Há muito tempo, cientistas e aventureiros tentam desvendar se a desgraça de Sodoma e Gomorra relatada na Bíblia realmente aconteceu.
Um estudo mais recente sugere que Sodoma ficaria na Jordânia e seria Tell el-Hammam, hoje um sítio arqueológico no Vale do Jordão, próximo ao Mar Morto. O arqueólogo Christopher R. Moore descreve a calamidade em um artigo no site "The Conversation".
Como teria acontecido
Um dia qualquer, 3,6 mil anos atrás, um asteroide se dirigia à Terra a 61 mil quilômetros por hora. Ao entrar na atmosfera, explodiu e formou uma enorme bola de fogo a 4 mil metros de altitude. O calor estava de matar, e a explosão foi mil vezes mais poderosa do que a Little Boy, que destruiu Hiroshima. Quem olhou para ela ficou cego na hora.
A temperatura subiu rapidamente para 2 mil graus celsius, o que significa que tudo que fosse de madeira e tecido pegou fogo na hora e que utensílios de metal e cerâmica começaram a derreter. Quase que imediatamente a cidade inteira estava em chamas.
Em segundos, uma onda de choque a atingiu a 1.200 quilômetros por hora, demolindo tudo que ainda estava de pé. Nenhum dos 8 mil habitantes humanos e nenhum dos outros animais sobreviveu. Os corpos foram fragmentados em pedacinhos. Um minuto depois, os ventos atingiram Jericó, derrubando seus muros e ateando fogo à cidade.
Grupo de estudo que levou anos
O cientista explica que, para chegar a essas conclusões, foram necessários 15 anos de trabalho de centenas de pessoas e análises de materiais feitas por cientistas na América do Norte e na Europa. Entre os 21 coautores do estudo, que saiu na "Scientific Reports", publicação ligada à prestigiada "Nature", estão arqueólogos, geólogos, mineralogistas, paleobotânicos, geoquímicos e outros especialistas.
O artigo também cita que o asteroide que devastou Tell el-Hammam seria uma versão muito menor do que causou a extinção dos dinossauros. Artefatos de cerâmica e barro se liquefizeram a 1.500ºC, o que é quente o suficiente para derreter um carro inteiro em minutos.
A cidade e outros 100 assentamentos na região foram abandonados por muitos séculos após o desastre. Os cientistas sugerem que os altos níveis de sal depositados impediram qualquer tentativa de cultivo da terra. A explosão pode ter espalhado a água do Mar Morto — que tem esse nome justamente por causa da salinidade tóxica da água — por todo o vale.
Sem ter o que plantar e colher, a sobrevivência na região se tornou impossível por cerca de 600 anos. A situação só melhoraria quando as raras chuvas limpassem o terreno. Mas essa hipótese não foi tão bem aceita.
Chuva de críticas
Desde que o artigo foi publicado, no ano passado, ele recebeu uma enxurrada de críticas de colegas. Os críticos explicaram que eles manipularam imagens, o que forçou a publicação de uma errata da parte dos autores. Um artigo na mesma "Scientific Reports" foi publicada com o título "Nenhuma evidência mineralógica ou geoquímica de impacto em Tell el-Hammam".
Outros chamaram o estudo de pseudociência e o texto que o divulgou, de caça-clique. Disseram ainda que associar Tell el-Hammam a Sodoma poderia levar a episódios de saque e destruição de um importante sítio arqueológico. Tell el-Hammam já tinha ocupação humana no Calcolítico, há cerca de 6 mil anos. Na Idade do Bronze, em 1800 a.C., era uma importante cidade murada. Já no período da dominação romana, quando a região foi anexada à província da Síria no século 2º d.C., Tell el-Hammam fazia parte da cidade de Livias. Em 2007, uma terma romana foi descoberta no local.
Ou seja, é um lugar de respeito para a arqueologia. Por isso, associá-lo a Sodoma, supostamente sem provas convincentes, pode ser visto como uma temeridade. Ainda mais que as ruínas ficam em uma cidade que já tem seu turismo religioso: Shuna do Sul (ou Ash-Shunah al-Janubiyah) preserva o ponto onde se acredita que João batizou Jesus, no rio Jordão.
Potencial turístico
Em 2007, Steven Collins, líder das escavações, que já afirmou que seu objetivo principal é confirmar que Tell el-Hammam é Sodoma (o que enviesaria toda a linha de pesquisa, segundo seus críticos), deu uma entrevista ao jornal "Washington Post". Nela, ele afirma que um dia a cidade "será um grande destino turístico, talvez com um grande sinal em rosa neon dizendo: 'Bem-vindos a Sodoma'".
O governo da Jordânia é parceiro da empreitada. O país tem ruínas riquíssimas para vender aos turistas. Mas, por enquanto, as "cidades do pecado" não estão entre elas.
Com informações de Nossa