Texto por Francisco Clarin
Quatro anos após o primeiro filme, “O Telefone Preto 2” chegou aos cinemas no último dia (16). A sequência traz uma mudança clara de perspectiva: enquanto o original se apoiava mais no suspense psicológico, o novo capítulo mergulha de vez no terror sobrenatural, com uma atmosfera ainda mais sombria e perturbadora.
Dirigido e roteirizado novamente por Scott Derrickson e C. Robert Cargill, o longa mantém a proposta que marcou o primeiro filme, não se apoiar em sustos, mas o suspense e terror psicológico. E nessa sequência, construiram o medo através da tensão e da memória do trauma. Dessa vez, a narrativa busca ser mais ambiciosa e emocional, surpreendendo pelo desenvolvimento do roteiro, ainda que nem sempre entregue o impacto esperado nas cenas de terror.
Agora com 17 anos, Finney Blake (Mason Thames) tenta lidar com os traumas deixados pelo sequestro que sofreu aos 13. O cigarro na mão e a insônia são dois amigos frequentes nas noites, enquanto ele encara a casa que marcou seu passado, revivendo os fantasmas, reais e simbólicos deixados pelo Sequestrador.
Investindo em um thriller sobrenatural, a produção aposta em um novo cenário para expandir essa história. A sequência deixa o ambiente urbano do primeiro filme e se desloca para um acampamento isolado em Alpine Lake, onde o medo ganha novas formas.
O frio intenso e a paisagem coberta de neve funcionam como reflexo do estado emocional dos personagens. Um espaço gelado, silencioso e opressivo. O uso de filmagens no estilo Super 8, a textura granulada, o cenário nevado, tudo isso gera uma atmosfera bem trabalhada. O diretor brinca com o horror à moda antiga, fazendo homenagens ao terror dos anos 80.
No primeiro filme, Finney foi o grande protagonista. Já nessa sequência sua irmã Gwen quem assume o papel central, uma mudança surpreendente e bem construída, porque os trailers não revelavam essa virada.
Com o desenrolar da história, a escolha faz total sentido, reforçando a importância emocional e espiritual da personagem dentro do enredo, principalmente por causa de seus poderes e visões sobrenaturais (herdados por sua mãe), que já vinham sendo explorados desde o primeiro filme. É uma decisão inteligente para uma sequência, que consegue amarrar as pontas soltas do primeiro filme e oferecer explicações coerentes e satisfatórias.
Em busca de respostas sobre o passado da mãe após visões sobrenatuais, Gwen e Finney seguem para o acampamento, onde descobrem que o local também está ligado ao Sequestrador. O mesmo lugar onde suas primeiras vítimas desapareceram. É ali que se revela o motivo de sua alma permanecer aprisionada.
Os dois irmãos encaram o trauma de maneiras opostas. Gwen acredita que a única forma de encerrar o ciclo do Sequestrador é compreender seus sonhos e ajudar as almas das crianças que lhe pedem socorro, buscando, assim, a paz que elas nunca tiveram. Já Finney vive em negação, tenta lidar com tudo sozinho, afastando-se de todos e se anestesiando com entorpecentes.
No geral, o plot twist é bem construído e surpreendente, amarrando os elementos da narrativa de forma coerente. Oferecendo uma experiência bem diferente do primeiro longa e demonstrando a criatividade dos roteiristas. Raramente vemos uma sequência de terror entregar algo desse nível, uma continuação mais madura, intensa e visualmente marcante.
No entanto, a direção deixa a desejar em alguns momentos: cenas exageradas acabam quebrando o clima e o conceito construído pelo roteiro, mas não anula o resultado final. Vale ressaltar que quem espera um filme repleto de sustos pode se decepcionar. Desde o primeiro longa, essa nunca foi a proposta da trama.