Muitas vezes a ficção é muito mais interessante do que a realidade, e um bom exemplo disso é a história sobre a sinistra “Bíblia do Diabo”. Reza a lenda que no século XIII, na região que hoje corresponde à República Tcheca, um monge foi condenado à morte por cometer uma grave infração contra as regras do mosteiro no qual vivia. Mais precisamente, o sacerdote seria emparedado vivo em um quarto. As informações são do Mega Curioso.
Para escapar da condenação, o monge decidiu fazer um trato com seus superiores, propondo que o seu crime fosse perdoado em troca de que ele produzisse uma cópia da bíblia — e de diversos outros escritos — à mão em apenas uma noite. Tal façanha seria muito, muito difícil de conseguir nos dias de hoje, com toda a tecnologia disponível, então, imagine só no século XIII, quando tudo era feito à luz de velas e com o uso de tinta, penas e pergaminhos.
A lenda
Os superiores concordaram, pois, se o monge não cumprisse com o acordado — o que era óbvio —, ele seria sentenciado. Porém, se produzisse o material prometido em tão pouco tempo, isso seria um milagre que, por sua vez, atrairia milhares de peregrinos (e muito dinheiro) para o mosteiro. No entanto, o monge logo percebeu que jamais conseguiria terminar a tarefa à qual se havia proposto, decidindo fazer o impensável: um pacto com o diabo.
Reprodução/National Library of Sweden
Pelos seus serviços, o príncipe das trevas não só pediu a alma do monge em troca do livro, senão que exigiu que um assustador e enorme retrato seu fosse incluído na obra. No dia seguinte, conforme prometido, o livro estava pronto. O sacerdote foi perdoado e o volume ficou conhecido como “Codex Gigas” — de “Livro Gigante” — ou A Bíblia do Diabo.
O códice possui mais de 90 cm de altura por mais de 50 de largura, além de medir mais de 20 cm de espessura e de pesar perto de 75 quilos. Trata-se do maior manuscrito medieval de que se tem notícia, e suas páginas são feitas de pele de vitelo e de asno. A bíblia, além do famoso retrato do maligno, também contém o novo e o velho testamento, assim como um calendário, textos médicos e uma antiga enciclopédia. No entanto, várias páginas desapareceram.
Reprodução/National Library of Sweden
Há quem acredite que os textos faltando continham informações sinistras demais para serem lidas, e por isso foram removidos. Além disso, durante os seus vários séculos de existência, o Codex Gigas mudou de mãos várias vezes, e até sobreviveu — com alguns danos irreparáveis — a um incêndio, o que também poderia explicar o desaparecimento de algumas de suas páginas.
Segundo os especialistas, o livro realmente parece ter sido escrito por uma única pessoa, mas em vez de ser produzido em apenas uma noite, o habilidoso escriba deve ter levado mais de 20 anos para concluir o trabalho. Além diincsso, uma pequena dedicatória — “Hermanus Inclusus” ou “Herman, o recluso” ou ainda “Herman, o enclausurado” —, ao final do manuscrito também dá algumas pistas sobre a suposta condenação do monge.
Assim, o mais provável é que o sacerdote realmente tenha sido condenado (ou se condenado) à clausura — e não a ser emparedado — por toda a vida, para se dedicar integralmente à produção do códice. Hoje a Bíblia do Diabo se encontra preservada na Biblioteca Nacional da Suécia, em Estocolmo.
Reprodução/National Library of Sweden