Algumas tendências são, no mínimo, intrigantes. Mesmo com a eventual repulsa, a ideia de que algumas pessoas estão criando sanguessugas de estimação também é fascinante. "Elas são incríveis, criaturas curiosas que crescem como loucas e são animais de estimação maravilhosos", disse Ariane Khomjani ao ScienceAlert. De acordo com ela, as sanguessugas têm suas próprias personalidades singulares e algumas são mais aventureiras do que as outras. "Certas sanguessugas gostam de roubar ração com mais frequência. Mas, uma vez cheias, ficam contentes em descansar fora da água, se forem manuseadas com cuidado", disse. Khomjani tem quatro desses vampiros simpáticos, incluindo Leara. A espécie que mantém é uma das maiores: Hirudinaria manillensis, da Ásia. Com informações do Fatos Desconhecidos.
Existem mais de 600 espécies em todo o mundo, mas nem todas são literalmente "sanguessugas". Pharyngobdellida engole toda a sua presa invertebrada, enquanto outras espécies são detritívoros. Ou seja, comem detritos orgânicos. Esses sanguessugas podem ter até oito pares de ocelos (manchas oculares), que usam para detectar as sombras de possíveis presas.
Seus fragmentos cerebrais estão espalhados por 32 segmentos. Embora sejam hermafroditas, ainda precisam de um parceiro para se reproduzir. Se uma sanguessuga parasita estiver com fome e sentir o calor do seu corpo ou o CO2 de sua respiração, ela pode se aproximar usando sua boca e segmentos traseiros.
A sanguessuga pode injetar a sua saliva, que contém compostos anestésicos e anti-coagulantes, antes de morder as mandíbulas serrilhadas de duas ou três pontas. "Uma vez que elas se alimentam, você nem sente, mesmo com as grandes sanguessugas", explicou Khomjani. Elas podem ficar até um ano sem alimentação, mas os vendedores de sanguessugas recomendam alimentar as espécies maiores a cada 3-6 meses.
É claro que tudo deve ser feito sob orientação médica. Algumas pessoas são alérgicas à saliva da sanguessuga e há sempre o risco de contrair uma infecção. Khomjani disse que a maioria das feridas se curam sem deixar marcas, devido aos anticoagulantes na saliva da sanguessuga. Entretanto, pode levar vários dias para que o sangramento cesse. "As sanguessugas estão ligadas à cultura humana, especialmente na Europa, há séculos", disse o parasitologista Mackenzie Kwak, da Universidade Nacional de Cingapura.
Sanguessugas são mantidas para fins médicos por cerca de 3.000 anos. Durante a era vitoriana (no século XIX), elas eram recomendadas para tratar de basicamente tudo, de dores de cabeça à ninfomania. Essa obsessão fez com que farmácias rivais batalhassem para produzir jarras de sanguessuga cada vez mais elaboradas. O exagero no uso trouxe prejuízos para as populações de sanguessugas medicinais e tiveram que ser protegidas na Eurásia.
Hoje, as sanguessugas ainda são mantidas para uso medicinal em todo o mundo. Essas práticas são aprovadas pela Food and Drug Administration (FDA) dos EUA como "dispositivos médicos". "As sanguessugas são usadas no pós-operatório em pacientes que tiveram recolocação de dedos ou cirurgia de músculo ou retalho", disse a enfermeira Julie Smolders para a ScienceAlert. Ela é do Distrito de Saúde Local de South Western Sydney. "As sanguessugas são aplicadas no local e sugam o sangue congestionado. Assim, é possível que o fluxo sanguíneo mantenha o local cirúrgico viável".
Algumas pessoas estão criando sanguessugas de estimação. Se você quiser fazer o mesmo, mas não tem interesse em se oferecer como uma refeição... não tem problema. Existem outras alternativas ligadas à alimentação como fígado cru ou sangue aquecido. "Desde que o sangue [seja] fresco e não tratado com nenhum conservante ou qualquer coisa assim, eu poderia ver esse tipo de coisa potencialmente funcionando", disse Kwak ao ScienceAlert.
Afinal, parasitologistas e entomologistas médicos têm usado técnicas semelhantes para manter parasitas em laboratórios há décadas. O estudioso acredita que "sanguessugas de estimação são uma maneira maravilhosa de aprender sobre parasitas. E, em um nível mais amplo, apreciar o quão intrincado e bizarro o mundo natural pode ser".