Após ser roubada e comover a web com sua história, a jovem de 19 anos que vende doces para custear os estudos recebeu ajuda de pessoas que, apesar de não conhecê-la, se mobilizaram para ajudá-la com a doação de vários ingredientes. Em entrevista nesta sexta-feira (19), Ana Claudia Alves, moradora de Praia Grande, no litoral de São Paulo, contou que se surpreendeu com as atitudes.
"Criaram um grupo para me ajudar. Eu gostei bastante porque nós vemos o lado bom das pessoas. São pessoas que eu nem conhecia", diz. Leite condensado, cacau solúvel, granulado e coco ralado foram alguns dos produtos doados para que a garota voltasse a produzir seus produtos e continuasse ganhando o dinheiro para custear os estudos.
A estudante comentou que a situação entristeceu sua avó, com quem ela mora, mas o retorno das pessoas que se comoveram com a história superou o episódio. "Ela ficou bem arrasada porque ela vê que eu só vendo doces para pagar o meu curso. E com tudo de bom que está acontecendo ela está bem feliz", diz.
Celular e doces roubados
O crime ocorreu na segunda-feira (15), no bairro Guilhermina. Ana Claudia estava em frente a uma lanchonete na Avenida Presidente Kennedy quando um homem de bicicleta puxou de suas mãos o celular e um pote com brigadeiros.
No momento em que foi roubada, a estudante estava mandando uma mensagem para que sua tia pudesse buscá-la. Ela tinha acabado de vender alguns doces e o intuito era pegar uma carona até sua casa para economizar o dinheiro da passagem de ônibus.
"Na hora eu saí correndo. Eu estava chorando e gritando, dizendo que ele roubou o meu celular. Eu fico muito chateada. Por que eles roubam pobres? Ele teve a capacidade de roubar os meus doces e o meu celular", lamenta.
Desempregada, a estudante sonha em ser atriz desde a infância. A venda de doces foi a maneira que encontrou para custear os estudos no curso de Artes Cênicas. Cada brigadeiro custa R$ 2. Sua meta é vender ao menos 20 unidades por dia para garantir R$ 800 no fim do mês. "Eu estou procurando emprego. Como não achei algo fixo, tive que me virar".
A jovem cozinha desde os 10 anos e foi essa experiência que a motivou a preparar receitas para vender na rua. Bolo, torta, brigadeiro e até ovo de colher estão entre as especialidades que ela aprendeu a fazer trocando ideias com a madrasta, que é doceira, e com a ajuda de vídeos na internet.
Publicação nas redes sociais
Triste com o que ocorreu, Simoni Maria, tia de Ana Claudia, publicou uma mensagem nas redes sociais. "Sinto mais pena de você do que dela, nesse momento, porque ela está no caminho certo e você no caminho errado. Que se arrependa desses atos enquanto é tempo", disse, em referência ao homem que roubou a sobrinha.
"Ela é muito esforçada e fiquei muito triste com o acontecido. Chorei quando fiquei sabendo. Por isso fiz o desabafo na rede. Ela merece", afirma Simoni. Sensibilizadas com a situação, algumas pessoas se comprometeram a doar um celular e ingredientes para Ana Claudia fazer os doces. "Ainda não estou acreditando. Fiquei lendo aquelas coisas e me emocionei", comenta a jovem.
‘Sonhar grande’
Ana Claudia é natural de Vila Velha, no Espírito Santo, e se mudou para o litoral paulista aos nove anos. Antes disso, ela morou com uma tia no interior de São Paulo, após ser abusada pelo avô materno aos seis anos. Ela também chegou a viver um período na capital e, atualmente, mora com a avó em Praia Grande.
"Eu trabalho desde os 14 anos. Sempre quis ser independente. Eu pedia para a minha avó arrumar emprego para mim", conta. Ela chegou a trabalhar como atendente de telemarketing e vendedora de roupas, até que, em novembro de 2018, decidiu se dedicar à preparação de doces e salgados. "Eu vejo tanta gente falando que não consegue, não pode. Acho que tendo perna e braço a pessoa pode correr atrás do sonho".
Para garantir uma renda extra, Ana Claudia também faz curso de cabeleireiro. Mas o que ela quer mesmo é ganhar a vida como atriz. "No futuro eu penso em trabalhar em TV, novela ou até filme. A gente tem que sonhar grande", diz a jovem, que começou a fazer teatro aos sete anos.