicked: For Good

Cynthia é, sem dúvida, um dos maiores acertos do filme. Como já destaquei na primeira crítica, ela rouba a cena ao construir uma Elphaba que equilibra vulnerabilidade e força, elementos essenciais para uma personagem tantas vezes incompreendida e marginalizada. Sua técnica vocal impecável se une a uma interpretação profundamente emocional, capaz de transmitir o sofrimento interno de Elphaba, sua luta contra o preconceito e o desejo genuíno de encontrar seu lugar no mundo. Cynthia entrega originalidade a uma figura já eternizada por Idina Menzel, honrando o legado sem imitá-lo.

UMA ADAPTAÇÃO QUE MERECIA MAIS

Por fim, eu esperava mais ousadia por parte da direção e do roteiro. Mesmo que a adaptação buscasse fidelidade ao musical, a versão cinematográfica merecia ir além, especialmente depois de nos apresentar um universo visual tão lindo e personagens tão carismáticos. A história tinha potência, mas não foi bem construída. Ainda assim, o talento das protagonistas se destaca: Ariana Grande deixa sua marca como Glinda, enquanto Cynthia Erivo entrega uma Elphaba poderosa e emocionante, honrando o legado da Broadway.

Wicked: For Good está disponível nos cinemas. Veja o trailer abaixo:

*** As opiniões aqui contidas não expressam a opinião no Grupo Meio.
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